O desafio de enfrentar a Covid-19 se agrava a cada dia por causa da demora do governo federal em tomar medidas mais assertivas e coordenadas no combate à pandemia. É uma omissão que começa na porta de entrada do sistema sanitário, os hospitais e postos de saúde, com a falta sistêmica de equipamentos de proteção individuais (EPIs), como luvas, máscaras, álcool em gel e até sabonete líquido, estendendo-se aos aeroportos, onde não há controle na triagem de quem chega do exterior, com a inexistência de simples aparelhos para medir uma febre desses viajantes, por exemplo.

A demora em agir também implica na falta dos testes de diagnóstico e, pior, de ventiladores mecânicos, equipamento essencial para o atendimento de casos mais graves, destinado aos pacientes que estão internados em leitos de UTI com complicações respiratórias causadas pelo vírus.

Responsável pela administração de 47 aeroportos do país, a Infraero tem uma página de orientações em seu site com informações oficiais do Ministério da Saúde para atender, sobretudo, os funcionários e viajantes, mas na prática as medidas de proteção, como um simples termômetro para medir a febre das pessoas que chegam aos terminais, são ignoradas por todos. Isso acontece especialmente nos aeroportos mais movimentados, como os de Brasília (DF) e Guarulhos (SP), que têm um trânsito diário de cerca de 165 mil pessoas: todas ficam expostas à Covid-19. O prefeito de Guarulhos, Gustavo Henric Costa (PSB), sugeriu ao governo federal o fechamento do terminal de passageiros, destinando-o apenas ao transporte de itens de extrema necessidade, como remédios e equipamentos médicos, mas não foi atendido. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) alega que a decisão de fechar aeroportos é do governo federal e a Infraero silenciou.

A falta de testes para diagnósticos é outro revés causado pela omissão do governo. Clínico geral, Fernando Cavalcante critica a displicência das autoridades sanitárias. “Os kits de diagnóstico e os EPIs são básicos, não podiam estar em falta, com acontece hoje na maioria dos hospitais e postos de saúde”, diz Cavalcante. Fato é que a demanda por equipamentos de proteção individual cresceu de forma tão exponencial que obrigou o Ministério da Saúde à compras sem licitação, em razão da decretação do estado de emergência, como aconteceu no caso da compra de 1,5 milhão de máscaras cirúrgicas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a necessidade mensal de máscaras para enfrentar a Covid-19 no Brasil é de cerca de 89 milhões de unidades, apenas para o uso de médicos, enfermeiros e outros sanitaristas que estão na linha de frente no combate ao coronavírus. A projeção da OMS para o atendimento dos profissionais de saúde é de ter um aumento de 40% na produção de máscaras cirúrgicas e de outros itens de segurança, como luvas, álcool em gel e sabonetes.

O drama dos respiradores

O caso mais dramático é o da falta de ventiladores mecânicos ou respiradores. O Brasil tem apenas 65 mil ventiladores, 46,6 mil deles no Sistema Único de Saúde (SUS). Isso representa uma média de três máquinas para cada 10 mil habitantes, o que é insuficiente, considerando que o Brasil já tem mais de 2.600 pessoas acometidas pelo coronavírus e esse número deverá crescer muito mais a partir de abril – quando entraremos no período mais frio, quando se agravam as doenças respiratórias, como é o caso da Covid-19. Várias empresas, inclusive, já estão se adaptando para fabricar esse tipo de produto, em um volume já estabelecido pelo Ministério da Saúde: de três a quatro mil ventiladores por mês, só para o atendimento das unidades do SUS. A prioridade, segundo o governo, será o atendimento dos hospitais do norte e nordeste, que concentram 33 milhões de pessoas, e que não têm nenhum respirador.