Inspirada na farda de soldados que lutaram contra Napoleão, combinação tricolor também é uma resposta às três cores do estandarte francês.Após um acalorado debate, as mães e os pais da Lei Básica da Alemanha de 1949 redigiram a frase no artigo 22 da nova Constituição: “A bandeira federal é preta, vermelha e dourada”. Essa combinação de cores tem uma história de pelo menos 200 anos na Alemanha. A bandeira hoje representa as tradições de liberdade e democracia, mas o caminho até esse significado foi longo.

Por muito tempo, as origens da tríade negro-rubro-dourada foram localizadas na Idade Média. No entanto, isso já é considerado uma projeção colocada a posteriori. É verdade que o brasão do Sacro Império Romano-Germânico mostrava uma águia negra com pernas vermelhas contra um fundo dourado, mas essas não eram as cores oficiais deste primeiro império alemão.

Suposta origem medieval

A combinação de cores só se tornou um símbolo político após as “guerras de libertação” por volta de 1815 contra o Império Francês sob Napoleão, que tinha ocupado grande parte do território que é hoje a Alemanha.

Durante a guerra, a propaganda política prussiana destacava uma unidade em particular: a tropa de voluntários do major Ludwig Adolf Wilhelm von Lützow, que logo em seguida foi chamada de “Lützower Jäger” (caçadores de Lützow). A unidade devia sua fama não apenas a membros conhecidos, como Friedrich Ludwig Jahn – apelidado de “pai da ginástica” por suas realizações na área do esporte – , o compositor romântico Carl Maria von Weber e o escritor Theodor Körner, que mais tarde escreveu o popular poema A caça selvagem de Lützow.

A unidade voluntária de Lützow também se destacava por sua aparência: uniformes pretos, emblemas vermelhos e botões dourados. Mas o preto apareceu por necessidade: os voluntários é que traziam, eles mesmos, suas fardas. Para torná-las o mais uniformes possível, a maneira mais fácil era tingi-las de preto. Outras cores eram difíceis de encontrar naquela época.

Resposta à tricolor francesa

Quando, no final da guerra de libertação contra Napoleão em 1815, por iniciativa do “pai da ginástica” Jahn, associações estudantis de toda a Alemanha se reuniram em Jena para formar uma federação nacional de estudantes, elas escolheram uma bandeira com listras verticais em vermelho, preto e vermelho e um ramo dourado no meio. As cores eram inspiradas nos uniformes da tropa de Lützow.

Essas cores foram adotadas pelas forças que se formaram na Alemanha no início do século 19 reivindicando uma república e unidade nacional. No “Hambacher Fest” de 1832, uma espécie de festival gigantesco do movimento pela democracia, bandeiras listradas de amarelo, vermelho e preto eram agitadas. Com isso, a tricolor francesa ganhava a concorrência a uma “tricolor alemã”.

As cores simbolizavam unidade nacional e liberdade civil. Em 1848, o Parlamento de Frankfurt e a Assembleia Nacional Alemã declararam o preto, o vermelho e o dourado as cores da Confederação Alemã ou do Império Alemão a ser fundado. Durante a Revolução de 1848/49, por exemplo, bandeiras com essas cores tremulavam em algumas barricadas de Berlim, assim como na Assembleia Nacional da Paulskirche de Frankfurt.

Mas depois da repressão sangrenta à revolução, só restou a Confederação Alemã, dominada pela Prússia e que não queria mais ter nada a ver com o democrático símbolo negro-rubro-dourado. Como resultado, a combinação de cores foi até mesmo proibida em alguns estados alemães.

Em 18 de janeiro de 1871, Otto von Bismarck leu a Proclamação Imperial no Salão dos Espelhos de Versalhes. A vitória sobre a França na Guerra Franco-Alemã (1870/1871) levou ao estabelecimento do Império Alemão. As cores da Prússia, branco e preto, complementadas pelo vermelho das cidades hanseáticas, tornaram-se as cores da nova bandeira do Estado.

A Assembleia Nacional que se reuniu em Weimar após o colapso do império, novamente determinou o preto, o vermelho e o dourado em 1919 como as cores da bandeira do agora republicano Império Alemão. Isso foi precedido por uma amarga disputa entre republicanos, que exigiam negro-rubro-dourado, monarquistas e comunistas, que exigiam uma bandeira totalmente vermelha.

Suástica

A interação do preto, vermelho e dourado como a bandeira nacional durou apenas até setembro de 1935. No Congresso do Partido Nazista de Nurembergue, não apenas as “leis raciais” foram aprovadas, mas a bandeira com suástica também foi declarada a bandeira nacional – e ao mesmo tempo os judeus foram proibidos de usá-la.

O uso abusivo de símbolos nacionais na Alemanha nazista levou a uma relação mais cautelosa e comedida com eles no início da República Federal. Em 1949, o Conselho Parlamentar votou pelo preto, vermelho e dourado como as cores da bandeira nacional da República Federal da Alemanha. Em 1950, o jovem país ganhou também um brasão nacional, formado por uma águia negra estilizada sobre um fundo dourado, com garras vermelhas. Era um descendente tardio da águia que esvoaçava no brasão do Sacro Império Romano-Germânico. Este brasão, entretanto, só deve ser usado por órgãos estatais.

Cores de dois Estados alemães

As bandeiras com as cores preta, vermelha e dourada fizeram uma grande aparição durante a chamada revolução pacífica na República Democrática Alemã (RDA) em 1989: os manifestantes contra o regime comunista acenavam a bandeira, mas sem os símbolos estatais da RDA. Porque também a Alemanha socialista tinha adotado em 1948 essas mesmas cores em sua bandeira, mas com um martelo e um compasso estilizados em meio a uma coroa de flores.

Mesmo que o negro-rubro-dourado simbolize hoje uma Alemanha cosmopolita, é assustador que, desde 2015, organizadores e participantes de manifestações extremistas e racistas de direita venham usando as cores da bandeira alemã para seus próprios fins.