Ping: VERONICA STIGGER ESCRITORA

Sua produção literária constantemente viaja entre gêneros e modalidades. Como é que o cinema entra nessa mistura?

Não foi a primeira vez que tive o cinema como norte em meus textos literários. O grande desafio com o convite da Granta era o que fazer diferente com relação ao que eu já tinha feito. Foi aí que pensei na descrição da preparação de uma cena que seria filmada.

O conto faz uma ponte entre o futuro (formulando consequências do aquecimento global) com o passado, aqui em forma de ficção (a “máquina” de Morel). Existe um caminho claro para você para equilibrar preocupações sociais com apuro estético?

É curioso que o que você indica como uma imagem de futuro seja, na verdade, também uma imagem de passado: o dia em que o lago do Parque da Aclimação secou em 2009. Usei imagens de passado como imagens de um futuro muito próximo, ou até imagens de um presente que talvez relutemos em reconhecer.

Quando escrevo, a preocupação que domina é a artística, sempre. Por mais que eu acredite que a literatura deva ser antes de tudo uma experiência de alteridade e não de identidade (como quer o credo estético-político atual), infelizmente não tenho como deixar de ser de todo eu mesma e, portanto, minhas preocupações socioambientais acabam penetrando aqui e ali.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.