Encravado no interior dos 135 mil hectares do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, em meio a um cenário de caatinga e penhascos — onde, há 100 mil anos, homens pré-históricos deixaram seus registros na forma de pinturas rupestres—, acaba de ser inaugurado um museu com o que há de mais moderno em exposições e experiência educativa multimídia. O Museu da Natureza, vinculado à Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), que também gerencia o parque, será inaugurado no dia 18 de dezembro. Ao todo, são doze salas expositivas que mesclam instalações audiovisuais, realidade virutal e animações em 3D com fósseis originais da fauna já extinta que habitou o parque, remontando os 13,7 bilhões de anos de história natural do lugar.

O enfoque do museu — cuja curadoria é de Marcello Dantas, responsável, entre outros, pelo Museu da Língua Portuguesa e pelo Japan House, em São Paulo — é o clima e as grandes mudanças que condicionaram a vida na Terra. A ideia de construir o museu foi da arqueóloga Niède Guidon, fundadora e diretora do parque. “A Fumdham realizou pesquisas sobre o meio ambiente local e sua evolução. Essas pesquisas permitiram a descoberta de muitos fósseis marinhos da época em que a região era coberta pelo mar; do período posterior, quando o movimento tectônico levou o mar para o norte; dos fósseis dos animais da megafauna; da mudança climática que há cerca de 10 mil anos fez desaparecer a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, os dois biomas da região; e do aparecimento da caatinga. Tive, em 2003, a ideia de criar esse museu justamente para mostrar a todos os resultados dessas pesquisas”, disse Guidon à ISTOÉ. Há quatro décadas a frente do Parque Nacional da Serra da Capivara, Guidon diz que fez o melhor que pode. Sobre seus planos após a inauguração do museu, ela conta que pretende se aposentar: “Já tenho quase 86 anos, trabalhei sem parar. Agora quero descansar e viajar!”

Ao todo, o Museu da Natureza tem 1.700 metros quadrados de área expositiva permanente e outros 700 metros quadrados para eventos e exposições temporárias. São, ao todo, doze salas, em que o visitante terá um panorama sobre a origem do universo, do sistema solar, da Terra, da vida, do clima e da atmosfera com oxigênio. Os dinossauros ganharam uma sala inteira com esqueletos de animais encontrados na região e projeções em 3D que simulam os ambientes onde viveram. Uma grande área é dedicada à megafauna — animais pré-históricos que viveram no local onde hoje está o parque. No centro do prédio, é exibida uma réplica dourada em tamanho real, com 6 metros de altura, de uma das espécies de preguiça-gigante já encontradas na Serra da Capivara e arredores. Elas viveram há 10 mil anos e estavam entre os maiores herbívoros da Terra.

“A ideia de criar o museu foi mostrar a todos os resultados de
anos de pesquisa sobre o meio ambiente local e sua evolução”
Niède Guidon, diretora da Fumdham

Do início dos tempos

Na seção dedicada à realidade atual do Parque Nacional da Serra da Capivara, imagens aéreas feitas com drones permitem um passeio tecnológico pela topografia do parque — por seus cânions, boqueirões, cavernas e flora. Na 12ª sala, onde a visitação é encerrada, há uma projeção no teto (o público deita-se sobre um pufe gigante) de um filme sobre a história da vida no Planeta. As imagens são acompanhadas por um texto arrebatador narrado pela cantora Maria Bethânia, que termina com uma reflexão sobre o papel do homem no clima e no futuro da vida na Terra. “A natureza está em trânsito. A estabilidade é uma ilusão. A vida insiste, resiste. Mas qual vida? Qual vida você quer criar?”

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