Ao mesmo tempo em que lança a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para a Presidência da República, o deputado Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, tem se reunido com vários partidos de centro, como o PSDB, Podemos, União Brasil, Cidadania e PSD, com a missão de encontrar alternativas para romper com a polarização entre o petismo e o bolsonarismo, que, de acordo com ele, muito mal tem feito ao País. “Não devemos voltar ao passado. Lula já deu sua contribuição. Mas o presente também não sinaliza para algo positivo”, disse ele, em referência a Bolsonaro. O dirigente emedebista destaca que o mandatário perdeu a mão do governo e “as prioridades deixaram de ser as reformas estruturantes para entrarem em uma pauta ideológica que está levando o Brasil a uma situação de caos”. Em entrevista à ISTOÉ na sede nacional do partido, em Brasília, Rossi sinalizou que o MDB não vai simplesmente aceitar abrir mão de ser cabeça de chapa se os outros partidos também não fizerem o mesmo. “Nós só vamos sentar à mesa para discutir a eleição com aqueles que não impuserem suas candidaturas”, afirmou ele.

O que faz o MDB acreditar que a candidatura da senadora Simone Tebet tenha chances de canalizar os votos da terceira via em 2022?
A candidatura de Simone Tebet foi algo que cresceu muito nos últimos meses dentro do partido. Historicamente, o MDB sempre contribuiu para o desenvolvimento do País. E agora não será diferente. Em 2022, teremos uma eleição que será crucial para as próximas gerações. E o MDB está apresentando uma candidata que é a novidade no cenário nacional, uma nova esperança para o Brasil. Hoje temos questões sérias a solucionar, como a inflação, o desemprego e o aumento da miséria, e a Simone tem uma vida política de muita experiência. Já foi deputada estadual, vice-governadora do Mato Grosso do Sul e já foi prefeita de Três Lagoas, no seu estado. E um prefeito sabe muito bem como resolver os problemas. A Simone tem condições de cuidar das pessoas. Como senadora tem tido grande protagonismo na política. Com respeito a todos os outros candidatos, tenho certeza que ela veio para fazer a diferença e defender um projeto de País. Acredito também que o fato de ela ser a única mulher na disputa pela Presidência seja um diferencial importante, porque as mulheres representam a maioria do eleitorado.

Simone Tebet pode ser alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro?
Sabemos que a eleição está polarizada agora, mas isso vai mudar. Não acredito que essa seja uma eleição para voltarmos ao passado, pois Lula já contribuiu com o País em seu governo, principalmente na área social, quando tirou milhões de brasileiros da miséria. De outro lado, temos hoje o presidente Bolsonaro que, infelizmente, perdeu a grande oportunidade de transformar o Brasil, de fazer as reformas que precisávamos. Infelizmente, depois da Reforma da Previdência o governo perdeu a mão nos seus projetos. As prioridades deixaram de ser as reformas estruturantes para entrarem em uma pauta ideológica que está levando o Brasil a uma situação de caos. A vida das pessoas piorou nesse período. Ninguém aguenta a gasolina a R$ 7. A população perdeu a condição de compra, em suas necessidades mais básicas. Nós não devemos voltar ao passado, mas o presente também não sinaliza para algo que o povo veja como positivo. E aí a Simone surge como novidade. Com experiência, uma mulher guerreira e corajosa. As pessoas começaram a ver na senadora condições de liderar esse movimento por uma candidatura alternativa aos extremos.

O MDB está conversando com outros partidos de centro em busca de alternativas?
Temos vários partidos do centro com os quais conversarmos para encontrar alternativa para a eleição presidencial. Estive em várias reuniões com o presidente do PSDB, Bruno Araújo. A gente vê o governador João Doria como uma grande liderança política e um grande gestor. Uma pessoa que trabalha muito, que entrega resultados. Temos dialogado também com o União Brasil, tanto com Luciano Bivar, quanto com ACM Neto, que colocam os nomes do próprio Bivar e do ex-ministro Mandetta na mesa de negociações. São dois bons nomes, que podem contribuir com o debate. Temos conversado com a Renata Abreu, do Podemos, que apresenta a candidatura de Sergio Moro. Temos conversado ainda com o Cidadania, que coloca o senador Alessandro Vieira como pré-candidato. A gente conversa de maneira bilateral com o Kassab, do PSD, que coloca Rodrigo Pacheco como pré-candidato. O MDB está disposto a sentar à mesa com todos aqueles que entendam ser possível buscar uma alternativa equilibrada de governo, que coloque o País em primeiro lugar, distante dessa ideologia que acabou prejudicando a nossa estabilidade. Mas não vamos aceitar nenhum tipo de imposição. Todos os partidos que quiserem dialogar, trocar experiências no sentido de se obter uma união para enfrentar os extremos, estamos dispostos a dialogar. O que não vai dar é alguém querer colocar uma candidatura como imposição.

