“A importância do projeto da restauração é incontestável. Ele é a nossa Torre Eiffel” Daniele Saucedo, historiadora da PUC (Crédito:Divulgação)

Considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno, o Cristo Redentor é um símbolo do Brasil. O monumento completa 90 anos em outubro e arquitetos e engenheiros, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), já deram início a um complexo processo de restauração. A técnica inclui um sofisticado sistema de modelagem digital que, por meio de drones, capta 180 milhões de imagens em apenas 45 minutos, além de fazer a análise em 3D do material. Desgastada pelo tempo e as condições climáticas, a estátua de 38 metros de altura e três toneladas é o maior ponto turístico do Rio de Janeiro e atrai anualmente mais de 600 mil visitantes de todo o mundo.

 

90 ANOS A obra durou cinco anos e foi inaugurada em 12 de outubro de 1931, dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil (Crédito:Divulgação)

Erguida no morro do Corcovado, que em latim significa “coração, para onde vou?” (Cor Quo Vado), a construção começou em 1926 e demorou cinco anos para ficar pronta. A inauguração aconteceu em 12 de outubro de 1931, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Com a popularidade do catolicismo em alta, o monumento foi pensado para propagar a fé no País. Segundo especialistas, a ideia inicial do arquiteto Heitor da Silva Costa, autor do projeto, era um Cristo segurando uma cruz na mão direita e o globo terrestre na esquerda. Uma pesquisa revelou que os cariocas consideraram o simbolismo confuso. Além disso, de longe os detalhes da obra não seriam vistos. Foi feita a opção então pelo Cristo de braços abertos, imagem que o mostrava como uma figura acolhedora. “A simbologia vai muito além da arte da obra em si. A importância do projeto de restauração é incontestável. Ele é a nossa Torre Eiffel”, afirma Daniele Saucedo, professora de História da PUC-PR. “Não importa se é um cidadão carioca ou não, todos se identificam com ele.”

Além da parte externa, a “cirurgia plástica” vai tratar também o interior da estátua, composta de dez andares, vigas de concreto e escadas. Os elementos que compõem o Redentor foram lapidados por artesãs mulheres e são feitos de pedaços triangulares de pedra-sabão, material comum nos anos 1920. Só é possível identificá-los bem de perto, assim como o coração de dois metros de comprimento que guarda, em sua área interna, os nomes das famílias dos trabalhadores que ajudaram a erguê-lo.

Cultura

A ideia de construir uma grande estátua no Brasil foi inspirada na França, local onde foram fabricadas partes do monumento. Ao todo, a cabeça é composta por 50 peças; as mãos, que trazem em detalhes as marcas da crucificação, foram feitas com oito pedaços. Hoje os arquitetos têm dificuldade de encontrar peças e materiais semelhantes aos da obra original. Ao contrário do que muitos pensam, ela não foi um presente da França: quem pagou pela construção foi a própria população, por meio de doações e impostos.

A revitalização prevê o reparo geral do monumento, sobretudo dos braços e da cabeça, regiões frequentemente atingidas por raios. As leituras feitas pelos drones indicam que a estrutura perdeu a capacidade de reter umidade e está, portanto, sem defesa contra a erosão e as infiltrações. Para uma obra erguida em um lugar tão alto, no entanto, o Cristo tem resistido surpreendentemente bem. Questionada sobre o valor histórico do monumento, a historiadora Daniele Saucedo faz uma analogia com outras grandes capitais mundiais. A Estátua da Liberdade foi erguida em Nova York como presente dos franceses. Construída em 1886 para celebrar o centenário da Independência dos Estados Unidos e a amizade entre os países, a obra despertou o apreço dos norte-americanos pela arte. No Brasil, não existe a prática de respeitar os monumentos. “As crianças de escolas públicas não têm disciplinas que valorizam nosso patrimônio histórico”, critica Daniele. “Isso mudaria tudo.”