Desde o início da redemocratização, o Centrão de Robertão Cardoso Alves, já falecido, sempre participou dos governos e pressionou os presidentes politicamente para obter cargos, ministérios e estatais, extorquindo governo após governo. E com Lula não está sendo diferente. O governo petista nem assumiu e o Centrão já coloca uma faca no pescoço do novo presidente. Ao aprovar a toque de caixa a PEC da Transição, que viabilizou mais R$ 168 bilhões fora do teto de gastos, o Centrão agora exige ministérios e estatais em troca. E Lula tem se mostrado pressionado e incapaz de pagar as faturas emitidas pelos líderes da corrente fisiológica que domina o Congresso.

Nesta quinta-feira, Lula anunciou mais 16 ministros além dos 5 que já havia anunciado, mas indicou nomes basicamente do PT e dos partidos aliados no primeiro turno. Os que chegaram para apoiar o governo no segundo turno, como MDB, PSD, União Brasil e outros, ainda não foram contemplados. Mas isso não significa que está tudo pacificado. Pelo contrário, Lula continua pressionado pelo Centrão e pelos partidos de centro que o apoiaram.

Esse é o caso de Simone Tebet, do MDB. Ela queria o Ministério do Desenvolvimento Social, mas o PT não topou lhe dar a pasta que simplesmente cuida do Bolsa Família. Esse ministério acabou, como se esperava, nas mãos de um petista, o ex-governador Wellington Dias. Simone acabará sendo agraciada com algum ministério de menor importância. Resta saber se ela vai aceitar ficar num cargo sem maior peso. Afinal, ela desejava um cargo com boa visibilidade porque quer ser candidata a presidente da República em 2026 e quer um posto que a coloque na vitrine da política nacional. Importa saber se vai se contentar com um ministeriozinho qualquer. Pode ser que não. Resta esperar pela lista final dos ministros que Lula vai anunciar na próxima segunda-feira.

Mas a pressão maior dos partidos do Centrão vem do MDB, do União Brasil e do PSD. O União Brasil espera obter o Ministério das Minas e Energia, além do Ministério do Desenvolvimento Regional, que tem em sua carteira a Codevasf. Já o PSD espera obter os ministérios da Infraestrutura, Agricultura e Turismo. Esses ministérios têm verbas de R$ 94 bilhões, que é um valor muito maior do que os gastos com o Bolso Família. Nada mal. Lula, no entanto, vai ter que ter habilidade para fazer as escolhas que vão acontecer de hoje a segunda-feira que vem. No intervalo dessa muvuca toda, o novo presidente vai provar o terno para a posse no dia 1º de janeiro. Haja fôlego.