Jurandir é daqueles petistas clássicos, sabe como é?

Broche de estrelinha no casaco de jeans, que ele tem desde a década de 1980. A estrelinha e o casaco.

A barba mantém sempre aparada no mesmo comprimento que a do Lula, apenas de farra.

Quando acusam o ex-presidente de corrupto, Jurandir responde: “Os fins justificam os meios, caceta! Senão nada vai mudar, nunca!”

Dilma foi golpe. Sobre isso não se discute mais, no bar, na fábrica ou em casa.

Jurandir mora em Santo André, com a Mari, Marinalva, sua companheira. Os dois dividem além da simpatia pelo PT, a criação de três filhos: Lucimara, Lucinira e Lucio, o Juninho.

As crianças, todas com menos de doze anos, ainda não estão envolvidas em discussões políticas.

Bolsonaro, por outro lado, conhecem bem. Pelo que escutam de seu pai, sempre esbravejando na frente da TV, é provável que imaginem se tratar de um vilão de quadrinhos. Nessa idade, afinal, crianças tendem a misturar realidade com fantasia.

Então, pode ser, que pelos comentários do pai, sempre vociferando contra o presidente atual, que as crianças imaginem que somos presididos por um Coringa à espera de um Batman. Batman que, no caso, é o Lula. Somente ainda não ligaram o nome à pessoa.

Durante as férias, Juninho e as meninas vão sempre passar uns dias na casa dos avos materno, em Caraguatatuba.

O avô, que trabalhou a vida toda na mesma fábrica que Jurandir trabalha, se aposentou e mora no litoral, num sobrado a umas três quadras da praia.

Contra piolho e presidente vilão de cinema só mesmo tomando banho de vinagre

As crianças adoram. Já têm sua turminha da praia e passam praticamente o dia todo na rua ou no mar. Voltam na hora de jantar.

Essa mesma rotina acontece em todas as férias das crianças na escola. Bom para elas e bom para a Marinalva, que pode descansar um pouco. Três filhos não é bolinho, ela sempre lembra as amigas mais novas.

Essas férias na praia, porém, têm um problema.

Marinalva, Jurandir, o avô e a avó não conseguem descobrir o porquê, mas é só bater em Caraguá que as crianças ficam cheias de piolho.

Desconfiam que a culpa é do Jefinho, um dos garotos da turma da praia que não preza muito pela higiene, além de ter um cabelo farto e comprido, que muitas vezes parece ter vida própria.

Então, quando as crianças vão para o litoral, Marinalva se estoca de vinagre para, na volta, dar uma semana de banho nas crianças, passando aquele pente de dentes bem apertadinhos.

Uma semana antes de voltar, Marinalva contou a história na manicure.

— Então, capricha aí na minha unha, que com tanto banho de vinagre, unha feitinha assim de novo, só em agosto.

Foi quando uma senhora que escutava a conversa interviu:

— Mas querida! Você ainda usa vinagre para acabar com piolho? Que bobagem!

A senhora mexeu na bolsa, tirou uma caneta e um bloquinho de papel, arrancou uma página e anotou o nome de um remédio:

— Olha filha… compra esse remedinho aqui, dá três dias seguidos para as crianças e pronto. Esquece o problema!

— Verdade moça? Não precisa do vinagre?!

— Só na salada, minha querida!

Marinalva ficou radiante. Se o remédio funcionasse de verdade, pronto! O único problema das férias das crianças estaria resolvido.

Quando as crianças chegaram, foi o Jurandir – que é careca – quem fez a primeira vistoria.

Nem precisou se esforçar. Os piolhos estavam ali, a vista, fazendo a festa no cabelo das crianças.

— Marinalva! Manda para o vinagre esses três!

Marinalva dobrou o papelzinho e colocou no bolso do marido.

— Que nada! Descobri um remédio que faz milagre! Dá um pulinho na farmácia e compra.

O marido foi.

Dez minutos depois, volta ele ofendido. Atira o papelzinho sobre a mesa, agarra as crianças e leva para a banheira.

— Me traz o vinagre, Marinalva!

A mulher abre o papel e pela primeira vez lê o nome do remédio: “Ivermectina”. Do banheiro, Jurandir grita:

— Piolhento, sim. bolsominion, nunca!