05/08/2022 - 9:30
Eleito com a promessa de implantar uma nova política, Bolsonaro repete os antecessores e recorre à máquina pública para o financiamento de sua obsessão por um novo mandato. O vaivém entre estados em aviões da Força Aérea Brasileira tornou-se semanal, o Palácio do Planalto serve como palco para espetáculos golpistas do presidente e os cofres públicos estão sendo drenados para bancar um pacote social inconstitucional voltado à melhora dos números do capitão nas pesquisas. Mas não é só. O mandatário não poupa dinheiro para “entrar” na casa de todos os brasileiros e dobrou os gastos com publicidade oficial para promover as ações de seu governo, que, sem nenhum pudor, tem os mesmos motes da propaganda da campanha da reeleição.
O orçamento de 2022 bancou R$ 155,7 milhões em publicidade institucional do governo, via ministérios e Presidência, apenas nos sete primeiros meses do ano. A bolada de dinheiro equivale a quase o dobro dos R$ 79,8 milhões investidos em peças publicitárias no mesmo período do ano passado, em valores corrigidos pela inflação. Os números foram levantados pela Associação Contas Abertas, a pedido da ISTOÉ, com base em dados do portal Siga Brasil, mantido pelo Senado, e do site da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom).
A publicidade institucional, priorizada pela gestão Bolsonaro no ano eleitoral, é a modalidade usada para a divulgação de informações sobre atos e obras do governo. O dinheiro bancou, portanto, as “vitrines eleitorais” do presidente, como o Auxílio Brasil, uma versão repaginada do Bolsa Família; o Casa Verde e Amarela, a nova cara do Minha Casa, Minha Vida; e o Titula Brasil, programa de apoio à titulação de assentamentos e de áreas públicas da União, usualmente citado pelo capitão quando ele esbraveja ter “acabado” com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
De acordo com o levantamento, a campanha mais cara do ano é a que reúne os motes “Governo Fraterno”, “Governo Trabalhador” e “Governo Honesto”. Para bancá-la, a gestão Bolsonaro desembolsou R$ 87,3 milhões entre janeiro e 25 de julho. Procurado, o Ministério das Comunicações não informou quantas peças integram a ação publicitária, nem por quanto tempo ela foi veiculada. O governo ainda depositou R$ 8,5 milhões em uma campanha de prestação de contas e R$ 5,5 milhões na divulgação da implementação da tecnologia 5G no País, a menina dos olhos de Fábio Faria no Ministério das Comunicações. Como a lei proíbe publicidade oficial três meses antes das eleições, o governo retirou esse material do ar.
Ignorando a legislação, Carlos Bolsonaro, que cuida da comunicação da campanha do pai nas mídias digitais, usou a suspensão da propaganda oficial para sugerir uma “trama” de adversários políticos dentro do próprio governo. “Considero bem curioso e esclarecedor a esmagadora maioria dos órgãos de governo literalmente pararem de divulgar ações de Estado. Meios de informações gratuitas paradas e que nada têm a ver com a promoção de A ou B, como se não existissem contas a prestar ao cidadão? Lamentável!”, bradou. “Inclusive apagando histórico de ações antes de qualquer ‘entendimento posterior’! É lamentável e inacreditável!”, concluiu Carluxo.
Presidenciável com maior engajamento nas redes, Bolsonaro ampliou os repasses ao Facebook, Instagram, Twitter e TikTok para impulsionar publicações positivas sobre o governo. As transferências às controladoras saltaram de R$ 3,8 milhões em 2021 para R$ 10,2 milhões neste ano. O investimento no Google, que gerencia o YouTube, também cresceu — subiu de R$ 362,2 mil para R$ 655,1 mil. A estratégia faz sentido. Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em julho mostra que 99% dos brasileiros com idade entre 16 e 34 anos têm acesso a pelo menos um aplicativo de relacionamento. E, nesse quesito, Bolsonaro está 30 pontos atrás de Lula. Ou seja, o cidadão vem pagando a maior exposição da candidatura pela reeleição com o uso descarado de recursos públicos.