O século 21 é o século das transformações. Poucas vezes elas foram tão intensas, alterando o que parecia ser definitivo ontem por algo que se tornará obsoleto amanhã. O processo se repetirá um sem-número de vezes, de novo e de novo, numa revolução sem fim. Não vai demorar muito para um computador superar o cérebro humano. Os carros serão autônomos e você vai absorver conhecimento de um aplicativo que concentrará todo o saber disponível. A velocidade das transformações mexerá com as nossas mais profundas convicções. O que antes era legítimo será uma afronta no futuro. O que parecia insosso no passado soará encantador nos dias que virão.

Esta edição da Platinum tem como mote o conceito de beleza. Como quase tudo na vida, ele mudou com as gerações. Há 28 mil anos, segundo achados arqueológicos, nossos antepassados das cavernas consideravam os pares rechonchudos os mais belos. No Renascimento, os valores artísticos pregavam que as ninfas deveriam ter cabelos longos e formas roliças. Nos anos 1920, as mulheres adotaram visual andrógino, com cabelos curtos e seios e quadris disfarçados em vestidos retos. Setenta anos depois, a era das supermodelos consagrou as moças muito altas e muito magras. Nos anos 2000, o avanço tecnológico impulsionou as cirurgias e os produtos reparadores, e uma geração inteira foi turbinada por botox e seios de silicone.

Capa
Foto: Alex Pasquale
Beleza: Mari Pereira
Modelo: Sandra Garcia

Uma saudável transformação está em curso hoje dia. A beleza que se valoriza agora não está ancorada em excessos, mas na simplicidade. Ninguém mais quer se esconder em máscaras que dissimulam aquilo que a pessoa realmente é. O que se almeja é uma espécie de beleza natural, tão elementar quanto verdadeira. Nesta nova realidade, a estética deve andar de mãos dadas com a ética. Bonito é se sentir bem, consumir de forma responsável, não apoiar empresas que desrespeitam o planeta, associar crescimento econômico à promoção do bem-estar social e ambiental. Chique mesmo é ser assim.

Amauri Segalla, redator-chefe