Com a provável perda de sua última fortaleza nas proximidades de Damasco, os rebeldes sírios sofrem em Ghuta Oriental sua pior derrota. Enfraquecidos pelo regime, encontram-se à mercê de outros atores do conflito para garantir sua sobrevivência.

Após cinco semanas de bombardeios intensos e sitiados há cinco anos, os vários grupos islamitas que controlavam Ghuta concluíram, um após o outro, acordos de evacuação com o regime.

O mais poderoso deles, Jaich al-Islam, que ainda controla a principal cidade da região, Duma, não confirmou ter concluído tal acordo, em razão de sua ala mais dura. Mas centenas de combatentes começaram a deixar a cidade na segunda-feira, tornando a queda deste último reduto irremediável.

“A queda de Ghuta representa a mais séria derrota da revolução síria”, estima o analista independente sírio Ahmad Abazeid.

Antiga área agrícola da capital, Ghuta caiu em 2012 nas mãos dos rebeldes, que estabeleceram uma administração local e contavam com uma grande base popular entre os cerca de 400 mil habitantes do enclave.

As facções que detinham Ghuta disparavam com regularidade projéteis e foguetes contra Damasco, matando muitos civis.

“Estar nas proximidades da capital permitia que os rebeldes se apresentassem como atores principais, e agora eles não são nada”, diz Nawar Oliver, especialista em Síria do think tank Omran, com sede na Turquia.

– “Golpe considerável” –

“Este é um golpe considerável para os rebeldes, nos planos estratégico, militar e político”, acrescenta.

Depois de estar em situação complicada frente aos rebeldes, o regime de Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia, recuperou o controle de 55% da Síria, devastada por sete anos de uma guerra que deixou mais de 350.000 mortos e milhões de refugiados.

A rebelião, onde os grupos islamitas são agora dominantes, controla apenas parte de província de Deraa (sul), algumas cidades da região central da Síria e zonas na província de Aleppo, no norte. Também mantém uma presença na província de Idleb (noroeste).

Os curdos, por sua vez, estabeleceram seu poder no norte, na fronteira turca, onde são desde janeiro alvo de uma ofensiva das forças turcas apoiadas por rebeldes sírios.

Desde 2015, e o início da intervenção militar russa, os rebeldes sofreram muitas derrotas. Especialmente a queda em dezembro de 2016 de Aleppo, onde a situação foi semelhante à de Ghuta atual.

Depois de uma devastadora campanha de bombardeios, dezenas de milhares de rebeldes e civis foram evacuados dos bairros do leste da cidade, marcando uma grande derrota para a oposição armada.

“A queda de Aleppo marcou o começo do fim para os rebeldes. Mas a de Ghuta é ainda mais importante no plano simbólico”, confirma Thomas Pierret, pesquisador da universidade de Edimburgo.

“Ghuta representava um desafio permanente ao regime”, explica.

– Quais as opções ? –

Para os combatentes rebeldes, as opções agora são limitadas. Alguns podem negociar sua adesão ao regime e integrar forças leais.

Aqueles que escolherem continuar o combate, uma tutela da Turquia, protetora da rebelião, é possível – mesmo que seja um fracasso para grupos que puderam mostrar em Ghuta uma rara autonomia.

“Perder Ghuta reduz drasticamente a capacidade de manobra da oposição. Ela agora precisa de um aliado estrangeiro e os civis de uma proteção internacional que possa protegê-los de uma campanha similar”, estima Ahmad Abazeid.

“O Exército Nacional Sírio”, uma força rebelde que serve de apoio das forças turcas no norte do país onde entraram em confronto com os curdos, já fez um apelo aos ex-rebeldes de Ghuta para que se unissem às suas fileiras.

“Os eventos em Ghuta só fortalecem nossa vontade de nos desenvolver”, garantiu à AFP o porta-voz do grupo, Mohammad Abadeen.

E se eles se recusarem a lutar sob o comando de Ancara, resta apenas uma possibilidade para os rebeldes.

“Esta é a opção jihadista. Os jihadistas são o último grupo que luta contra o regime que não está sob o controle de um país estrangeiro”, recorda Thomas Pierret.