01/12/2021 - 20:02
Uma sequência de episódios lamentáveis ocorreu depois que o presidente resolver acenar para os carros na Rodovia Dutra na cidade de Resende (RJ). Ele esperava uma receptividade de um astro de rock, mas encontrou a crítica natural para um governo que colocou o País na miséria e tem a desconfiança de toda a comunidade internacional. Uma mulher que passava na rodovia reagiu ao mandatário e proferiu palavrões. Bolsonaro se sentiu ofendido e acionou a Polícia Rodoviária Federal (PRF), em um caso clássico de abuso de poder. A fisioterapeuta Camila Santos, 41 anos, foi presa e encaminhada para a Delegacia da Polícia Federal de Volta Redonda. Começava aí uma novela que a internet fez questão de amplificar. Não dá para saber de onde surgiu o boato, frise-se o boato, de que a fisioterapeuta teria chamado Bolsonaro de “noivinha do Aristides”. No Boletim de Ocorrência, consta que ela chamou o presidente de “filho da puta”.
O ministro da propaganda na Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, dizia que “uma mentira contada mil vezes se torna verdade”. Ele se espantaria com o poder das redes sociais. Mil vezes em tempos de internet é coisa para amador. A escala é bem maior, milhões de pessoas quiseram participar da história. De pano de fundo, a homofobia pautou os comentários, especialmente, no Twitter. Os veículos de comunicação sérios tiveram mais cuidado e foram checar. A vida sexual do presidente, agora ou em qualquer momento da sua vida não é da conta de ninguém. Ele é um péssimo presidente por inúmeros motivos e a apelação não faz qualquer sentido. Mas está no horizonte da homofobia que o próprio presidente instiga, quando chama aqueles que têm medo da Covid de “maricas”, por exemplo. É um feitiço às avessas.
A cortina de fumaça escondeu o mais grave de toda a história, o autoritarismo do presidente. A cientista política Juliana Fratini afirma que “independentemente do tipo de xingamento, a reação de Bolsonaro foi desproporcional a situação. Infantil. Ele quer afirmar a autoridade mandando prender civis por atitudes pequenas”. Líderes autoritários não têm tolerância para a avaliação pública do eleitorado. Não é necessário elencar o quanto os políticos brasileiros são ofendidos e não se trata de incentivar a prática, mas de entender que o pedido de prisão foi abuso. Em nota oficial, a PRF disse que Camila foi liberada após assumir compromisso de comparecer em juízo. “Cabe salientar ainda que os artigos 140 c/c 141, I do Código Penal estabelecem causa de aumento de um terço na pena por ter sido cometida contra o presidente da República”, informou a assessoria da PRF.
Camila disse à Polícia que agiu por impulso e sem qualquer premeditação. Profissional da área da saúde, ela alega que está “insatisfeita e estressada com a forma que o governo vem conduzindo a questão da pandemia”. Os advogados da fisioterapeuta, Marcello Martins dos Santos e Luiz Augusto Guimarães afirmaram em nota que Camila nunca usou a frase “noivinha de Aristides” e nem sabe do que se trata. “Sua expressão de indignação ocorreu de forma espontânea, como ocorre diariamente no país que se encontra severamente polarizado. No momento ela está muito apreensiva e temerosa devido à repercussão do caso, sobretudo porque lhe foram atribuídas palavras que ela nunca mencionou”, explicou a defesa.
De forma grotesca imagens sugeriam quem era o Aristides. Uma imagem em preto de branco mostrava dois homens se olhando, nenhum deles sequer era parecido com o presidente. Em outra imagem, o presidente aparece com uma turma de amigos em clima de descontração e segurando a mão de um homem. São jovens militares. Tentaram dizer que o amigo era o Aristides. A ISTOÉ buscou informações e confirmou que, mais uma vez, tratava-se de mentira. O homem em destaque trata-se do ex-deputado Alberto Fraga, amigo do presidente desde os tempos da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). O próprio Fraga confirma e ainda complementou que estudou com Bolsonaro na Aman e que “o Aristides nunca existiu”. O caso é um excelente exemplo de como uma fake news é criada e alimentada sempre com os mesmos ingredientes: tecnologia, maldade, preconceito e desinformação, por mais que desta vez o prejudicado tenha sido Bolsonaro, especialista nesse tipo de ação.