Na praia de Cabo Polônio, no Uruguai, razoavelmente isolada do mundo – a cidade mais próxima com acesso à internet pode ser alcançada após uma caminhada de mais de uma hora pela praia, em um passeio bastante aconselhável, inclusive -, nascia Onda Vaga. Na ausência das toneladas de informações cotidianas, o que era uma brincadeira acústica entre quatro amigos virou algo sério. Um quinto integrante se juntaria ao grupo quando eles voltaram a Buenos Aires. Nessa fusão de sabores e sons latinos, a banda dava os primeiros passos.

Em Porto Alegre, Onda Vaga já chegou a tocar para um público de 1,5 mil pessoas durante o encerramento do festival El Mapa de Todos, em 2015. No ano seguinte, uma nova turnê pelo Brasil, desta vez incluindo uma data em São Paulo. Na “buena onda” pela qual passa o mercado latino-americano independente, as bandas nacionais cruzam as fronteiras com os países vizinhos com frequência maior. O contrário também. O Onda Vaga fará três apresentações por aqui: quinta-feira, 5, na Ladeira das Artes, no Rio de Janeiro; sexta, 6, no Sesc Pompeia, em São Paulo, e sábado, 7, no Opinião, em Porto Alegre.

Com o quinteto chegará também o álbum OV IV (cujo título une as iniciais do nome da banda e o número quatro em algarismo romano). Lançado de forma independente, o disco (em formato de CD) poderá ser encontrado à venda durante as apresentações.

Nacho se esforça para entender e falar português. É, diz, grande fã de Caetano Veloso e música brasileira. Perdeu a conta de quantos discos levou para casa, em Buenos Aires, quando veio ao Brasil pela última vez. “Existe uma nova abertura para a música latina no Brasil, isso é evidente”, ele avalia. “Não que isso seja muito necessário, porque acredito que vocês estão muito bem servidos quanto a isso”, elogia.

OV IV é o quarto trabalho do Onda Vaga, o mais experimental e menos leve também. Pela primeira vez, a banda convocou um produtor para auxiliá-la na confecção do trabalho no estúdio. Ezequiel Kronenberg, também argentino, comandou o quinteto e aparou as arestas que surgiram, principalmente nas discussões a respeito da forma como as músicas deveriam ser finalizadas. “Foi um clima mais leve”, conta Ignácio Rodríguez, o Nacho, vocalista e responsável por violão e cuatro (uma espécie de violão venezuelano). No Onda Vaga, todos podem cantar. E há beleza no enlaçamento de vozes tão frágeis.

Todos podem, também, palpitar sobre os rumos da canção. Numa anarquia saudável, a banda costumava ter cinco vozes ativas nas decisões sonoras a serem seguidas. Com a chegada do produtor Kronenberg, contudo, eles o deixaram com a função de decidir pelas versões das 11 canções. “Algumas delas me surpreenderam, inclusive”, lembra Nacho. Leona, uma das mais populares dessa quarta safra de canções, está entre as que mais espantaram os músicos. “Ficávamos nos perguntando no que se tornariam as nossas canções”, conta Nacho. “O disco, esse novo, me parece ter três dimensões.”

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É, afinal, a profundidade o que busca o Onda Vaga. Unindo instrumentos de diferentes países da América Latina, o grupo também acrescentou beats elétricos. Cria-se, agora, um novo embate entre o folclore e o moderno, o mito e o futuro. Um exemplo disso é No Es Un Exceso, escrita por Marcos Orellana (que também toca cajón peruano), soa como uma lufada de vento que desce veloz os Andes até se chocar com uma planície aquecida pelo sol. Há algo de campestre ainda no Onda Vaga, mas sua composição está mais madura. Mais urbana, menos tilelê.

“Entendo que nós nos demos mais liberdade criativa, inclusive, ao deixarmos de assumir a função de sermos produtores do disco. Isso nos possibilitou ir para outros lados. Sem dúvida, esse disco, o OV IV, é o nosso trabalho mais profundo e mais amplo. Gravamos com instrumentos antigos, como alguns instrumentos de percussão africanos, e com sintetizadores e guitarras elétricas. Ampliou o espectro sonoro do nosso grupo”, conta o músico.

A partir desse ambiente sonoro cada vez mais distante das noites experimentando vozes e violões em Cabo Polônio, o Onda Vaga passa a enfrentar a urbanidade nas suas canções. A dureza do concreto amplia o escopo do que antes era um grupo de jovens praianos com canções evidentemente boas para noite sob a luz do luar em volta de uma fogueira. “É um disco com o qual vamos para novos caminhos. Quando abro os olhos durante esse disco, enxergo um sol. É uma imagem de força.”

ONDA VAGA

Sesc Pompeia. Comedoria

(500 lug.). R. Clélia, 93, Pompeia, tel. 3871-7700. 6ª (6), às 21h30. R$ 9 a R$ 30.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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