Quem me acompanha sabe que adoro citações históricas e notórias, sobretudo quando a autoria vem da sabedoria popular. Sim, é legal um pouco de cultura geral e erudição quando citamos, sei lá, Sócrates, Marx, Kotler, Freud, Santo Agostinho (meu favorito, por sinal), mas nada como uma frase de para-choque de caminhão ou de porta de banheiro público para iluminar a mais densa escuridão d’alma.

“A grama do vizinho é sempre mais verde”. Pior é que é verdade. Olho pela janela, penso nas horas de enxada e no dinheiro gasto em adubo e irrigação em um gramado feio, marrom e cheio de terra, ao invés daquela grama verdinha, verdinha do “miserávi” aqui do lado. Ainda bem que me restam as cervejas, hehe. As minhas estão sempre mais geladas. E meu pão de alho é muito melhor que o dele. Mas vida que segue e vamos ao que importa.

SANTO DE CASA

Tá aí mais uma: “santo de casa não faz milagre”. E o deputado federal André Janones (Avante-MG) fez questão de matar a cobra e mostrar a rachadinha, digo machadinha, ou melhor, o pau. Aliás, a terceira citação popular em pouco mais de dois parágrafos. A vestal da política, o arauto da moral e dos bons costumes, o fiscal da probidade foi exposto (por áudios divulgados por um ex-assessor) pedindo, ou melhor, exigindo dinheiro (devolução de parte dos salários) de funcionários de gabinete, para quitar supostas dívidas de campanha.

Quando o clã das rachadinhas era vitrine, Janones, com toda razão, atirava mais pedras sobre os Bolsonaros que o grupo terrorista Hamas atira foguetes sobre Israel. Sua legião de seguidores corroborava cada vírgula e compartilhava cada acusação dirigida ao senador dos panetones (aquele que construiu um império imobiliário, pagando parte dos ativos em dinheiro vivo). O amigão do Queiróz, inclusive, e me refiro, obviamente, para quem ainda não associou o nome aos feitos, a Flávio Bolsonaro, utilizava os mesmos argumentos.

PEIDEI, MAS NÃO FUI EU

A frase acima é mais uma do rol infinito da sabedoria popular, que ganhou notoriedade após uma aparição barulhenta (normal, né?) do compositor e cantor Lobão, trajando uma camiseta preta com tais dizeres. Janones, como Flavinho Wonka – em homenagem ao personagem Willy Wonka, do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolates” (1971 e 2005) -, nega o crime, diz que foi mal interpretado, que as frases foram retiradas de contexto, que não era parlamentar à época, que os áudios foram editados, enfim, rezou a cartilha comum aos peidorreiros tão inocentes quanto os gordos (como eu) que ganham peso comendo salada de agrião e peixe branco grelhado.

Contudo, ainda que nada surpreendente, mas curiosa ao menos, é a reação da tropa de choque bolsonarista, que alega que a rachadinha de Janones é rachadinha e, portanto, crime, mas que a do mito e dos bolsokids, não. Chega a ser deprimente, mas o retrato do País – fazer o quê, né? -, assistir a Nikolas Ferreira e o próprio PL pedirem a cassação do aliado de Lula, esquecendo-se do que o mito fez no verão passado. Cara de pau pouca é bobagem. Meu Deus!

MEU PECULATO É MELHOR QUE O SEU

Rachadinha é o apelido popular para peculato (crime contra a administração pública, tipificado no art. 312 do Código Penal (Lei 2.848/40): “quando um funcionário público apropria-se ou desvia, em favor próprio, de dinheiro, valor, ou qualquer outro bem móvel que se encontra em posse do funcionário em razão de seu cargo”. Em ambos os casos (Janones e Bolsonaros), em tese, e de acordo com tudo o que foi divulgado pela imprensa, é patente o crime. E pouca importa se os funcionários assediados eram, ou não, “fantasmas”.

Sim, porque janonistas dizem que “os funcionários efetivamente trabalham no gabinete do deputado, enquanto os dos Bolsonaros nem sequer apareciam em Brasília” (como a personal trainner, filha do carequinha, que morava no Rio de Janeiro, e a moça que cuidava de uma casa de praia do devoto da cloroquina, Jair Bolsonaro, acho que Wal do Açaí, ou algo assim). Ou seja, para os passadores de pano da esquerda, rachadinha com trabalhador pode, mas com funcionário fantasma, não. Por isso, meus caros, terminando com mais um dito popular, repito o que penso – e sempre pensei – dessa gente: é tudo farinha do mesmo saco!