Andrew Cuomo, de 63 anos, governador de Nova York pela terceira vez, era uma estrela em ascensão na política e no Partido Democrata até dezembro. Tinha 70% de aprovação popular, conquistada principalmente por ser visto como um político eficiente no combate à pandemia de Covid, que matou mais de 53 mil pessoas no estado. Mas ele foi atingido por um escândalo que veio à tona em dezembro, quando Lindsay Boylan, uma ex-assessora dele, escreveu em uma rede social que o governador a beijou à força e a assediava desde 2018. As acusações, nos meses seguintes, ganharam força e levaram outras 10 mulheres a acusarem o governador de assédio sexual. Na terça-feira 10, o político renunciou e anunciou que passará o cargo até o dia 24 para sua vice, Kathy Hochul.

EM ALTA Kathy Hochum está no Partido Democrata desde os anos 80 (Crédito:Mike Groll)

A renúncia virou um ponto central para o Partido Democrata, que já foi duramente atingido por outros escândalos sexuais — um dos mais emblemáticos levou ao processo de impeachment de Bill Clinton, em 1998. A queda foi precedida por pressões públicas e privadas de políticos do partido para que Cuomo deixasse o cargo. Até o presidente Joe Biden e a líder da maioria democrata na Câmara, Nancy Pelosi, pediram a renúncia. Os democratas temiam o desgaste político de um processo de impeachment, que poderia se arrastar por semanas e até meses na assembleia estadual em Albany, a capital do estado. Mesmo o Legislativo sendo controlado pelos democratas, o desfecho deveria ser desfavorável: o relatório de mais de 140 páginas do Ministério Público de Nova York, elaborado pela procuradora Letitia James, deixou poucas dúvidas sobre o assédio do governador. O caso ganhou gravidade cada vez maior. Na noite do dia 8, Melissa DeRosa, assessora especial de Cuomo, renunciou, e no dia seguinte o canal CBS exibiu uma entrevista com Brittany Commisso, uma ex-funcionária pública que também acusa Cuomo de assediá-la. Melissa foi acusada por algumas vítimas de tentar proteger o democrata e encobrir o assédio.

A queda de Cuomo teve impacto nacional, mas sobretudo entre os democratas de Nova York. Primeiro, porque o político é filho do ex-governador democrata Mario Cuomo, que governou Nova York entre 1984 e 1995, lembrado como um período de prosperidade econômica em que a cidade de Nova York se reinventou. Em segundo lugar, lembrou a renúncia do governador Eliot Spitzer, outra estrela democrata que deixou o cargo em 2008 após se envolver com uma rede de garotas de programa. Restou ao ex-governador tentar conter o prejuízo e cativar uma imagem favorável para o futuro. “A operação do governo, nestes tempos conturbados, é uma questão de vida e morte. Perder a energia com distrações é a última coisa que um governo pode fazer e eu não posso ser a causa disso”, disse Cuomo no seu discurso de renúncia.

“Assédio sexual é inaceitável em qualquer ambiente, especialmente no serviço público” Kathy Hochul, nova governadora

Nova líder

Com a saída de cena do governador, assume uma política bastante conveniente para o Partido Democrata. A vice-governadora Kathy Hochul, de 62 anos, passou ao largo de grande parte da polêmica. Advogada, ela já foi deputada federal em Washington e está na política há mais de 30 anos. Para os democratas, sua maior qualidade é ter construído a carreira como defensora dos direitos das mulheres: combateu o assédio sexual nas universidades estaduais e também a violência doméstica. “Assédio sexual é inaceitável em qualquer ambiente de trabalho, especialmente no serviço público”, escreveu Hochul no último dia 3, quando comentou o escândalo. Com isso, credenciou-se para assumir o protagonismo democrata em um estado-chave para a legenda.

Já Cuomo terá um futuro amargo. Após a renúncia, poderá enfrentar as acusações na Justiça. “O ex-governador sofrerá uma ação civil e, caso seja declarado culpado, terá que pagar indenizações às vítimas”, avalia Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais. Ela observa que além da retomada econômica, a nova governadora Hochul terá que elaborar planos para combater a desigualdade social, que aumentou principalmente na área metropolitana de Nova York após a pandemia.