O Cidadania, presidido por Roberto Freire, um dos mais respeitados políticos da centro-esquerda, decidiu no sábado, 19, formar uma federação com o PSDB, que tem João Doria como candidato a presidente, após vencer as prévias contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O acordo do partido de Freire foi firmado com Bruno Araújo, presidente nacional pessedebista, mas a força de Doria no processo foi decisiva. As duas legendas se juntarão em torno da eleição de deputados, senadores e governadores em outubro. Dois senadores do Cidadania disputam a vice: Alessandro Vieira (SE) e Eliziane Gama (MA), que tem mais chance por ser mulher. Doria comemorou e disse à ISTOÉ que era o início da reação: “Uma federação em defesa da democracia, do Brasil e dos brasileiros”.

Ampliação

O PSDB tenta ampliar a federação com o MDB e o União Brasil. Se todo mundo se unir, o grupo teria 152 deputados, 32 senadores e 11 governadores, com a ressalva de que nem todos ficariam com o tucano, pois tem de tudo aí: bolsonaristas, lulopetistas e até moristas. Nesse caso, Doria teria de vice Bivar (União Brasil) ou Simone Tebet (MDB). Temer age.

Podemos

Nessa roda ainda cabe Sergio Moro. Ele confirmou à ISTOÉ estar conversando com os demais candidatos do centro e entende que a união deve acontecer “o quanto antes para nos fortalecer contra a máquina de mentiras dos dois extremos”. Alvaro Dias, líder do Podemos no Senado, defende que o cabeça de chapa seja quem estiver melhor nas pesquisas.

Sem rumo

Miguel Noronha/Agencia F8

O governador gaúcho Eduardo Leite anda confuso. Desde que foi derrotado nas prévias do PSDB, foi convidado por Doria para coordenar seu programa de governo e não aceitou. Depois, disse que não seria candidato à reeleição, mas há 15 dias mudou de ideia. Assediado por Gilberto Kassab, agora diz que pode disputar a Presidência pelo PSD, que, por sua vez, garante que o candidato é Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Retrato falado

Joel Rodrigues

O governador Renato Casagrande, do PSB, partido que negocia uma federação com o PT, não está nada feliz com o enlace. Foi criticado por petistas após receber Moro em Vitória (ES). Como o PSB não tomou uma decisão final sobre a união ao PT, não se sente obrigado a apoiar Lula já. “Estou conversando com todos e não é só com Moro. Tem o Ciro, o Janones e o PSDB do Doria.” Para ele, os petistas “precisam ter humildade para saber que o diálogo faz parte da democracia”.

Dívida acelerada

Até as emas do Alvorada sabem que sempre que o governo aumenta subsídios, como quer fazer agora eleitoralmente com os preços dos combustíveis, mais os gastos do Tesouro sobem e maior é a dívida pública. Ou seja, piores são os resultados da economia, menor será o PIB. E sempre que o crescimento econômico é reduzido, menos empregos são gerados e maior é a crise social. Segundo Sergi Lanau, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacional (IIE), o Brasil tem tudo para entrar nessa encalacrada caso o Congresso, com a anuência de Bolsonaro, aprove leis que subsidiem em até R$ 100 bilhões os preços dos derivados de petróleo para segurar altas até as eleições.

Pibinho

O IIF diz que se os subsídios atingirem esses níveis, confirmados pelo próprio ministro Paulo Guedes, o PIB brasileiro recuará de 0,5% a 1% este ano. Significa dizer que o País deverá entrar em recessão em 2022. De acordo com bancos, como o Itaú, a previsão já era de uma retração em torno de 0,5% no PIB.

No embalo do chefe

O ministro Tarcísio de Freitas, preposto de Bolsonaro na disputa paulista, está intensificando viagens ao interior do estado para cabalar apoios. Como é um ilustre desconhecido, tem procurado imitar a ignorância do chefe. Muitas vezes repete seus palavrões. Dia desses, referindo-se a Haddad, disse que os corruptos
do PT deveriam ir para o inferno.

Mateus Bonomi

Polarização

Freitas acha que haverá polarização também entre a esquerda e a direita em São Paulo, entendendo que ele pode ser o candidato que vai enfrentar o petista no segundo turno. Ocorre que a centro-direita está hoje unida em torno de Rodrigo Garcia (PSDB). O PP e o PL, que apoiam o governo federal, racharam e a maioria dos líderes está com o tucano.

Contraponto entre o bem e o mal

Mateus Bonomi

O Brasil está dividido entre o bem e o mal, mas, no final, o bem sempre vence. Desta vez, há candidatos a deputados federais do bem, como Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan e que produziu a Coronavac em São Paulo, e há candidatos do mal, como Nise Yamaguchi, a médica que introduziu a cloroquina nos hospitais e defendeu os remédios ineficazes até na CPI da Covid.

Toma lá dá cá

Fernando José da Costa, secretário de Justiça e cidadania do Estado de São Paulo (Crédito:Divulgação)

Como o senhor avalia o atual quadro político?
Não temos mais espaço para políticos que governam estimulando o conflito de ideias, impondo regras sem fundamento e sem diálogo.

De que forma a polarização dificultará um entendimento para a solução dos problemas?
Tenho absoluta convicção de que o brasileiro não aceita mais conviver com gestores públicos que não estejam conectados com a realidade e que ignoram a saúde, educação, emprego, segurança pública, transparência e respeito ao próximo.

Corremos risco de uma ruptura entre as instituições?
Não, pois temos instituições muito sólidas e capazes de impedir iniciativas aventureiras, garantindo a transparência no processo eleitoral.

Rápidas

* Bolsonaro gosta tanto das vítimas das chuvas que limitou-se a sobrevoar algumas áreas atingidas. Na Bahia, nem largou de passear de Jet Sky em Santa Catarina, mas a Petrópolis chegou três dias após a tragédia: deu preferência para os ditadores Putin e Orban.

* José Sarney, mesmo muito idoso (91) e doente, continua dando as cartas em Brasília. Bolsonaro acaba de nomear Luis Gustavo de Souza para o TRF-1. Ele é genro de Roseana Sarney, a filha predileta do ex-presidente.

* A federação entre o PT e o PSB faz água. Em SP, há disputa entre Haddad e França, mas em PE está pior: o PT quer Marília Arraes para o Senado e o PSB não abre mão da vaga. No ES, o PT lança Contarato contra Casagrande (PSB).

* Olavo de Carvalho deixa polêmicas até morto. Antes de falecer, foi condenado a indenizar Caetano Veloso em R$ 3 milhões. Quem pagará? Certamente não será Heloísa, um dos oito filhos herdeiros, que sempre odiou o pai.