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Um suposto golpe de Estado”. Assim o Ministério Público da Bolívia manifestou-se em relação à prisão da autoproclamada presidente interina do país, Jeanine Áñez. Ela foi detida na semana passada, na casa de um vizinho em Trinidad, cidade a seiscentos quilômetros da capital, La Paz. Durante as buscas para prendê-la, policiais pensaram até na hipótese de fuga. A grande surpresa, no entanto, logo se revelou: Jeanine estava escondida no interior do baú de uma cama box. A juíza Regina Santa Cruz determinou que ela permaneça quatro meses encarcerada. Resta, porém, uma pergunta: a que se deve a prisão de Jeanine? De acordo com as autoridades bolivianas, ela é acusada de sedição, terrorismo e conspiração na renúncia, em 2019, do então presidente Evo Morales – e é justamente isso o tal dazo “suposto golpe de Estado”, criado pelo Ministério Público bolivianos. A história expõe a fragilidade política pela qual passa o país, que entre 1964 e 1982 viveu sob o jugo de uma ditadura civil-militar — e, até hoje, não conseguiu firmar-se em uma plena democracia. Além de Jeanine, ex-ministros também foram colocados na cadeia: Álvaro Coimbra (Justiça) e Rodrigo Guzmán (Energia). Ordens de prisão foram expedidas para demais ministros, mas eles tão fora do país: Arthur Murillo (Governo) e Fernando López (Defesa).

Se no Brasil estivesse previsto o crime de “suposto golpe de Estado”, Jair Bolsonaro já estaria condenado à prisão perpétua

A disputa pelo poder que terminou em cela e cadeado começou um dia depois da divulgação dos resultados das eleições presidenciais de 2019, na qual Evo Morales conseguiu o seu quarto mandato — a oposição o acusou de fraude. Na época, a Bolívia passava por uma grave crise econômica e sanitária e, em consequência, as ruas foram tomadas por manifestantes. É nesse momento que, de acordo com as investigações, começaram as conspirações para a sua renúncia. Apesar de Morales ter proposto novas eleições (que, claro, também levantariam a suspeita de fraude), a alta cúpula das Forças Armadas, comandada pelo então chefe Williams Kaliman, começou um motim que resultou no exílio de Morales. Desde então, Jeanine Áñez se autodeclarou presidente da Bolívia. Agora, o que resta saber, é se, algum dia, a democracia boliviana existirá de fato. Basta, no entanto, um olhar sobre a história desse país para apostarmos na hipótese de que sempre existirão eleições fraudadas e “suposto golpe de Estado”.

O começo da história

Natacha Pisarenko (Crédito:Natacha Pisarenko)

A 21 de outubro de 2019, os bolivianos foram às urnas e escolheram dar continuidade ao quarto mandato do então presidente Evo Morales. O resultado do pleito era de fato questionável, tanto é que a OEA corroborou essa tese. Pouco tempo depois, voltou atrás ao ser pressionada por chefes de outras nações.

POLÍTICA
Para Biden, Putin é assassino

PROTESTO Portão de Brandemburgo: ativistas com máscaras de Vladimir Putin e Joe Biden se manifestam contra armas nucleares (Crédito:JOHN MACDOUGALL)

Há opiniões que não precisam ser ditas para serem compreendidas. Foi o que aconteceu com o presidente dos EUA, Joe Biden, na semana passada, durante entrevista para o canal EBC. Ele reagiu com leves movimentos de cabeça, que iam para cima e para baixo em sinal de concordância, quando foi questionado se achava o presidente da Rússia, Vladmir Putin, um assassino. A que se deve isso? Biden diz que Putin pode ter interferido nas eleições de 2020, com ações que, de alguma forma, tentaram favorecer a candidatura de Donald Trump. “Putin pagará um preço”, disse Biden.

31 DE MARÇO
Festa das trevas

O TRF-5 acolheu pedido do governo e autorizou que o Exército promova comemorações, no dia 31 de março, alusivas à data do golpe militar de 1964. O golpe derrubou um presidente constitucionalmente eleito e implantou a ditadura. Durante o regime militar, brasileiros foram sequestrados pelo aparato represivo do Estado, torturados, estuprados, tiveram olhos vazados, foram mortos e muitos corpos desapareceram. É lamentável que o TRF-5, órgão da Justiça que tem o dever de ofício de zelar pelo Estado de Direito, permita que se festeje regimes de exceção e, portanto, não civilizatórios.

MÚSICA
A melhor bateria do planeta

“Tenho 80 anos, mas minha idade mental é de 24. Faço as mesmas coisas de antes: danço, toco bateria e malho” (Crédito:OLIVIER MORIN)

Chega ao streaming nessa sexta-feira 19 “Zoom in”. Trata-se de um EP que traz a assinatura do baterista e ex-Beatle Ringo Starr. A música principal, “Zoom in, zoom out”, é de autoria do produtor Jeff Zobar. Ao todo, o EP, gravado no estúdio que ele tem em sua casa em Los Angeles, entre abril e outubro do ano passado, é fruto mais da obrigatoriedade do isolamento social devido à pandemia, menos da vontade de Ringo de lançar um novo trabalho. Ainda assim, é brilhante. Participação indispensável de Paul McCartney.