Toda guerra traz muitas consequências nefastas, levando a humanidade a situações limite. Mas nem todos seus efeitos são negativos. As grandes crises costumam produzir importantes inovações. Muitos avanços como a tecnologia de microondas, o GPS e até a internet surgiram justamente desses momentos de tensão global e a chegada da Covid-19 não é diferente. Cientistas, médicos, engenheiros e tecnólogos uniram esforços a outros tantos profissionais no mundo inteiro e, juntos, arregaçaram as mangas para compartilhar seus conhecimentos e encontrar soluções não só para o combate ao coronavírus como também para garantir o bem estar das pessoas no futuro. Esses avanços já começam a aparecer, indo desde os mais simples, como lavar mais as mãos para evitar o contágio até mais complexos como oxigenação do sangue por membranas extracorpóreas.

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Menos contaminação

Mundo afora há soluções de robótica para fazer a triagem de pacientes com coronavírus e surgem máscaras inteligentes que dão um alerta quando a pessoa está contaminada. A equipe do InovaHC, do Centro de Inovação do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), colocou em funcionamento, por exemplo, um robô colaborativo que, entre outras atividades, retira o lixo da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com o objetivo de reduzir a exposição e o risco de contaminação dos profissionais na linha de frente. Além disso, o HC também já testa com sucesso um capacete que pode evitar a necessidade de intubação dos pacientes, oferecendo oxigênio numa “bolha” de forma menos invasiva. A tecnologia foi toda desenvolvida no Brasil por um grupo de engenheiros vindos de empresas como a Embraer, Avibrás e Roboris, aliado ao conhecimento dos médicos do HC. Segundo o diretor da divisão de pneumologia do InCor, Carlos Carvalho, o equipamento não exige sedação e, com o paciente ainda consciente, fornece o oxigenação em casos que não são tão graves, garantindo uma recuperação mais rápida.

SEGURANÇA NA UTI SÃO PAULO Um robô retira o lixo da UTI, reduzindo o risco a profissionais da linha de frente (Crédito:Divulgação)

“O paciente na UTI pode fica intubado, em média, de 8 a 15 dias. Mas com o capacete não invasivo, ele consegue se recuperar de 4 a 8 dias, com menos complicações”, explica o pneumologista envolvido no projeto. Já foram produzidos 1.000 aparelhos e, após os testes, a fabricante Lifetech espera para a próxima semana a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar o equipamento, de acordo com o engenheiro responsável, Guilherme de Souza. Outro grande avanço no HC está na telemedicina, que inclui a capacitação dos profissionais que trabalham em UTI diante de novos protocolos exigidos pela Covid-19 para reduzir a contaminação na linha de frente. O InovaHC está colocando em prática conceitos de Inteligência Artificial para ajudar médicos de todo o País a fazer o diagnóstico da doença apenas com imagens geradas pela tomografia ou com um simples raio X de pulmão. Uma plataforma recebe as imagens do exame de tórax e traça o diagnóstico num tempo menor que o necessário para o exame de sangue, o que é considerado vital para o tratamento da doença. “Conseguimos reduzir o risco de mortes”, diz Giovanni Cerri, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Radiologia e da Comissão de Inovação do HC.

Especializada em tecnologia médica, a norte-americana LivaNova também começou a oferecer sua máquina de oxigenação do sangue por membranas extracorpóreas, que tradicionalmente é usada em cirurgias cardíacas, para auxiliar os médicos nos casos mais graves. Pensar soluções diante da pandemia mobilizou a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que criou uma força-tarefa com profissionais de várias áreas. Eles atuam na manutenção dos equipamentos hospitalares, produzindo até peças em 3D, e equipamentos de proteção individual (EPIs) que não só bloqueiam como matam o vírus e materiais para testes rápidos. A colaboração de várias áreas aproximou profissionais e esse será o grande legado da pandemia, segundo a coordenadora da Frente Tecnológica da Força Tarefa da Unicamp contra a Covid-19, Marisa Beppu. “Afinal, nunca se deve desperdiçar uma boa crise”, afirmou, citando a famosa frase de Winston Churchill.