Após dois meses e meio interpretando o papel de secretária especial da Cultura, a atriz Regina Duarte deixou o cargo na quarta-feira 20, queixando-se do “ambiente raivoso” que, segundo ela, existe no ministério. Regina vai assumir a direção da Cinemateca Brasileira e, em seu lugar, entrou o (quase) ator Mario Frias (até a quinta-feira 21, ainda sem publicação no “Diário Oficial”). Durante o tempo em que esteve no governo, Regina foi figurante do tipo que aparece em novela para não deixar vazio o fundo da cena — quem comandou o elenco tem patente de capitão da reserva. Para a chamada ala ideológica do poder, composta sobretudo pelos seguidores do filósofo de internet Olavo de Carvalho, a atriz não fez a lição de casa: afastar todos os diretores, assessores e demais funcionários que os olavistas consideram de esquerda. O roteiro de sua queda ficou recentemente claro quando Bolsonaro declarou, instado a falar sobre a permanência da secretária, que “somente o presidente e o vice não podem ser trocados”. Disse bobagem, para não deixar de ser ele mesmo, uma vez que presidente pode ser mandado para casa sim, por meio de impeachment — aliás, esse é seu provável destino. Há quinze dias a demissão do secretário adjunto, Pedro Horta, selou o destino de Regina. Para ter uma saída honrosa, assumindo a cinemateca, a ex-“namoradinha do Brasil” pediu socorro à deputada federal Carla Zambelli. Deu certo. Fim da novela com a “Rainha da Sucata”. Mal restou sucata da rainha.

Ela e a ditadura

O fato de Bolsonaro achar que Regina não preencheu suas ânsias ideológicas não a torna democrata. Ela demostrou o que tem de pior numa entrevista na qual relativizou (valendo-se de palavras, gestos, risos e canto) a tortura e assassinato de brasileiros, em 1970, pelo regime militar. Nesse ano, a seleçãobrasileira foi tricampeã. Ótimo, isso é uma coisa. Outra coisa é ela sentir saudade da música “Pra frente Brasil”, que virou hino da ditadura.

Quem é Mario Frias

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Ganhou fama ao final de 1990 como galã do seriado teen “Malhação”, da Rede Globo. É bolsonarista e nas redes sociais sempre se colocou à disposição do “maior presidente que o Brasil já teve” — são tão amigos que ele chama sua excelência de Jair. Como ator, não é bom nem ruim, e isso é o pior que pode haver para um artista: ser sempre um quase! Como secretário da Cultura, a conferir.

MÚSICA
Dr. Carlinhos Vergueiro cura a solidão

RENOVAÇÃO Carlinhos Vergueiro: novo e criativo repertório, novos e criativos parceiros (Crédito:Divulgação)

Cada doutor, dentro de sua especialidade, faz o que pode para atenuar a extenuante, mas imprescindível, quarentena. O doutor Carlinhos Vergueiro, especialista em composição de músicas e letras, cumpriu a sua missão de forma exemplar — e, mais uma vez, vem enriquecer a cultura brasileira. Carlinhos acaba de lançar o álbum “Tô aí”, o vigésimo terceiro de sua carreira. Festeja também quarenta e cinco anos dedicados à arte musical. A festa é dele, já o presente quem ganha somos nós. “Tô aí” vai estar em todos os lugares porque é bom demais em versos, músicas, ritmos, melodias, arranjos, formas e conteúdos. Trata-se de uma renovação no repertório e nas colaborações, e trata-se de um hino à resiliência, à resistência e à existência. Tome-se, como exemplo, a faixa Cantei meu samba, parceria com Cadu Ribeiro e Gregory Andreas. Nela há um verso definitivo: “por cada voz que se calar/ eu vou cantar meu samba”. Destaque para a composição que intitula o álbum, feita com Arthur Tirone e Bruno Ribeiro: “livro meus caraminguás/ pro leite do pivete não faltar/ minha fé não vai minguar/ enquanto a bola sete eu matar”. E ênfase, ainda, para versos da cem por cento autoral Pra quem não sabe: “você não sabe o que é fazer um samba/ é quase como receber um santo”. Todas as gravações têm registros em vídeos nas páginas oficiais de Carlinhos
e da gravadora Biscoito Fino, que distribuiu o disco nas plataformas digitais, lojas físicas e virtuais. Embora possa parecer que nada tenha a ver com música, lembremos que Carlinhos adora futebol. E gosta de “dar passes perfeitos para outros fazerem gols, comemoro como se fosse gol meu”, disse ele à ISTOÉ. Pois bem, Carlinhos, podes crer: com “Tô aí” você deu o passe e você fez o gol. A gente comemora junto te ouvindo.

EDUCAÇÃO
ENEM, enfim, adiado

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O ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seus “acepipes” seguem fazendo o que sempre fizeram: só trapalhadas. Coitado dos estudantes. Depois do ministério saturar os brasileiros com inúmeras propagandas que defendiam a aplicação do ENEM na mesma data prevista para antes da pandeia, na quinta-feira 21
o Inep anunciou o adiamento do exame: agora, ocorrerá entre dezembro e janeiro. Educadores em todo o País haviam se unido no óbvio pedido que a prova fosse transferida de data. Como a comemoração de um gol, os estudantes gritaram: “ENEM adiado!”. O grito de quem sabe mais do que o ministro da educação.

AMBIENTE
A Amazônia no chão

1.017 Km2 é quanto a Amazônia perdeu de mata nativa desde janeiro (Crédito:Ricardo Moraes)

Com 229 quilômetros quadrados de área destruída, a Amazônia sofreu no mês de abril o seu maior desmatamento dos últimos dez anos. A triste informação foi divulgada na quarta-feira 20 pelo Instituto do Homem em Meio Ambiente (Imazon). Esse número de depredação da natureza, se cotejado aos índices de abril do ano passado, mostra que houve na Amazônia um aumento estratosférico de 171% de região desmatada — desse total, 32% estão concentrados no Pará, seguidos por 26%, em Mato Grosso, e 19%, em Rondônia.