Antes mesmo de pisar na Lua, o homem já ambicionava chegar à superfície de Marte. Próximo da Terra, o planeta vermelho exerce grande fascínio e oferece a possibilidade de expandir a nossa presença no espaço além da órbita terrestre. Até agora essa barreira não foi superada. Mas o lançamento da sonda InSight, que aterrissou no astro na segunda-feira 26, dá início a um novo capítulo nas pesquisas sobre Marte e ajudará a definir a estratégia da Nasa para futuras missões tripuladas.

REGISTRO A primeira imagem enviada pela sonda mostra uma superfície plana em Marte (Crédito:Divulgação)

O principal papel da InSight, dentro de uma longa linhagem de naves e sondas enviadas a Marte, será explorar o subsolo do planeta. Ela coletará dados sobre os tremores que acontecem e tentará definir quão grossa é a superfície de Marte. Outras perguntas, como o tamanho de seu núcleo interno e quanto calor é gerado pelos elementos radioativos presentes em seu interior, também podem ser respondidas. A missão durará pelo menos dois anos e começará nos próximos meses, assim que os cientistas tiverem certeza que a sonda não sofreu nenhum dano na longa viagem. Eles precisam garantir que os sismógrafos e outros equipamentos que a InSight carrega estão funcionando perfeitamente. Afinal, só a Nasa investiu US$ 814 milhões no projeto, com outros US$ 180 milhões da França e da Alemanha, responsáveis pela construção de alguns instrumentos.

Além de satisfazer a curiosidade dos pesquisadores sobre um planeta sobre o qual ainda se sabe muito pouco, as informações coletadas em Marte podem ser bastante úteis para que se compreenda como a própria Terra foi formada e o que pode acontecer com ela no futuro. Os dois astros guardam diversas similaridades e, em tempos em que se discute o efeito das mudanças climáticas, o conhecimento sobre Marte pode evitar que o nosso planeta se torne tão inóspito quanto nosso vizinho.

ALEGRIA Assim que receberam a confirmação do pouso bem-sucedido, pesquisadores comemoraram o feito (Crédito:Al SEIB / POOL / AFP)

Se durante a Guerra Fria os Estados Unidos e a União Soviética disputavam para ver quem acumulava mais conquistas espaciais como maneira de consolidar o poder em um mundo dividido entre capitalismo e comunismo, a nova corrida espacial é muito mais complexa. Além das potências geopolíticas, que incluem novos jogadores, como China e Japão, existem empresas privadas controladas por ambiciosos bilionários que não veem a hora de colonizar outros planetas. E Marte é a próxima fronteira.

Viagens tripuladas ao planeta vermelho ainda estão longe de se tornarem realidade. A Nasa acredita que o envio de seres humanos para lá só vai acontecer na década de 2030. Jeff Bezos, CEO da Amazon e responsável pela agência espacial Blue Origin, e Elon Musk, dono da SpaceX, são mais otimistas. Musk afirmou que os foguetes que pretende enviar a Marte já estão sendo construídos, e espera realizar os primeiros testes no ano que vem.

Viajar para fora da Terra é caro, mas empreendedores como Bezos e Musk dispõem de capital quase ilimitado para financiar suas ambições. Enquanto o orçamento para a Nasa, aprovado pelo governo Donald Trump, chegou a US$ 20,7 bilhões, startups ligadas à exploração espacial já arrecadaram US$ 2,8 bilhões. O potencial de retorno financeiro ainda é limitado, pois a base de consumidores de eventuais viagens interplanetárias é bem restrita. Mas Bezos e Musk estão de olho na continuação da raça humana. “Se acontecer uma terceira guerra mundial”, disse Musk no festival South By Southwest, “temos que garantir que haverá o suficiente para trazer a civilização de volta”.