A Oracle está na moda

Integrante da “velha guarda” do mundo da tecnologia, empresa ganhou novo fôlego com soluções de nuvem e inteligência artificial

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Logotipo da Oracle exibido na Sphere, em Las Vegas, onde ocorreu o AI World Foto: Divulgação

De Las Vegas (EUA) *

Há décadas entre as pessoas mais ricas do planeta, Larry Ellison estava no topo do mundo ao fazer seu discurso no Oracle AI World, evento realizado na semana passada nos Estados Unidos. A empresa fundada por ele, muitas vezes classificada como “chata” em comparação a nomes como Google, Meta e Amazon, voltou a figurar entre as companhias mais quentes do setor. E a principal razão está relacionada ao avanço da inteligência artificial.

Com seu entusiasmo característico, Ellison afirmou aos 16 mil presentes no evento que a IA vai mudar o futuro da humanidade. É hábito subir ao palco em um encontro anual para falar sobre os caminhos da empresa e da tecnologia. “Vamos viver com mais qualidade, por mais tempo, comer melhor e morar em casas melhores”, disse.

Previsões entusiasmadas à parte, ele tem boas razões para apostar forte no “mundo maravilhoso da IA”. A inteligência artificial e as tecnologias de computação em nuvem reacenderam o interesse do mercado pela Oracle e, como consequência, aumentaram drasticamente a fortuna de seu fundador. Apenas neste ano, as ações da Oracle valorizaram 70%, bem acima de outras big techs como Amazon, Google, Apple e até mesmo a “superquente” Nvidia.

Uma das razões desta valorização foi a divulgação de um acordo com a OpenAI, criadora do ChatGPT, no início de setembro. O acordo prevê que a OpenAI irá pagar US$ 300 bilhões ao longo de cinco anos para que a Oracle desenvolva a infraestrutura de nuvem necessária para expandir o ChatGPT e outras aplicações de IA. Além de prover serviços para a OpenAI, a Oracle possui acordos semelhantes com gigantes como Microsoft, Meta e xAi (de Elon Musk).

O acordo bilionário com a OpenAI é apenas parte do envolvimento da Oracle no projeto Stargate, um ambicioso plano do governo norte-americano para assegurar que o país mantenha a liderança na corrida da inteligência artificial, em face da concorrência cada vez maior da China. O projeto prevê a construção de dezenas de data centers em território americano, e a Oracle terá participação fundamental no projeto.

De volta à cena

Lançada em 1977, a Oracle fez seu nome nos anos 1980 e 1990 ao dominar o setor de bancos de dados, em uma época em que a digitalização das empresas estava em seus primórdios. Atualmente, além deste setor, a Oracle tem soluções na área de software de planejamento e gestão (ERP), computação em nuvem e aplicações de inteligência artificial.

A companhia largou atrasada na corrida da computação em nuvem. Mas nos últimos anos vem ganhando espaço neste mercado. Uma das primeiras estratégias da Oracle foi levar seus bancos de dados para a nuvem, por meio de sua própria estrutura, a Oracle Cloud Infrastructure (OCI), e também fazendo acordos com Microsoft, Amazon e Google, as três companhias dominantes no mercado de cloud computing. Mais recentemente, o envolvimento no projeto Stargate e os acordos com a OpenAI elevaram o patamar da empresa no cenário da corrida da IA.

Risco de bolha?

Apesar da euforia e dos números recordes, o mercado de IA navega sob a sombra de uma incerteza: o temor de uma bolha similar à que ocorreu na virada dos anos 2000. Ao longo dos últimos meses, o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem manifestado preocupação com a valorização acelerada de companhias de tecnologia focadas em IA.

As principais dúvidas do FMI e de outras instituições residem na sustentabilidade do atual modelo de investimentos massivos em chips, datacenters e outros componentes necessários para apoiar o avanço da IA. A própria OpenAI opera atualmente no prejuízo. Assim, a Oracle em tese correria o risco de investir fortunas para montar a infraestrutura e não “receber o cheque”.

Refletindo essas preocupações, a agência Moody’s emitiu um comunicado em setembro no qual classifica o acordo Oracle/OpenAI como ‘’histórico”, mas ao mesmo tempo afirma que os riscos do projeto são “significativos”. A agência de risco advertiu ainda que a companhia de
Ellison pode passar por uma fase de “altíssimos níveis de investimento, o que pode gerar períodos prolongados de alavancagem financeira e balanços financeiros negativos”.

No limite, para que o atual otimismo do mercado se sustente, será necessário saber se o interesse das corporações por serviços e aplicações de IA vai se traduzir em investimentos. Caso isso não ocorra, a correção de rumo nas empresas de tecnologia pode ser brusca. No caso da Oracle, no entanto, a hora é de comemorar.

Ele, o oráculo

Larry Ellison, fundador da Oracle, durante o AI World 2025

Boa parte do atual sucesso da Oracle pode ser creditada a Larry Ellison, 81, fundador da companhia. Ele deixou o cargo de CEO em 2014, mas ainda é o maior acionista da empresa, além de ser CTO e presidente do conselho. Por isso, é visto pelo mercado como a pessoa que define a estratégia global da companhia.

Próximo de Donald Trump, Ellison foi um dos três nomes do mundo da tecnologia presentes na Casa Branca no lançamento do projeto Stargate em janeiro deste ano, ao lado de Sam Altman, da OpenAI, e Masayoshi Son, do conglomerado japonês Softbank. Recentemente, o executivo estendeu sua influência também para o mundo da mídia. Em junho deste ano, a Skydance, empresa controlada pelo filho de Ellison, David, se fundiu à Paramount em um negócio estimado em US$ 8 bilhões.

Sem a fama de Bill Gates (Microsoft) ou Steve Jobs (Apple), Ellison se mantém na seleta lista de “gurus” do Vale do Silício. Atualmente, é a quarta pessoa mais rica do mundo com fortuna na casa de US$ 190 bilhões, ficando atrás apenas de Elon Musk (Tesla e X), Mark Zuckerberg (Meta) e Jeff Bezos (Amazon).

A Oracle em números

— 162 mil funcionários

— US$ 880 bilhões é o valor de mercado

— US$ 57 bilhões* é a receita em 2025

* Valor referente ao ano fiscal da empresa, encerrado em maio

* O jornalista viajou a convite da Oracle