09/10/2020 - 9:30
A promessa de que Bolsonaro e seu clã ficariam distantes das eleições municipais não vai se cumprir. Após o aumento da popularidade, o presidente passou a ser um eleitor chave. Na cidade do Rio de Janeiro, a atuação da família fica mais evidente. O bispo Marcelo Crivella estampa Bolsonaro nos santinhos. O filho Carlos (Republicanos) é candidato à reeleição como vereador. A ex-mulher e mãe dos filhos 01, 02 e 03 também é candidata a vereadora, Rogéria Bolsonaro (Republicanos) volta à disputa depois de 20 anos. Não há qualquer constrangimento em fazer da política o principal modo de vida de toda a família. O Republicanos abriga o novo bolsonarismo, ainda mais populista e ligado às igrejas evangélicas. Estão filiados nele todo o clã no Rio, exceto o presidente, que continua sem partido.
O articulador da família escalado para representar Bolsonaro foi o filho e senador Flávio (Republicanos-RJ). Ele atua estrategicamente em todo o Estado do Rio de Janeiro, até por força do cargo que ocupa. O cientista político Ricardo Ismael entende que o domicílio eleitoral da família é um motivador natural para a atuação. “O senador Flávio já está com uma mancha na sua biografia por conta das rachadinhas, compra de imóveis com dinheiro vivo e outros negócios irregulares. Seria natural que ele se apresentasse como candidato à Prefeitura do Rio, mas em função das denúncias, o senador só pode atuar nos bastidores”, explica.
Há um vácuo político importante no Rio de Janeiro e a possibilidade do bispo Marcelo Crivella não disputar o segundo turno é muito grande. Ele está com 12%, enquanto as candidatas Martha Rocha (PDT), com 8%, e Benedita da Silva (PT), com 7%, crescem e já podem disputar o segundo turno com Eduardo Paes (DEM), que está com 27%. “Seria uma derrota de Bolsonaro no seu domicílio eleitoral”, diz Ricardo Ismael. Ainda pesa contra o atual prefeito Marcelo Crivella a possibilidade dele tornar-se inelegível — o TSE analisa o caso nos próximos dias. Mas as acusações contra ele terão toda a campanha para serem exploradas pelos adversários.
Participando de live com o prefeito Marcelo Crivella, a ex-mulher
de Bolsonaro fortalece a atuação da família nas eleições
A rejeição de Crivella bate os 78%, segundo Ibope. O cientista político pensa que se ele for para o segundo turno já será uma vitória. A articulação de Flávio rende uma aproximação ainda mais precisa com o eleitorado conservador de extrema direita. Analistas entendiam que o maior adversário do bispo Crivella seria o deputado federal Luiz Lima (PSL), já que os dois disputam os mesmos votos. O apoio formal veio em momento providencial.
O socorro ao prefeito surgiu no primeiro momento por meio da ex-mulher Rogéria Bolsonaro que fez uma live junto com prefeito. Em 1992 e 1996 Rogéria foi eleita vereadora. Em 2000, já separada de Bolsonaro, ela disputou na justiça o direito de usar o sobrenome do marido. Venceu na Justiça, mas foi derrotada pelo próprio filho Carlos, que na ocasião tinha apenas 17 anos. Hoje, em paz com a família, ela tem a promessa do apoio de vários deputados estaduais fiéis ao senador Flávio. A briga em família parece resolvida 20 anos depois e Rogéria se apresenta como a voz feminina do presidente.
Debate 2022
Em São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos) busca insistentemente colar a sua imagem com a do presidente. Bolsonaro demorou para se pronunciar, mas foi obrigado a responder uma situação de enfrentamento ao governador João Doria (PSDB). A antecipação do embate de 2022 parece inevitável. Tanto no Rio quanto em São Paulo, Bolsonaro sabe da importância de eleger os prefeitos para ganhar musculatura na campanha da reeleição.
A estratégia de promover familiares a cargos eletivos públicos não é nova, mas o bolsonarismo vem se superando. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) lançou o irmão para vereador em São Paulo e na cidade de Mairiporã-SP aposta na cunhada para vereança e o pai como vice-prefeito. O deputado Otoni Paula (PSC-RJ) faz a campanha para o pai ser vereador em São Paulo. Em São Gonçalo, o deputado Filippe Poubel (PSL-RJ) tem o irmão como candidato a vereador. O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) apresenta também o irmão para vereador em Niterói-RJ. O presidente faz escola.
Bolsonaro está gostando de participar da eleição. Ao mesmo tempo, não pode se expor ao ponto de desagradar a sua atual base política: o Centrão. O presidente fortalece o grupo fisiológico e paralelamente vai ampliando sua própria bancada familiar.