O processo independentista foi muito mais complexo do que o representado na historiografia oficial. Existiam vários projetos de como, após o rompimento com Portugal, deveria se estruturar o novo País. No campo monárquico havia aqueles que defendiam uma monarquia dual, com sede em Lisboa e Rio de Janeiro, até aqueles que preferiam o rompimento com Portugal, mas que a Casa de Bragança tivesse o domínio, com dois representantes, dos dois impérios, o do Brasil e de Portugal. Uns também imaginavam um monarca forte, outros que a nova Constituição – que tinha sido convocada antes do Sete de Setembro – limitasse os poderes monárquicos.

No campo republicano, que estava presente desde a rebelião de 1817, o foco central era seguir o movimento que estava ocorrendo na América Latina de colonização espanhola e, principalmente, o exemplo da independência norte-americana de 1776. E este sonho vai marcar diversos momentos do Brasil imperial, como em 1831, quando da abdicação de D. Pedro I, ou na Confederação do Equador (1824) ou nas rebeliões regenciais, especialmente na Revolução Farroupilha (1835-1845).

O advento da República em condições muito particulares – por um golpe militar e com a ausência de participação popular – impediu que seus princípios – fortemente influenciados pela Terceira República francesa – pudessem ir, paulatinamente, construindo uma cultura política que levasse a formação de uma cidadania identificada efetivamente com os valores republicanos – e não simplesmente com questões “cosméticas como o 14 de julho ser feriado no Brasil e durante muitos anos a Marselhesa ser executada antes do Hino Nacional.

A promulgação da Constituição – que até hoje não foi devidamente entendida sua enorme importância histórica – colocou o Brasil em um novo patamar. A nossa tradição autoritária começou a ser questionada

O tempo foi passando – e nem sempre ele é o senhor da razão. Passamos por ditaduras e por momentos de democracia – não plena, mas com possibilidades que permitiram a manifestação política e cultural, como na República populista. Chegamos a 1988. A promulgação da Constituição – que até hoje não foi devidamente entendida sua enorme importância histórica – colocou o Brasil em um novo patamar. A nossa tradição autoritária começou a ser questionada – ou, se preferir alguns, a ser incomodada. Valores espalhados ao longo da história do Brasil independente afloraram ao primeiro plano da cena política. Hoje caminhamos para completar 200 anos. E, mais do que nunca, precisamos completar o processo iniciado em Sete de Setembro de 1822. Isso porque a Independência foi apenas anunciada às margens do Ipiranga, precisamos agora – e é uma tarefa de sobrevivência nacional – completá-la.