HOLANDA Diante do aumento do contágio, governo retoma medidas de isolamento social (Crédito:Jeffrey Groeneweg)

Na quarta-feira, 17, a chanceler alemã Angela Merkel alertou os céticos e negacionistas para que mudem de ideia sobre a necessidade de se vacinarem. O número de casos de Covid-19 no país cresce em alta velocidade nas últimas semanas e confirma a chegada de uma quarta onda da doença, que aflige principalmente as regiões Norte e Leste da Europa, justamente onde há um persistente movimento antivacina. Como vem acontecendo em outros países, Merkel classificou a situação local como “dramática” e pediu um esforço concentrado para que doses de reforço sejam distribuídas na Alemanha mais rapidamente para que as pessoas se imunizem. “Não é tarde demais para optar por uma primeira vacina”, disse a chanceler em uma convenção de prefeitos de cidades alemãs. “Todos que são vacinados se protegem e protegem os outros. Essa é a saída para a pandemia.” Mas a situação no momento contraria a lógica germânica. O número de alemães contagiados aumentou exponencialmente e se aproxima das 100 mil mortes. A campanha de imunização estancou porque no continente que alardeia a racionalidade iluminista um elevado número de pessoas nega a ciência e recusa a vacina.

ALEMANHA Angela Merkel classificou a situação no país como dramática (Crédito:AP Photo/Michael Probst)

O Centro de Controle de Doenças (ECDC) da União Europeia declarou que a situação epidemiológica no bloco é de “rápido e significativo aumento dos casos e uma lenta baixa na taxa de mortalidade”. Países como Bélgica, Holanda, Bulgária e República Tcheca estão em situação classificada como “muito preocupante” pelo órgão. E a explicação é clara. Na Bulgária, por exemplo, a cobertura vacinal de primeira dose gira em torno de 30%. O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa, Hans Kluge, afirmou que a região voltou ser o epicentro da pandemia. De uma modo geral, o desempenho de campanhas nacionais de vacinação é ruim – 90% dos casos de Covid acontecem em pessoas não vacinadas. O professor titular do Instituto de Química da Unicamp, Luiz Carlos Dias, diz que essa situação era prevista. “A pandemia vai continuar se espalhando entre os não vacinados e nesse grupo os casos graves de internação e os óbitos vão aumentar”, diz. “Além disso, mais cedo ou mais tarde, essas pessoas devem transmitir o vírus para as pessoas imunizadas”.

RUSSIA População rejeita vacinação e cresce número de internações e mortes (Crédito:Ilya Pitalev )

No caso da Alemanha, a situação só piora. Foram registradas 53 mil infecções nesta semana, 13 mil a mais do que na semana anterior, além de 294 mortes em 24 horas. Na Rússia, recordes de infecções e mortes são batidos semanalmente, mesmo com o país estando sob duras regras de contenção. “O vírus é um especialista no organismo humano, as pessoas vão ter que escolher entre se vacinar ou morrer”, afirma Gonzalo Vecina, médico sanitarista. Ele entende que quanto mais ondas de contaminação houverem, mais mutações altamente infecciosas, como a Delta e a Gama, podem aparecer. A desinformação causada por notícias falsas é uma resposta. “A força das fake news atinge os idiotas e eles estão no mundo inteiro”, enfatiza Vecina.

Contudo, há pontos fora da curva como a França, com 75% das pessoas imunizadas, e a Espanha, com quase 80%.
O desafio agora é convencer os não vacinados a se imunizarem. Na Áustria, diante de um novo recorde de contágio, o governo decretou lockdown para as pessoas que recusam a imunização. Se saírem às ruas poderão tomar uma multa de 500 euros (R$ 3,3 mil). A medida tornou a Áustria a primeira nação europeia a retomar o confinamento rígido, como acontecia no ano passado, no início da pandemia. Até agora no país, apenas 65% da população se vacinou, percentual inferior à média europeia, que é de 67%. Holanda, Bélgica e Alemanha também retomaram as medidas restritivas. No momento em que o inverno europeu se aproxima, começa um período de maior suscetibilidade a infecções respiratórias. O que não é aceitável é as pessoas das regiões mais desenvolvidas do planeta desprezarem a ciência de maneira egoísta, sem levar em conta o impacto na sociedade de sua resistência à imunização. Se há uma característica marcante dessa quarta onda que assola a Europa é que a responsabilidade sobre ela pode ser colocada toda nas costas dos negacionistas e do movimento antivacina, que estão limitando o alcance da proteção e gerando dúvidas inoportunas na população.