Se hoje as imagens, vídeos e memes de bebês sorridentes e brincalhões inundam as redes sociais, a perspectiva para 2100 é de que cenas como essas sejam cada vez mais raras. Isso porque nos últimos anos, a diminuição da quantidade média de filhos por mulher tem sido drástica e acelerada. Na década de 1950, com o progresso econômico após a Segunda Guerra Mundial, houve uma explosão de nascimentos pelo mundo, com uma média de 4,7 filhos por mulher. Os chamados “baby-boomers” praticamente seguiram a história de seus pais, com famílias mais planejadas, claro, mas ainda com uma média de 3,5 filhos por família. A aceleração da tendência nos últimos anos, entretanto, é assustadora.

Enquanto várias décadas foram necessárias para ver a taxa de fecundidade mundial cair de uma média de 4,7 para 2,4 filhos por mulher, nos Estados Unidos, por exemplo, a queda veio a galope. De acordo com um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, publicado em 2021, a taxa de natalidade norteamericana caiu 4% apenas de 2019 a 2020, o declínio mais acentuado em quase 50 anos e o menor número de nascimentos desde 1979. A China, país mais populoso do mundo, apesar de ter abolido a lei do filho único em 2015, apresentou também um recorde de baixa natalidade no ano passado. Segundo o governo, pelo quinto ano seguido, não há aumento no número de nascimentos. Foram 10,62 milhões de bebês em 2021, ou apenas 7,5 nascimentos por 1.000 pessoas, de acordo com o Bureau Nacional de Estatísticas. É o nível mais baixo desde a fundação da China comunista, em 1949.

Enquanto isso já é visível em países com maior desenvolvimento econômico, o fenômeno chegará também nos países subdesenvolvidos, como os da Africa subsariana e da Ásia. Um estudo da Universidade de Washington, publicado na revista científica The Lancet, fez uma previsão alarmante: em 2100, ao menos 23 países terão sua população reduzida pela metade, entre eles Espanha, Japão e Tailândia. O estudo analisou 195 países e constatou que 183 deles terão uma taxa de fecundidade menor que 2,1 filhos por mulher, sendo que esse número é considerado “ideal”, já que assegura a reposição populacional e mantém a sociedade funcionando normalmente. Até o papa Francisco entrou na questão. “Hoje vemos uma forma de egoísmo. Vemos que alguns não querem ter filhos. Às vezes têm um, mas têm cães e gatos que ocupam esse lugar”, afirmou o pontífice em janeiro.

Um estudo da Universidade de Washington fez uma previsão alarmante: em 2100 ao menos 23 países terão a população reduzida pela metade

Para a professora Joice Melo Vieira, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a questão não deve ser simplificada dessa maneira. “Há questões estruturais, tanto na economia como na forma como os humanos estão se relacionando uns com os outros, que explicam muito melhor o que está ocorrendo com a natalidade do que simplesmente atribuir a uma mera substituição das crianças pelos animais”, diz. Joice afirma que os jovens são preocupados com o meio ambiente e mesmo que digam que não querem ter filhos, podem mudar de ideia. No Brasil, os últimos dados consolidados mostram uma queda de 4,7% na natalidade entre 2019 e 2020.

Uma população menor traria benefícios ao meio ambiente, já que a demanda por alimentos e transportes diminuiria a emissão de gases poluentes. Por outro lado, uma população repleta de idosos traria grandes problemas. Quem trabalhará? Como funcionará a previdência social? A tecnologia dará conta de tudo? São perguntas hoje impossíveis de responder.

Poderosa afrodite

MITOLOGIA Detalhe do quadro “O Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli (Crédito:Divulgação)
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De acordo com a mitologia grega, ela é a deusa do amor, do sexo, da fertilidade e da beleza física. Chamada de Vênus pelos romanos, Afrodite é cultuada não só no mundo da arte, como também por “devotos” da atualidade. No dia 6 de fevereiro, no qual é celebrada, as pessoas pedem a ela de tudo: vida sexual apimentada, empoderamento e, claro, o poder de engravidar. Nascida da espuma do mar, era considerada vingativa e pouco fiel ao marido Hefesto, o deus do Fogo. Afrodite teve diversos filhos, com deuses e mortais, já que era irresistível. Entre sua prole estão: Eros, o deus do Amor, Himeneu, o deus do casamento e Príapo, o deus da fertilidade, nascido de seu relacionamento com ninguém menos que o deus do vinho, das festas e do prazer: o popular Dionísio. Seja no Monte Olimpo, na Grécia, ou no Museu do Louvre, a “Vênus de Milo” é impossível de ser ignorada.