Um hotel desocupado é um elefante branco. Seja do tamanho que for, como todo estabelecimento, precisa pagar contas básicas como luz, água e funcionários, para dizer o mínimo. Quando não gera receita, seja por falta de turistas, descontrole na gestão e brigas familiares, as contas costumam atrasar até que o hotel declare falência, como foi o caso do Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo. O hotel, que encerrou abruptamente as atividades no início do mês, foi interditado com visitantes ainda dentro do edifício. Endividado e metido em diversas disputas judiciais, o futuro do hotel que um dia hospedou e foi palco de ninguém menos que Frank Sinatra segue incerto. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Hotéis, Manoel Linhares, a carga tributária no Brasil é muito alta e há muitas variantes que levam um hotel a ruir. “É muito triste observar esse movimento, tanto dos gigantes como dos menos famosos. Durante a pandemia, apenas na capital paulista, 35 hotéis fecharam as portas”, diz.

Outro exemplo de monumento hoteleiro que tombou é o do centenário e histórico Glória, no Rio de Janeiro, o primeiro cinco estrelas do País, construído na década de 1920, que tinha tudo para voltar aos seus anos de esplendor. Comprado em 2008 pelo então empresário Eike Batista, o edifício vivia na promessa de ser reformado para a Copa do Mundo de 2014. Rebatizado de Glória Palace, o local passou a receber dinheiro do BNDES em 2010, mas a reforma jamais foi concluída. Somente em junho do ano passado ficou decidido que o local passaria a ser um edifício residencial com 250 unidades. A obra ainda não tem data para ser inaugurada, mas o famoso hotel ficou no passado.

Cair no abandono e no esquecimento é comum em grandes hotéis de todas as regiões do País e aconteceu até mesmo com o Hotel Tropical de Manaus. Inaugurado em 1979 quando fazia parte do conglomerado das empresas da Varig Linhas Aéreas, era tão especial quanto o Theatro Municipal da cidade. Com sua edificação em estilo espanhol, era o local perfeito para os endinheirados que se dirigiam à região amazônica — com destaque para a vista do príncipe Charles e da princesa Diana, em 1991. Sem manutenção e finalmente fechado no início de 2019, foi arrematado pelo grupo educacional Fametro no final de 2020. A reforma do local — como o hotel de luxo que sempre foi — deve custar cerca de R$ 10 milhões e a inauguração ocorrerá no verão de 2022.

Já o imponente Copacabana Palace, construído pelo empresário Octávio Guinle, em 1923, por sugestão do então presidente da república Epitácio Pessoa, possui uma história à parte. Projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire e inspirado nos famosos hotéis Negresco, em Nice, e Carlton, em Cannes, o “Copa” foi por muitos anos símbolo de excelência e hospitalidade. Seu glamour, contudo, não estava nas alturas nas últimas décadas. Celebridades internacionais acabavam preferindo hotéis modernos como o Fasano, na praia de Ipanema. Em 1989, foi comprado pelo Grupo Belmond, que reabilitou o hotel. A cereja do bolo veio em 2018 quando o conglomerado LVMH, que possui a Louis Vuitton, adquiriu todos os hotéis da rede, incluindo o Copacabana Palace.

Com o “upgrade”, o hotel mais famoso do Brasil funciona com toda a pompa e a circunstância de quem o coordena. Para o professor de Turismo e Hotelaria da Universidade Anhembi Morumbi, Allan Gizi, os grandes hotéis precisam manter um equilíbrio entre custo e qualidade para conseguirem sobreviver. “A capacidade de inovar é o que mantém um hotel vivo”, diz. Para mostrar que sabe bem o que faz, o Copacabana Palace acaba de inaugurar seu teatro, fechado em 1994 e agora totalmente reformado, com um musical contando a história do próprio edifício e suas curiosidades. Em nota à ISTOÉ, o cinco estrelas define: “A propriedade é um ativo histórico-cultural de todos os brasileiros. É um dever preservá-lo para as atuais e futuras gerações”.