Marina Rossi Fotos Rafael Hupsel/Ag. Istoé O escritor Michael Pollan foi taxativo ao afirmar, em um de seus livros mais famosos, Regras da Comida: ?Não coma nada que a sua avó não reconhecesse como comida?. A orientação faz parte de uma das 64 regras escritas pelo ativista da gastronomia em 2009. Célebre no meio gastronômico, o autor talvez ficasse feliz ao saber que numa pequena casinha no bairro de Pinheiros, em São Paulo, existe uma seguidora ferrenha desse mandamento. A paulistana Juliana Motter, 36 anos, aprendeu com a avó doceira a cozinhar o que, no futuro, seria seu ganha-pão. ?Minha avó dizia: ?Se você quer comer brigadeiro, vá para a cozinha e faça??, diz. A obediente garota, na época com seis anos de idade, foi então para o fogão. Com a receita da avó em punho e a matéria-prima também ? ?Ela fazia o próprio leite condensado? ?, Juliana começou a fazer os docinhos para seu próprio deleite e para levar nas festinhas dos amigos. Não demorou muito e o apelido de Maria Brigadeiro pegou. ?Como eu sempre chegava numa festa com os brigadeiros na mão, as pessoas olhavam e falavam: ?Lá vem a Maria Brigadeiro?. Era um bullying!?, diverte-se. E a fama de ter boa mão para o docinho cresceu junto com Juliana. A divisa entre o hobby e o trabalho sério surgiu quando Juliana levou brigadeiros na festinha de aniversário do filho de uma amiga. Podia ser só mais uma bandeja de brigadeiros, mas naquele dia tudo mudou. ?Levei brigadeiros de cinco sabores diferentes, o que, na época, era algo que as pessoas nunca tinham visto?, conta. Os convidados ficaram tão surpresos quanto sedentos por um repeteco. ?Começaram a me perguntar se eu fazia para vender. E eu dizia que não?, conta. ?Até que, depois de algumas taças de vinho, resolvi dizer que sim. Mas de brincadeira?, diz. Brincadeira ou não, no dia seguinte Juliana recebeu uma encomenda de mil brigadeiros para um evento de adultos. ?Quase não aceitei. Mas fui em frente e topei?, conta Juliana, que virou a noite com uma amiga do trabalho para dar conta da encomenda. ?No dia seguinte, inventamos uma desculpa no trabalho para podermos finalizar os brigadeiros?, conta a jornalista por formação, que na época trabalhava numa revista feminina. ?Mas a minha chefe acabou aparecendo no evento. Ficamos nos escondendo dela a noite toda.? A mentira acabou valendo a pena. No dia seguinte ao evento, o telefone de Juliana não parou de tocar atrás de encomendas dos docinhos diferentes. E assim foi pelos três meses seguintes, até que ela pedisse demissão da revista para se dedicar exclusivamente ao brigadeiro. ?As pessoas achavam que eu estava louca?, diz. ?Mas eu precisava fazer aquilo. O brigadeiro sempre foi uma coisa muito afetiva pra mim.? A empreitada foi um sucesso. Aberto em 2007, o ateliê da Maria Brigadeiro produz atualmente uma média de cinco mil brigadeiros por dia, em até 40 sabores diferentes. Doses saborosas de felicidade. ?Quando a pessoa não sai feliz daqui, a gente se pergunta o que está errado.? A receita da felicidade Brigadeiro tradicional Ingredientes: 1 lata de leite condensado 4 colheres de sopa de chocolate em pó ou 8 colheres de raspas do seu chocolate favorito 1 colher de sopa de manteiga extra sem sal Manteiga para untar 100 gramas de chocolate ao leite Premium em raspas para confeitar Preparo: Em uma panela de fundo grosso, coloque o leite condensado e o chocolate e misture bem com a ajuda de um batedor de arame (fuet). Adicione a manteiga e leve ao fogo baixo. Mexa até que a massa ganhe consistência de brigadeiro de colher (aproximadamente 15 minutos). Tire do fogo, transfira para um recipiente e deixe na geladeira até esfriar. Enquanto isso, corte o chocolate ao leite em raspas e coloque-as em uma tigela. Com a ajuda de uma colher, molde as bolinhas com aproximadamente 3 cm de diâmetro e enrole com as mãos untadas com manteiga sem sal. Confeite os brigadeiros com as raspas do chocolate ao leite e coloque os doces em forminha de papel plissado. Sirva fresco, de preferência nas três horas seguintes. Rende: 30 brigadeiros Tempo de preparo: 40 minutos