Mas o MDB também não estaria impondo sua própria candidatura com Simone Tebet?
Nós admitimos que é preciso de uma união dos partidos. Mais do que a questão partidária e a questão das candidaturas, no entanto, precisamos ter um projeto de País. A Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos no MDB, se debruçou sobre os grandes temas do Brasil e apresentou um projeto que a gente está divulgando. Aqueles que tiverem projetos convergentes e quiserem dialogar, vamos conversar nesse sentido. Mas, como já falei, sem qualquer tipo de imposição. Até porque, entendemos que Simone Tebet vai ter um crescimento importante nas pesquisas entre abril, maio e junho.

O que o senhor acha dos emedebistas que conversam com Lula?
Algumas lideranças se reuniram com ele, mas aí cabe um parênteses. Quando um ex-presidente convida um líder político para uma conversa, isso não significa apoio ou compromisso. É absolutamente natural o diálogo. Assim como temos alguns líderes que também dialogam com o atual presidente, que também não significa apoio ou qualquer tipo de aliança. Queremos avançar com uma candidatura ao centro, que nos tire dessa situação em que vivemos, de uma política de guerra campal. Parece briga de torcida de futebol, de ódio e que está prejudicando a vida dos brasileiros.

O fato de o MDB ter cargos no governo dificulta os planos do partido na busca pelo centro?
O MDB definiu a sua independência na convenção nacional. Essa foi uma decisão por aclamação na chapa em que fui eleito presidente. Os dois senadores do partido, que são líderes do governo, são escolhas pessoais do presidente. Não houve nenhuma indicação por parte da direção do partido nem quanto ao líder no Senado, nem do nosso líder na Câmara, para que eles exercessem essas funções. São grandes parlamentares, com grande experiência, mas que foram escolhidos unicamente por Bolsonaro. Não há nenhuma interferência do partido. Não adianta você se declarar independente. É preciso agir de maneira independente. A minha candidatura à Presidência da Câmara e a da Simone à Presidência do Senado demonstraram isso. Quando muitos achavam que o MDB ia fazer qualquer tipo de negociação com o governo, nós mantivemos a nossa crença em um Parlamento independente. E o governo usou todos os instrumentos possíveis para ganhar a eleição no Legislativo. A nossa postura de ir até o final, de enfrentar o governo e a sua máquina, demonstra que o MDB tem uma postura de absoluta independência. É por isso também que estamos apresentando uma candidatura própria à Presidência da República.

Qual foi o maior prejuízo que o governo Bolsonaro trouxe ao País?
Exatamente a instabilidade política e institucional que surgiu nesses últimos meses. Tivemos momentos difíceis em que a guerra ideológica influenciou negativamente na economia. E a população foi a maior prejudicada: com o aumento da miséria, da fome e do desemprego. É um País sem perspectiva de crescimento econômico e sem condições de gerar emprego e renda, que, no fundo, é o que as pessoas esperam do novo presidente.

Como o senhor avalia o governo Bolsonaro na pandemia?
O que se espera de um presidente são bons exemplos. Ao longo da pandemia, vimos atitudes que não são dignas de um chefe de Estado, sobretudo quando se negou a se vacinar, quando não orientou as pessoas sobre o uso de máscaras, quando muitas vezes fez brincadeiras com casos sérios e que traumatizaram a sociedade. Tem muita gente que ainda não tomou a vacina porque o presidente não faz nenhuma sinalização nesse sentido. O negacionismo foi péssimo para o País. Bolsonaro não pode agir como agia nos 30 anos em que foi parlamentar. Na pandemia, tivemos muitas falhas e isso teve repercussão na economia e na vida das pessoas. Essas dificuldades fizeram com que a gente chegasse a 14 milhões de desempregados, a 20 milhões de famintos e a uma perspectiva de estagnação da economia no ano que vem.

Por que o Congresso se esforça tanto para manter o orçamento sob segredo?
Não é bom para ninguém que seja assim. A Câmara e o Senado já mostraram que têm intenção de fazer com que o orçamento tenha transparência. Mas fica sempre a dúvida sobre esses dois últimos anos. Precisamos fazer com que a população veja que os recursos estão sendo bem empregados. Não vejo outro caminho senão dar total publicidade às emendas de relator e também às que são de autoria dos parlamentares. Porque aí não tem como fazer qualquer tipo de especulação ou gerar dúvidas.

O que achou sobre a decisão da ministra Rosa Weber em liberar os pagamentos de emendas de relator?
O orçamento secreto acaba influenciando nas votações mais importantes do Congresso. Sempre fui defensor das emendas parlamentares. Elas fazem parte do exercício do mandato. Agora, precisa ser transparente. Não dá para que se façam as coisas por debaixo do pano. Não dá para ser apenas para meia dúzia de parlamentares. Tem que ser algo que tenha impessoalidade. Se não tem nenhum problema de indicar emendas para a base de atuação. Não deve ter nenhum problema também em se mostrar quem são os parlamentares que estão encaminhando as emendas. A ministra deu um tempo para que seja divulgada a lista das emendas e seus autores. O caminho é esse: dar total transparência para que não pairem dúvidas sobre a finalidade dessas emendas.