INSPIRAÇÃO Diploma universitário: quase um milhão de reais (Crédito:Divulgação)

A pergunta “o que é arte?” instiga discussões há décadas em todo o mundo. Há muitas respostas possíveis, mas há um consenso de que qualquer obra que leva o indivíduo a refletir sobre um determinado assunto pode, sim, ser considerada uma expressão artística. Por isso, “Da Vinci of Debt” é não apenas arte, mas a obra de maior valor já produzida em todos os tempos. Criada por uma marca americana de cerveja em homenagem aos estudantes, ela pode ser traduzida como “Da Vinci da Dívida”, referência irônica ao famoso artista italiano. Instalada na área interna da estação Grand Central, em Nova York, é composta por 2.600 diplomas (de verdade) emoldurados e suspensos em formato de espiral, representando o alto preço da educação superior nos EUA. Como cada diploma custou US$ 180 mil para ser obtido, seu valor alcança US$ 480 milhões — e, com isso, torna-se a obra mais cara de todos os tempos.

Ao contrário dos seis mil metros quadrados da famosa estação nova-iorquina, a pintura “Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci, ocupa apenas um pequeno espaço na parede. Datada de 1510 e leiolada em 2017 por US$ 405 milhões, ela era considerada a obra de arte mais valiosa do mundo. Mas até esse valor é recente: o quadro foi vendido inicialmente por apenas US$ 61 e, antes do leilão de 2017, passou mais de 50 anos sem origem conhecida.

“Da Vinci of Debt” é relevante porque ataca um problema atual e cada vez mais crescente: a dívida acumulada pelos estudantes universitários americanos. Em reais, com a cotação atual da moeda americana, estudar quatro anos nos EUA sairia algo como R$ 977 mil – quase um milhão de reais. Para se ter uma ideia, um curso de Medicina em uma instituição particular de elite brasileira, custaria cerca de R$ 800 mil em um período de seis anos, com pagamentos mensais e não anuais ou integrais, como acontece nos Estados Unidos.

Assim como no Brasil, onde há programas de financiamento estudantil, os EUA facilitam empréstimos para os estudantes completarem suas formações. A diferença está basicamente nas taxas de juros e no valor dos cursos. É um problema que o presidente Joe Biden pretende atacar. “Nós sabemos que no século 21, apenas 12 anos de educação não são mais o suficiente e os jovens estão sendo esmagados pelo peso das dívidas estudantis”, disse Biden durante a campanha. Segundo dados do “Wall Street Jornal”, 43 milhões de americanos devem um total de US$ 1,6 trilhão em empréstimos relacionados apenas à educação superior. O presidente americano pretende perdoar cerca de US$ 10 mil de cada estudante.

Com a pandemia afetando o mundo inteiro e a distribuição de vacinas, porém, a proposta pode demorar a ser prioridade no congresso. Para se ter uma ideia, o PIB americano é de US $ 20 trilhões, ou seja, a situação beira o insustentável pois essa parcela de dívidas ocupa uma posição delicada na economia americana.

“Os jovens estão sendo esmagados pelo peso das dívidas estudantis” Joe Biden, presidente dos EUA (Crédito:MANDEL NGAN)

No Brasil

A médica Ilana Nedeff se formou em 2017 e começou a pagar o Fies, programa de financiamento estudantil do governo federal, em 2019. “Eu não tinha como pagar uma mensalidade de R$ 7.500 e vi no financiamento a maneira de realizar um sonho”. Ilana pagará R$ 2.500 por mês até 2038. Para Ítalo Cúrsio, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é preciso pensar em soluções para que as pessoas estudem com dignidade, pois os cursos não são caros apenas pelo lucro em si, mas sim pela modernização que a educação recebeu em áreas como medicina e engenharia, por exemplo. “É necessário o aumento de vagas nas universidades, sejam elas públicas ou privadas. Como o poder aquisitivo da maior parte da população não é suficiente, a saída é o estabelecimento de parcerias entre governos e instituições.” Com os problemas enfrentados pelo País, resta aguardar o dia em que algum artista brasileiro decida criar a nossa versão de “Da Vinci da Dívida.”