Tarcísio de Freitas começou o governo pisando em ovos, sem provocar Lula, mas tentando manter distância de Bolsonaro. Queria ser a alternativa da direita ao poder, longe do extremismo da ultradireita bolsonarista, e, ao mesmo tempo, desejando ser o contraponto ao petismo envelhecido. Tanto que aproveitou o exílio do ex-capitão em Miami para se consolidar e simultaneamente foi visto em várias oportunidades junto com Lula, mostrando estar disposto a governar em parceria com seus adversários. Mas isso durou pouco. Nas últimas semanas, o governador paulista está mostrando que quer, sim, fazer oposição a Lula, embora sem travar grandes bravatas. Deseja marcar, porém, a diferença entre os dois, para que isso seja explorado em 2026, nas próximas eleições presidenciais.

Diferenças

O governador paulista começou mostrando que, ao contrário de Lula, que chamou o MST para participar do “Conselhão” e até integrou João Pedro Stédile à comitiva para a China, deixou claro que vai criminalizar o movimento sem-terra, prometendo prisão aos invasores de propriedades rurais no Estado. Concedeu aumentos a policiais, que o PT não tolera.

Reeleição

Embora diga-se que será candidato à presidente em 2026, seus articuladores políticos preferem que ele seja candidato à reeleição, deixando o Palácio do Planalto para 2030. Esse pensamento já foi externado por Marcos Pereira, presidente do Republicanos, seu partido, e por Gilberto Kassab, presidente do PSD, seu braço direito no governo paulista

As visitas de Lula aos quartéis

Brigadeiro Marcelo Damasceno (Crédito: Pedro Ladeira)

Lula esteve reunido com generais do Alto Comando do Exército na última semana e pediu aos militares para ser convidado a mais eventos das Forças Armadas. Quer visitar mais os quartéis. O petista já marcou duas agendas com integrantes da Aeronáutica. Ele irá acompanhar o start na produção do caça F-39, o Gripen, e tem um almoço marcado com o comandante da Força, o brigadeiro Marcelo Damasceno.

Retrato falado

Luís Roberto Barroso: “O 8 de janeiro trouxe uma reação mais forte da sociedade que o 6 de janeiro nos EUA” (Crédito: Roberto Casimiro) (Crédito:Roberto Casimiro)

Luís Roberto Barroso disse ao Valor que o ataque golpista às sedes do Três Poderes em 8 de janeiro por apoiadores de Bolsonaro foi resultado de um período em que se estimulou o “pior das pessoas em termos de ódio e agressividade”, somado a uma “combinação de incompetência e cumplicidade”. Para o ministro, que deve assumir a presidência do STF em outubro, o trauma criado com o vandalismo só passará depois que o País sofrer um processo de desobsessão da mentira”.

O show do milhão

A pergunta que vale US$ 1 milhão é: quando o BC reduzirá a taxa
de juros? Se dependesse de Lula, cairia já na próxima reunião do Copom, em junho. Ou melhor, teria caído há muito tempo. Mas, se depender de Roberto Campos Neto essa resposta só será dada depois que o Congresso aprovar
o novo arcabouço fiscal. Ocorre que o projeto está parado na Câmara, sem previsão de votação. Inicialmente, Arthur Lira disse que aprovaria a matéria até o dia 10 de maio, sendo seguido por Rodrigo Pacheco, que garantiu à ISTOÉ que votaria o assunto até o fim do mês. Mas já estamos no meio de maio e não há sinais de que o Congresso cumprirá esses prazos. Isto posto, não há resposta.

Incertezas

Os integrantes do Copom usaram exatamente essa letargia do Congresso na apreciação das novas regras fiscais para justificar a manutenção da Selic nos atuais 13,75%. Se o novo arcabouço fiscal já tivesse sido aprovado, seria possível que na reunião dos dias 20 e 21 de junho as taxas caissem. A ver.

Novas CPIs

Arthur Lira decidiu instalar mais uma CPI na Câmara. Desta vez, o foco do colegiado é apurar os chamados esquemas de pirâmides financeiras com criptoativos. A expectativa é que o presidente da Casa dê andamento à comissão ao retornar de viagem para Nova York, onde participou de evento do Lide. Ele já havia aberto outras CPIs, como a do MST.

Arthur Lira: foco apurar os chamados esquemas de pirâmides financeiras com criptoativos (Crédito: Matheus W Alves)

Haja palco…

Mas não parou por aí. Além da comissão para investigar a atuação dos sem-terra, ele deu o aval para a criação da CPMI do 8 de janeiro, uma sobre as fraudes em apostas esportivas e uma outra destinada a apurar a derrocada das Lojas Americanas. Haja palco para os deputados desfilarem os looks que serão usados durante as eleições do ano que vem.

“O brasileiro é muito conservador”

Dom Jaime Spengler (Crédito: Donaldo Hadlich)

O novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler, diz que a esquerda brasileira deveria enrolar bandeiras mais progressistas, como a legalização do aborto, e se aproximar dos cristãos debatendo temas mais palatáveis, como o combate à pobreza e à desigualdade social. Para ele, “o brasileiro tem espírito muito conservador”, afirmou.

Toma lá dá cá

Angelo Coronel (PSD-BA),relator do PL das Fake News no Senado (Crédito: Waldemir Barreto) (Crédito:Waldemir Barreto)

O governo saiu derrotado com o adiamento da votação do PL das Fake News na Câmara?
Esse não é um tema de governo, mas da sociedade. O envolvimento direto do governo talvez tenha fomentado críticas que falam em censura, o que não é objetivo do projeto.

Há mudanças substanciais entre o que foi aprovado no Senado e o que está na Câmara?
O texto que saiu do Senado deveria ser mais debatido pelos deputados. Penso que o razoável é a evolução a partir daquilo já construído pelo Senado e conhecido desde 2020.

Como o senhor avalia a ofensiva das plataformas contra a proposta?
É preciso avaliar se houve abuso de poder econômico. Não podemos passar para a sociedade a impressão de que o PL 2630 busca a censura.

Rápidas

* Renan Calheiros brigou para que a CPMI do 8 de janeiro fosse instalada, mas agora tem dito a aliados que avalia nem sequer participar da comissão. Caso o recuo se confirme, será um duro golpe para o governo, que contava com o senador inclusive para a relatoria.

* Após o STF negar novo pedido de liberdade de Anderson Torres, o TJ-DF impediu a soltura de George Washington, o bolsonarista acusado de tentar explodir uma bomba em um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília.

* Pacheco está num fogo cruzado quanto ao projeto do governo mudando as regras do saneamento. Governistas pedem que ajude a alterar o que foi derrubado na Câmara, enquanto a oposição quer que a matéria seja votada já este mês.

* Investigado por prevaricação pela CPI da Pandemia, o ex-ministro da CGU Wagner do Rosário deu um tiro no pé: foi responsável por iniciar a apuração sobre as fraudes no cartão de vacinação de Jair Bolsonaro.