Assim como aconteceu na Anvisa, a cúpula de outra agência reguladora decidiu se rebelar contra as tentativas de interferência política promovidas pelo presidente. A chefia da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) passou a reclamar das intromissões do Planalto num momento bastante delicado, em que o País atravessa um período de disparada no preço das contas de luz — haverá mais um reajuste de 21% para este ano.

CRISE Represa de Furnas (MG) enfrenta uma rigorosa estiagem: risco de faltar energia (Crédito: Joel Silva)

Segundo apurou a ISTOÉ, o motivo que despertou insatisfação na Aneel foi o fato de Bolsonaro já ter anunciado um novo diretor-geral da agência, nove meses antes do fim do mandato do atual chefe do órgão, André Pepitone, que deixará a cadeira no dia 14 de agosto. Por ordem do capitão, em dezembro o governo antecipou a indicação do nome de Sandoval Feitosa para o lugar ocupado por Pepitone. Nunca tinha ocorrido uma indicação com tamanha antecedência. Membro do corpo diretivo do órgão desde a gestão de Michel Temer, Feitosa foi avalizado para a vaga pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), um dos principais líderes do Centrão. A avaliação interna é de que o governo tem deixado de lado o sério problema da seca. Procurado, o presidente da Aneel não se manifestou.

“Fazer isso com 9 meses de antecedência repercute muito mal no mercado. Soa como interferência política. A maioria do capital investido no setor para contornar a crise vem de fora. Isso traz insegurança para o investidor externo no momento mais inoportuno possível”, afirmou um importante diretor da agência. Nesta semana, a BlackRock, um dos maiores fundos de investimento do mundo, anunciou que não injetará um centavo no Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A decisão foi anunciada pela head do grupo na América Latina, Domink Rohe. Trata-se de um dos principais investidores na área de energia do País.

Desde o ano passado, o País passa pela pior crise hídrica de sua história. Ressaltando a gravidade da situação, uma auditoria realizada pelo TCU constatou que o governo Bolsonaro “não possui plano estratégico” para tentar minimizar os efeitos da crise hídrica. O documento concluiu ainda que a falta de ações prejudicou todo o planejamento e prevê que esse problema culminará em impactos tarifários, diretamente no bolso do cidadão. “Não há um plano de contingência para situações críticas, resultando em medidas tomadas de maneira açodada e com pouca previsibilidade”, diz o texto.