Eleito com a promessa de implantar uma nova política, Bolsonaro repete os antecessores e recorre à máquina pública para o financiamento de sua obsessão por um novo mandato. O vaivém entre estados em aviões da Força Aérea Brasileira tornou-se semanal, o Palácio do Planalto serve como palco para espetáculos golpistas do presidente e os cofres públicos estão sendo drenados para bancar um pacote social inconstitucional voltado à melhora dos números do capitão nas pesquisas. Mas não é só. O mandatário não poupa dinheiro para “entrar” na casa de todos os brasileiros e dobrou os gastos com publicidade oficial para promover as ações de seu governo, que, sem nenhum pudor, tem os mesmos motes da propaganda da campanha da reeleição.

PARANOICO Carluxo vê conspiradores no governo para a suspensão da publicidade oficial no período eleitoral (Crédito:Alan Santos)

O orçamento de 2022 bancou R$ 155,7 milhões em publicidade institucional do governo, via ministérios e Presidência, apenas nos sete primeiros meses do ano. A bolada de dinheiro equivale a quase o dobro dos R$ 79,8 milhões investidos em peças publicitárias no mesmo período do ano passado, em valores corrigidos pela inflação. Os números foram levantados pela Associação Contas Abertas, a pedido da ISTOÉ, com base em dados do portal Siga Brasil, mantido pelo Senado, e do site da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom).

A publicidade institucional, priorizada pela gestão Bolsonaro no ano eleitoral, é a modalidade usada para a divulgação de informações sobre atos e obras do governo. O dinheiro bancou, portanto, as “vitrines eleitorais” do presidente, como o Auxílio Brasil, uma versão repaginada do Bolsa Família; o Casa Verde e Amarela, a nova cara do Minha Casa, Minha Vida; e o Titula Brasil, programa de apoio à titulação de assentamentos e de áreas públicas da União, usualmente citado pelo capitão quando ele esbraveja ter “acabado” com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

De acordo com o levantamento, a campanha mais cara do ano é a que reúne os motes “Governo Fraterno”, “Governo Trabalhador” e “Governo Honesto”. Para bancá-la, a gestão Bolsonaro desembolsou R$ 87,3 milhões entre janeiro e 25 de julho. Procurado, o Ministério das Comunicações não informou quantas peças integram a ação publicitária, nem por quanto tempo ela foi veiculada. O governo ainda depositou R$ 8,5 milhões em uma campanha de prestação de contas e R$ 5,5 milhões na divulgação da implementação da tecnologia 5G no País, a menina dos olhos de Fábio Faria no Ministério das Comunicações. Como a lei proíbe publicidade oficial três meses antes das eleições, o governo retirou esse material do ar.

Ignorando a legislação, Carlos Bolsonaro, que cuida da comunicação da campanha do pai nas mídias digitais, usou a suspensão da propaganda oficial para sugerir uma “trama” de adversários políticos dentro do próprio governo. “Considero bem curioso e esclarecedor a esmagadora maioria dos órgãos de governo literalmente pararem de divulgar ações de Estado. Meios de informações gratuitas paradas e que nada têm a ver com a promoção de A ou B, como se não existissem contas a prestar ao cidadão? Lamentável!”, bradou. “Inclusive apagando histórico de ações antes de qualquer ‘entendimento posterior’! É lamentável e inacreditável!”, concluiu Carluxo.

Presidenciável com maior engajamento nas redes, Bolsonaro ampliou os repasses ao Facebook, Instagram, Twitter e TikTok para impulsionar publicações positivas sobre o governo. As transferências às controladoras saltaram de R$ 3,8 milhões em 2021 para R$ 10,2 milhões neste ano. O investimento no Google, que gerencia o YouTube, também cresceu — subiu de R$ 362,2 mil para R$ 655,1 mil. A estratégia faz sentido. Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em julho mostra que 99% dos brasileiros com idade entre 16 e 34 anos têm acesso a pelo menos um aplicativo de relacionamento. E, nesse quesito, Bolsonaro está 30 pontos atrás de Lula. Ou seja, o cidadão vem pagando a maior exposição da candidatura pela reeleição com o uso descarado de recursos públicos.