Montar esquemas de rachadinhas em gabinetes legislativos parece fazer parte da genética da família Bolsonaro. Quem não entra na sintonia é porque tem um desvio de personalidade qualquer. Chegou a vez do filho 02, o vereador Carlos (Republicanos-RJ) mostrar seu valor. Como já aconteceu com o irmão 01, o senador Flávio (Patriota-RJ), Carlucho há alguns meses é alvo de uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a presença de funcionários fantasmas no seu gabinete na Câmara. Como sempre acontece nas rachadinhas, os assessores entregam uma parte dos salários para o parlamentar espertalhão. O filho do presidente, que cumpre o sexto mandato, teve os sigilos bancário e fiscal quebrados pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Dinheiro vivo

Há fortes indícios de que vários de seus funcionários não trabalhavam. A análise das dezenas de contratações no gabinete ao longo de seus seis mandatos de vereador, desde 2001, está sendo feita pela Justiça para detectar eventuais delitos e identificar os fantasmas. A quebra de sigilo também atinge a ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, mãe do 04 Jair Renan e chefe do gabinete de Carlos entre 2001 e 2008, e outras 25 pessoas. Ela deixou o gabinete do enteado só quando se separou de Jair Bolsonaro.

A família Bolsonaro adora dinheiro vivo e a operação do MP, que acusa Carlos de ilícitos, identificou mais bons exemplos desse deleite. Movimentações mapeadas nas investigações mostram que ele fez pelo menos três pagamentos em espécie no período, inclusive a compra de um apartamento por R$ 150 mil, em 2003. A trama da rachadinha em que se acusa Carlos reproduz o mesmo modelo de funcionamento do caso de Flávio. Na sua investigação, o Ministério Público dividiu todos os suspeitos de envolvimento no esquema em seis grupos e afirma ter novas provas de que vários assessores do gabinete não cumpriam expediente na Casa. Funcionários da Câmara devem cumprir uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Ação em família

Um dos grupos investigados é justamente o das pessoas ligadas a Ana Cristina, que empregou vários parentes no gabinete do enteado, possíveis fantasmas, e é suspeita de coordenar a operação criminosa naquele período. Sua irmã, Andrea Valle, investigada no caso de Flávio, também teve os sigilos quebrados. O cerco se fecha sobre o gabinete de Carlos e mais uma vez fica evidente a ação em família, apoiada por uma rede de colaboradores íntimos. Pelas mídias sociais, Carlos criticou as novas investigações que o envolvem. “Na falta de fatos novos, requentam os velhos que obviamente não chegaram a lugar nenhum e trocam a embalagem para empurrar adiante a narrativa. Aos perdedores, frustrados por não ser o que sempre foram, restou apenas manipular e mentir”, disse o vereador. Mas não é bem assim. Diferentemente do irmão Flávio, o 02 não tem foro privilegiado e o inquérito que investiga sua tortuosa vida parlamentar pode dar bons frutos antes do que se espera.