Quando a peste bubônica tomou conta da Inglaterra em meados do século 17, as autoridades sanitárias estabeleceram que os corpos precisavam ser enterrados, no mínimo, a seis pés de profundidade — o equivalente a sete palmos abaixo da terra, algo que gira em torno de um metro e oitenta centímetros. Geógrafos, arqueólogos e padres foram consultados, e teve-se a garantia que, dessa forma, cachorros e demais animais não conseguiriam cavar suficientemente o solo até chegar aos cadáveres e, em decorrência, colocar mais pessoas sob o perigo de uma contaminação ainda maior.

Pois bem, a sete palmos abaixo da terra deve ser enterrada a operadora de saúde Prevent Senior, se forem confirmadas as diversas experiências, segundo denúncias de um grupo integrado por médicos e funcionários da empresa, que teriam sido feitas em doentes de Covid, com a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina — mesmo depois de a OMS e a comunidade científica mundial, praticamente em unanimidade, terem condenado esses procedimentos.

Enterre-se a Prevent a sete palmos abaixo da terra para que não haja o risco de contaminação. Ou seja: de ela eventualmente inspirar aventureiros na área de planos de saúde a cometerem atos irresponsáveis e criminosos. Enterre-se mais fundo ainda a operadora em questão, devido às acusações, advindas da CPI do Senado, de que ela possui ligações com o denominado gabinete paralelo bolsonarista. O mínimo que se espera de quem cobra boletos em troca de plano de saúde é o zelo pela ética, em atendimento e tratamentos, e a não adulteração de declarações de óbito.

A operadora é a peste bubônica que assolou a Inglaterra no século 17

Há um cheiro putrefato no ar: a Prevent levou vantagem financeira em espécie alinhando-se com o bolsonarismo? O País tem o direito constitucional e republicano de obter respostas para tudo isso. As acusações estão à mesa. No legítimo direito ao contraditório, compondo o devido processo legal, a Prevent nega os fatos que lhe são imputados. Cabe à polícia, ao Ministério Público e à CPI o profundo e sério trabalho de investigação, para que mortos contem a suas circunstâncias de falecimento. “Há situações que não suportam dúvidas”, ensinou-nos Machado de Assis. Essa situação, envolvendo a Prevent Senior, é uma delas.

Em meio à escalada desumana dos preços dos convênios (como se integrassem um mercado de entretenimento), a Prevent surgiu com valores bem menores em ralação aos que se tornaram proibitivos à maioria dos brasileiros, propondo-se a ser o anjo da guarda. Pelo que se tem de acusações, tornou-se o dr. Jekyll e o Sr. Hyde da obra de Robert Stevenson, escrita em 1886.