RETORNO Rogéria Bolsonaro tenta voltar à Câmara do Rio de Janeiro. Agora com o apoio dos filhos (Crédito:Hermes de Paula / Agência O Globo)

A promessa de que Bolsonaro e seu clã ficariam distantes das eleições municipais não vai se cumprir. Após o aumento da popularidade, o presidente passou a ser um eleitor chave. Na cidade do Rio de Janeiro, a atuação da família fica mais evidente. O bispo Marcelo Crivella estampa Bolsonaro nos santinhos. O filho Carlos (Republicanos) é candidato à reeleição como vereador. A ex-mulher e mãe dos filhos 01, 02 e 03 também é candidata a vereadora, Rogéria Bolsonaro (Republicanos) volta à disputa depois de 20 anos. Não há qualquer constrangimento em fazer da política o principal modo de vida de toda a família. O Republicanos abriga o novo bolsonarismo, ainda mais populista e ligado às igrejas evangélicas. Estão filiados nele todo o clã no Rio, exceto o presidente, que continua sem partido.

O articulador da família escalado para representar Bolsonaro foi o filho e senador Flávio (Republicanos-RJ). Ele atua estrategicamente em todo o Estado do Rio de Janeiro, até por força do cargo que ocupa. O cientista político Ricardo Ismael entende que o domicílio eleitoral da família é um motivador natural para a atuação. “O senador Flávio já está com uma mancha na sua biografia por conta das rachadinhas, compra de imóveis com dinheiro vivo e outros negócios irregulares. Seria natural que ele se apresentasse como candidato à Prefeitura do Rio, mas em função das denúncias, o senador só pode atuar nos bastidores”, explica.

Há um vácuo político importante no Rio de Janeiro e a possibilidade do bispo Marcelo Crivella não disputar o segundo turno é muito grande. Ele está com 12%, enquanto as candidatas Martha Rocha (PDT), com 8%, e Benedita da Silva (PT), com 7%, crescem e já podem disputar o segundo turno com Eduardo Paes (DEM), que está com 27%. “Seria uma derrota de Bolsonaro no seu domicílio eleitoral”, diz Ricardo Ismael. Ainda pesa contra o atual prefeito Marcelo Crivella a possibilidade dele tornar-se inelegível — o TSE analisa o caso nos próximos dias. Mas as acusações contra ele terão toda a campanha para serem exploradas pelos adversários.

Participando de live com o prefeito Marcelo Crivella, a ex-mulher
de Bolsonaro
fortalece a atuação da família nas eleições

A rejeição de Crivella bate os 78%, segundo Ibope. O cientista político pensa que se ele for para o segundo turno já será uma vitória. A articulação de Flávio rende uma aproximação ainda mais precisa com o eleitorado conservador de extrema direita. Analistas entendiam que o maior adversário do bispo Crivella seria o deputado federal Luiz Lima (PSL), já que os dois disputam os mesmos votos. O apoio formal veio em momento providencial.

CONCORRÊNCIA Pela segunda vez Carlos vai disputar vaga com a mãe (Crédito:Alexandre Neto Photo Press/Folhapress)

O socorro ao prefeito surgiu no primeiro momento por meio da ex-mulher Rogéria Bolsonaro que fez uma live junto com prefeito. Em 1992 e 1996 Rogéria foi eleita vereadora. Em 2000, já separada de Bolsonaro, ela disputou na justiça o direito de usar o sobrenome do marido. Venceu na Justiça, mas foi derrotada pelo próprio filho Carlos, que na ocasião tinha apenas 17 anos. Hoje, em paz com a família, ela tem a promessa do apoio de vários deputados estaduais fiéis ao senador Flávio. A briga em família parece resolvida 20 anos depois e Rogéria se apresenta como a voz feminina do presidente.

Debate 2022

Em São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos) busca insistentemente colar a sua imagem com a do presidente. Bolsonaro demorou para se pronunciar, mas foi obrigado a responder uma situação de enfrentamento ao governador João Doria (PSDB). A antecipação do embate de 2022 parece inevitável. Tanto no Rio quanto em São Paulo, Bolsonaro sabe da importância de eleger os prefeitos para ganhar musculatura na campanha da reeleição.

CENTRÃO Ricardo Ismael diz que o presidente não deseja desagradar aliados (Crédito:Divulgação)

A estratégia de promover familiares a cargos eletivos públicos não é nova, mas o bolsonarismo vem se superando. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) lançou o irmão para vereador em São Paulo e na cidade de Mairiporã-SP aposta na cunhada para vereança e o pai como vice-prefeito. O deputado Otoni Paula (PSC-RJ) faz a campanha para o pai ser vereador em São Paulo. Em São Gonçalo, o deputado Filippe Poubel (PSL-RJ) tem o irmão como candidato a vereador. O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) apresenta também o irmão para vereador em Niterói-RJ. O presidente faz escola.

Bolsonaro está gostando de participar da eleição. Ao mesmo tempo, não pode se expor ao ponto de desagradar a sua atual base política: o Centrão. O presidente fortalece o grupo fisiológico e paralelamente vai ampliando sua própria bancada familiar.