A prisão de Filipe Martins, ex-assessor especial de Jair Bolsonaro, em fevereiro de 2024, gerou uma onda de desinformação sobre os motivos que o levaram à cadeia. O bolsonarismo inventou e propagou nas redes sociais em larga escala a mentira segundo a qual a prisão de Martins foi decretada por Alexandre de Moraes com base em uma notícia publicada pela coluna em 4 de outubro de 2023.
Na ocasião, a coluna informou que Filipe Martins havia entrado nos Estados Unidos, em Orlando, em 30 de dezembro de 2022, e depois disso seu paradeiro era desconhecido até por aliados. A informação era baseada num sistema oficial do governo americano e público. Após Martins mostrar provas que indicam que ele não teria viajado, a coluna corrigiu a informação para deixar claro que a entrada havia sido registrada, mas que não seria possível afirmar com base apenas nisso que ele havia de fato entrado.
Na mesma data em que a entrada de Martins foi registrada nos EUA, Bolsonaro chegou ao país para não passar a faixa presidencial a Lula.
Ocorre que nem a decisão de Moraes que mandou prender Martins preventivamente, nem as manifestações da PGR sobre o caso nem o relatório da Polícia Federal sobre a trama golpista se basearam na notícia publicada pela coluna.
A desinformação que relaciona a reportagem da coluna à prisão de Martins foi difundida por Eduardo Bolsonaro, que a propagou nas redes bolsonaristas, e pelo jornalista Glenn Greenwald, que trabalha para a Folha e S.Paulo. Mesmo avisado pelo titular desta coluna, Greenwald não fez as devidas correções em suas publicações no jornal e no X. À Folha, Greenwald afirmou que teria a informação de que a prisão havia sido motivada pela reportagem, mas não apresentou provas disso. Os três órgãos confirmaram oficialmente que não se basearam na reportagem da coluna.
A informação de que Filipe Martins teve a entrada registrada nos EUA em 30 de dezembro de 2022 está correta.
Nesta terça-feira, 22, a Primeira Turma do STF vai analisar a denúncia apresentada pela PGR contra Filipe Martins a partir das investigações do golpismo no governo Bolsonaro. Ele é acusado dos crimes de integrar organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.