Professor sofre. Muita responsabilidade, alunos indóceis, carga horária massacrante – e o salário, ó…, como dizia aquele personagem de Chico Anysio. Mas em O Professor Substituto, de Sébastien Marnier, vemos o personagem do título enfrentando uma missão para a qual nem mesmo os mestres mais devotados parecem estar preparados.

Pierre Hoffman (Laurent Lafitte) é chamado para substituir um professor numa escola de elite. O titular, pelo jeito, teve um breakdown daqueles e escolheu saída pouco convencional para se livrar dos problemas. Hoffman logo começa a suspeitar das razões do gesto tresloucado do antecessor. A classe é difícil. Mais que difícil – é impossível. E não porque os alunos sejam ruins. Pelo contrário. São bons. Ótimos, para dizer a verdade, pois fazem parte de uma classe de excepcionais, muito adiantados em relação a colegas da mesma idade. São superdotados. E têm preocupações que adolescentes da sua idade costumam desprezar. A iminente falência ecológica do mundo, por exemplo.

Baseado no livro de Christophe Dufossé, o filme de Marnier tem qualidades. Constrói-se como um thriller eficiente a maior parte do tempo. Nesse tipo de projeto, a noção de clima e sugestão são fundamentais.

O diálogo que a história trava com Kafka, em especial com o romance Metamorfose, ajuda a criar esse clima de tensão crescente. Mas não é sempre que o ritmo narrativo acerta o passo entre o que se espera e o que se revela. Acerta, porém, ao atualizar a angústia kafkiana em termos das paranoias europeias, a respeito de atentados e invasões. Como Hoffman não é um narrador confiável, não sabemos se tudo se passa na “realidade” ou se sua imaginação, influenciada por Kafka, a quem dedica um estudo, tem sua responsabilidade na história. Essa ambivalência melhora o filme.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.