Com o fracasso da extrema direita, representada por Bolsonaro, novos líderes da direita começam a despontar no cenário nacional e a ocupar o espaço antes reservado ao ex-presidente. Entre essas lideranças emergentes de uma direita mais civilizada e menos truculenta do que a praticada pelo ex-capitão, surgem os governadores dos quatro maiores estados brasileiros: Tarcísio de Freitas (SP), Cláudio Castro (RJ), Romeu Zema (MG) e Ratinho Junior (PR). O governador do Rio, contudo, é o que mais pode se beneficiar pelo ocaso do político que foi considerado “mito” nas eleições de 2018. Afinal, ele está no PL, mesmo partido do ex-mandatário, administra o estado onde o bolsonarismo proliferou e não tem a pecha de corrupto que marcou os ex-governadores fluminenses.

Governar

Em entrevista em Londres, onde esteve no Lide Brazil Conference, Castro explicou que os governadores não se afastaram de Bolsonaro, mas entende que eles têm a missão de governar e, por isso, saíram do palanque para cuidar da gestão dos seus estados, que são carentes de uma série de soluções que os fizeram abandonar o discurso mais agressivo.

Líder

Apesar do retorno frustrante ao Brasil, Cláudio Castro acredita que Bolsonaro reúne condições de liderar a oposição. “Ele é o grande líder da oposição. Teve 49% dos votos. Mas espero que nem ele e nem o governo sejam extremistas. O PT fazia oposição até dezembro e agora é a vez de Bolsonaro, que, com o pé no chão, fará críticas com serenidade.”

Vem dor de cabeça aí…

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Era certo que o PT ficaria insatisfeito com qualquer um dos escolhidos para a relatoria do arcabouço fiscal na Câmara, mas a indicação de Cláudio Cajado (PP-BA) para a função pegou mal. O baiano é alinhado ao bolsonarismo e foi vice-líder do ex-capitão na Câmara, além de ser próximo a Ciro Nogueira, tendo ocupado interinamente a presidência do Progressistas quando o senador se afastou para virar ministro.

Retrato falado

“É preciso ir além do arcabouço fiscal. O Brasil precisa fazer a Reforma Tributária” (Crédito:Suamy Beydoun)

Henrique Meirelles disse na Lide Brazil Conference, realizada em Londres, que o Brasil precisa ir além de aprovar o novo arcabouço fiscal. Explicou que o País necessita aprovar a Reforma Tributária para simplificar o sistema de impostos, reduzir custos e permitir novos investimentos para que seja mais fácil produzir aqui. Mostrou que o arcabouço deve aumentar receitas, sem elevar alíquotas e reduzir subsídios, sem afetar a competitividade. “O ideal seria cortar despesas.”

Lula na contramão

Que o PT nunca gostou de privatizar nada, preferindo um Estado gordo e paquiderme, todos já sabíamos, mas agora é oficial. Lula não quer transferir para a iniciativa privada nenhuma das empresas estatais, inclusive as que dão prejuízos, como a EBC e os Correios. Essas empresas, assim como a Dataprev, a Nuclebrás e a Telebrás, que estavam no programa de desestatização de Bolsonaro, agora caíram fora da lista. Em compensação, sete estados, como SP, MG e RS, estão planejando saudáveis processos de privatizações. Tarcísio (SP) colocou na lista de venda das ações a Sabesp e a Emae. Ratinho (PR) quer vender a Copel e Zema (MG) pretende privatizar a Cemig.

Grana curta

Mas ninguém deve imaginar que os estados privatistas desejam vender os bens públicos de qualquer maneira, a preço de banana. Ocorre que a maioria dos estados está quebrada, sem dinheiro para investir nessas empresas, e só com capital das privatizações é que elas poderão crescer e gerar mais empregos.

Independência

Presidente do Republicanos, o deputado Marcos Pereira (SP) disse à ISTOÉ em Londres que a possibilidade de a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, se filiar ao seu partido não significa que a legenda fará parte da base de apoio de Lula no Congresso. Disse que a grande maioria dos parlamentares da agremiação prefere ficar independente.

Douglas Gomes / Lid Republicanos

Pelo bem do País

Pereira, que é vice-presidente da Câmara, explicou que o Republicanos tem 42 deputados, dos quais apenas 15 gostariam de apoiar Lula. No Senado, todos os quatro senadores são bolsonaristas, como a ex-ministra Damares Alves e o general Mourão. Explicou, porém, que quando houver projetos importantes para o País, como o arcabouço, votarão a favor.

Se gritar pega ‘fujão’…

Mateus Bonomi

O general Augusto Heleno desistiu, à última hora, de ir à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do DF. Na condição de convidado, avisou a deputados que até estava disposto a falar, mas foi aconselhado por aliados de Bolsonaro a recuar. Alegou ter outro compromisso e simplesmente fugiu, repetindo o gesto de alguns bolsonaristas na CPI da Pandemia.

Toma lá dá cá

Alan Rones

A falta de uma base governista forte na Câmara pode atrapalhar a aprovação  do novo arcabouço?
Não haverá nenhuma dificuldade e o arcabouço será aprovado rapidamente. É um tema que agrada até à direita.

O MP Eleitoral pede a inelegibilidade de Bolsonaro, que ainda enfrenta outras cinco investigações no STF. Ele será punido?
Ele ficará inelegível. Quanto à prisão, é um desejo de todos os nossos apoiadores, mas Lula deseja o cumprimento do devido
processo legal.

Derrotado nas urnas, o ex-presidente tem capital político para liderar a oposição?
Bolsonaro não lidera mais nada, até parlamentares do PL já dizem isto. A prova maior foi a baixa adesão na sua recepção quando voltou ao Brasil.

Retrato falado

* Celso Amorim virou uma espécie de gerente de crises externas de Lula. Visitou Nicolás Maduro, encontrou-se com Putin e deve estar com Zelensky em breve para tratar da guerra na Ucrânia. O que o ministro Mauro Vieira não pode fazer às claras, Amorim faz às escondidas.

* Como a CPMI dos Atos Antidemocráticos virou inevitável, o governo trabalha para emplacar os senadores que lideraram a CPI da Pandemia para desgastar Bolsonaro. Entre eles estão Omar Aziz, Randolfe e Renan Calheiros.

* Carlos Fávaro já estava em Londres para participar do Lide Brazil Conference na quarta-feira, 19, quando Lula mandou que retornasse para coordenar a resposta do governo às invasões do MST aos prédios do Incra e da Embrapa.

* Haddad deseja “abrir a caixa preta das renúncias fiscais” concedidas às empresas brasileiras. Afirma que “o Brasil só paga R$ 700 bilhões de juros porque gasta R$ 600 bilhões em renúncias”. Isso pode não acabar bem.