Ao contrário dos idosos de antigamente, os “baby boomers” esbanjam energia. Aqueles que já passaram dos 60 anos, que há algumas décadas eram considerados “velhinhos” e precisavam se aposentar para ficar em casa, hoje estão colocando no chinelo muitos jovens com a metade de sua idade. Com a cabeça madura, mas com vitalidade de um jovem, querem cada vez mais consumir produtos e serviços relacionados com os tempos atuais e desejam se atualizar. Essas pessoas têm uma conexão com tecnologia, usam celular, computador e querem sair, ter vida social. Isso tem impactado o consumo, que começa a se adaptar. “O Brasil sempre foi o lugar do culto ao corpo e ao belo. Mas o País do futuro envelheceu, e o povo só agora está percebendo essa transformação”, avalia Márcia Sena, especialista em longevidade e CEO da Senior Concierge.

Dados do IBGE mostram que desde os anos 1950 essa faixa etária vem crescendo de forma vertiginosa. Só na última década (2012 a 2021), 12 milhões de pessoas entraram para esse grupo que, atualmente, soma mais de 37 milhões de pessoas. Célia Dias Lacerda, bancária aposentada, é um exemplo de que chegar aos 60 é um sinal de maturidade com vitalidade. Amante de esportes, de bons restaurantes e de uma boa conversa, ela não economiza quando o assunto é bem-estar e, pelo menos duas vezes na semana, separa uma hora para treinar com seu personal trainer, Natan Araujo. “Nós, mulheres, principalmente as com mais de 60, somos a antiga mulher de 40”, diz. Correspondente bancária aposentada, Célia continua trabalhando para garantir uma segunda renda e poder usufruir as coisas boas da vida. “Posso trabalhar com um horário menos extensivo e praticar esportes, me cuidar, sair com minhas amigas. Sou de uma geração que começou a se cuidar mais”, defende. Segundo Natan, esse é um público bastante rigoroso. “São pessoas exigentes tanto do ponto de vista técnico como também interpessoal.”

NA ATIVA Célia Dias Lacerda, 62 anos,faz treinos duas vezes por semana com personal treiner (Crédito:Gabriel Reis)

A “economia prateada” é um mercado em ascensão no mundo, acompanhando a tendência demográfica de envelhecimento da população. No Brasil não é diferente, com cada vez mais pessoas acima dos 60 anos seguindo ativas, produtivas e dispostas a consumir. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, enquanto a quantidade de idosos vai duplicar no mundo até 2050, no Brasil esse contingente vai quase triplicar. O País deverá ter a sexta maior população idosa do planeta.

Waldney e Roseli Carmignani, ele com 72 e ela com 67, sempre se planejaram para curtir a melhor idade. “Antes da pandemia fazíamos duas viagens internacionais por ano. Gostamos muito de cruzeiros e priorizamos roteiros em que descansamos”, diz ela. O turismo, de fato, é um setor que se beneficia com esses consumidores. Rosaura e Luís Antonio da Silva, ambos com 70 anos, exemplificam isso. São professores aposentados e adoram passear. “O melhor da maturidade é poder desfrutar a aposentadoria viajando, depois de décadas de trabalho duro”, declara ela, a bordo de um transatlântico rumo às Bahamas. De acordo com a operadora de viagens CVC, só no ano passado, 14% dos clientes embarcados tinham 60 anos ou mais.

NOVOS CONSUMIDORES A digital influencer Lygia Mara Prado, 75, acredita que as companhias se preocupam apenas com a modernidade e não pensam nos “velhinhos” (Crédito:Divulgação)

Conforme estudo da FGV, pessoas com mais de 65 anos são 17% da fatia dos 5% mais ricos, enquanto representam 4% da fatia de 40% mais pobres. De acordo com levantamento do SEBRAE, esse grupo faz circular por ano, no Brasil, R$ 1,6 trilhão. Mesmo assim, apesar de possuir maior renda e estar em expansão, esse público ainda não é priorizado por muitas marcas e empresas. “As companhias se preocupam com a modernidade e não pensam nos ‘velhinhos’. Eu ainda exploro muita coisa na internet, mas minhas amigas muitas vezes desistem”, reclama a advogada aposentada e digital influencer Lygia Mara Prado, 75.
Outro ponto a se destacar é em relação à moda. Levantamento da Hype60+ mostra que de cada 10 pessoas da economia prateada, seis estão descontentes com este mercado. Segundo Márcia Sena, as pessoas querem entrar nas lojas e reconhecer seções que sejam para elas. “Assim como há a seção infantil, a de adolescentes, feminina e masculina, que exista também a seção 60+ com produtos estilosos, mas que sejam confortáveis e bonitos”, diz ela. A executiva aponta que o consumidor maduro quer se sentir acolhido. As lojas aprenderam a valorizar a diversidade para atender diversas etnias e gêneros. Que também incluam a diversidade etária.