A escritora portuguesa Sofia Silva acaba de assinar o contrato com uma editora de seu país, a Presença, para lançar dois livros. Seria um fato até corriqueiro se não fosse o detalhe de que Sofia só chamou atenção entre os portugueses graças ao reconhecimento que primeiro alcançou no Brasil. Aqui, a editora Valentina lançou Sorrisos Quebrados, a primeira obra da autora publicada em papel, depois de fazer sucesso no mercado digital, no qual despertou o interesse dos brasileiros.

“Nunca fui tão abraçada por adultos como nessa passagem pelo Rio”, disse ela, ontem de manhã, diante de uma plateia entusiasmada, em um debate da 18ª Bienal Internacional do Livro, que vai até o dia 10, no Riocentro. E Sofia respondeu o carinho à altura, ao se dirigir pelo nome de cada uma das leitoras que conheceu no dia anterior, exibindo uma memória prodigiosa. Muitas ela já conhecia pelas redes sociais – a autora publicou sua primeira história em dezembro de 2014, pela plataforma de autopublicação Wattpad. Logo, alcançou 1 milhão de visualizações, a maioria de leitoras brasileiras. “É um carinho incomparável”, reagiu Sofia.

A imensa quantidade de jovens passeando pela Bienal refletia a variedade da programação dedicada principalmente a essa faixa etária. As atrizes e fenômenos teens Maísa Silva e Priscila Alcântara, por exemplo, atraíram grande público para seu debate, no sábado. “Os jovens leem muito e estão lendo cada vez mais. O mercado entendeu essa necessidade e hoje nós temos espaços como esse para falar sobre coisas do nosso interesse”, observou Priscila.

Já a australiana Leisa Rayven, autora de best-sellers como Meu Romeu e Minha Julieta, ambos editados pela Globo Livros, tocou em um assunto cada vez mais moderno: “Sou uma mulher que crê em mulheres. Nós somos fortes e poderosas. Temos que usar esse poder para mudar o mundo”.

Um passeio pelos largos corredores do Riocentro provoca emoções diversas no público. No sábado, uma fila imensa revelava que o rei das bienais, Ziraldo, continua honrando a coroa ao distribuir, durante horas, inúmeros autógrafos. Bienal sem Ziraldo não é Bienal.

Próximo dali, um momento emocionante com outra representante da monarquia artística brasileira: a atriz Ruth de Souza, aos 96 anos, distribuía sorrisos e posava para fotos durante a sessão de autógrafos de Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro: Relações Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza, livro lançado em 2015 por Julio Claudio da Silva. Em uma cadeira de rodas, aquela que foi a primeira atriz negra a representar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (em 1945) compensava a fragilidade física com um olhar carregado de doçura e majestade.

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Várias assinaturas em livros foram deixadas também por Lilia Moritz Schwarcz, responsável pela importante reavaliação da obra de Lima Barreto a partir do lançamento, há três meses, com a biografia Triste Visionário (Companhia das Letras). A historiadora e antropóloga lotou a sessão noturna do Café Literário, um dos mais importantes pontos de debate da Bienal. Como de hábito, Lilia apresentou aspectos importantes da escrita de Barreto que comprovam sua contemporaneidade.

O interesse pelo escritor, aliás, se alastrou pelo Brasil a partir dos convites já aceitos por Lilia que, antes de retornar à universidade americana de Princeton, em outubro, ainda vai a Porto Alegre, Goiânia, Belém, Fortaleza e Belo Horizonte. “Um interesse importante e muito bem-vindo”, avaliou a escritora.


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