A novela da vida real que abalou a monarquia belga durante mais de duas décadas parece ter chegado ao fim. E o desenlace foi feliz. A artista plástica Delphine Böel, de 52 anos, conseguiu confirmar de uma vez por todas que é filha do ex-rei Albert II e ganhou o título de princesa, além do direito de receber parte da fortuna privada do monarca depois de sua morte. Desde a década de 1990, a partir da divulgação de uma biografia não autorizada sobre a esposa de Albert, Paola di Calabria, a história da existência da filha bastarda havia chegado à imprensa e causado polêmica na Bélgica. Mas, somente em 2013, depois que abdicou, por problemas de saúde, em favor de seu filho, Filipe, ele passou a ser alvo de uma ação de reconhecimento de paternidade.

O ex-rei Albert II sempre negou qualquer tipo de parentesco com Delphine e tentou, a todo custo, escapar do exame de DNA. Mesmo depois de perder a ação, ele considerou o processo questionável (Crédito:REUTERS / Laurent Dubrule)

O processo demorou a ser aberto porque durante o reinado, Albert II tinha direitos absolutos, imunidade completa perante a lei e estava blindado de fazer o exame de DNA. Ele resistiu enquanto pode e sempre se recusou a colaborar com a Justiça. Só em maio do ano passado, a Corte de Apelações de Bruxelas o obrigou a fornecer material genético para a realização do teste de DNA. Meses depois, em janeiro, o ex-rei admitiu, pela primeira vez, a paternidade. “Quero por fim a este doloroso processo”, declarou através de seus advogados. Na ocasião, os advogados disseram que a saúde do ex-Chefe de Estado, de 87 anos, estava se debilitando cada vez mais por causa do processo judicial. Delphine, por sua vez, afirmou que sua intenção “nunca foi causar dano a ninguém, em especial ao homem que considero ser meu pai”.

A defesa de Albert II, que sempre negou qualquer tipo de parentesco com Delphine, soltou um comunicado em que o monarca reconheceu a paternidade e pôs um ponto final no processo que se arrastava há sete anos. “Legalmente, ele irá encerrar essa batalha e aceitar que Delphine é sua quarta filha. Apesar de ser um processo questionável, Albert II prefere colocar o ponto final nesta história de forma digna e honrada”, afirmou um comunicado divulgado pelos defensores do monarca. Dessa forma, está praticamente descartada uma última apelação que poderia ser feita pelo rei Filipe para questionar a decisão.

Delphine é filha da baronesa Sybille de Selys Longchamps. O sobrenome Boël vem de Jacques Böel, com quem Sybille era casada na época em que se relacionou com Albert II, entre os anos 1960 e 1970. Em 2005, Delphine deu uma entrevista a um canal francês em que afirmou sua filiação real e contou que o rei belga pretendia divorciar-se da esposa Paola e casar-se com Sybille na Inglaterra. Mas a proposta foi recusada por Sybille, que tinha outros planos: casar-se com o Honorável Michael-Anthony Rathborne Cayzer, filho mais novo do 1º Barão de Rotherwick. Agora, com o reconhecimento da paternidade, Delphine ganhou o sobrenome Saxe-Coburgo Gotha.

Laços emocionais

“Vou continuar a ser Delphine. Não vou andar pelas ruas dizendo, por favor, chamem-me de princesa”, disse a nova integrante da casa real, que não sabe se a vitória na Justiça pode levar à criação de laços emocionais com o pai e os irmãos. “Se me perguntar se espero alguma coisa da família real, não espero nada. Vou apenas continuar com o meu trabalho”, disse. “Mas se eles mostrarem um sinal de aproximação nunca lhes voltaria as costas”.

A aposentadoria de Albert está longe de ser tranquila, apesar de sua riqueza infindável. A fortuna do monarca foi calculada em cerca de 1 bilhão de euros no livro “O dinheiro perdido dos Coburgo”, do especialista em finanças Thierry Debels. Agora, Delphine terá direito a uma parte dessa bolada. Segundo um dos advogados de Albert, Guy Hiernaux, mesmo com a solução do caso de paternidade, ele se sente “perseguido pela justiça e pelos meios de comunicação”, e que, por isso, “sofre enormemente”. O ex-rei da Bélgica não é santo. Nos anos 1980, surgiram rumores de que o então príncipe teria participado de festas sexuais com meninas menores de idade e se aproximado de Marc Dutroux, o mais infame pedófilo do país. Nada se confirmou. Mas o caso de Delphine mostra que Albert II é um sujeito complicado.

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