A noiva de Bolsonaro (spoiler: contém cenas de ironia explícita)

Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

A noiva de Bolsonaro (spoiler: contém cenas de ironia explícita)

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Foto: Reprodução

Na década de 1990, um bizarro boneco assassino se tornou mundialmente famoso por misturar horror com humor nas telas de cinema. Não foi o primeiro filme “trash” a ter sucesso, mas inovou ao fazer a plateia rolar de rir diante de assassinatos incrivelmente exagerados.

Após alguns anos de estrelato solitário, Chucky (o boneco) ganhou uma namorada ou, melhor, uma noiva. Tiffany conseguia ser ainda mais perversa e cruel. Se Chucky decapitasse uma vítima com uma serra elétrica, Tiffany o faria com uma tesoura cega, para demorar mais e espirrar baldes de tinta vermelha para todos os lados.

Hoje temos uma espécie de Chucky na presidência da República. Nada parecido com o brinquedo assassino, claro, mas muito parecido com um “boneco de ventríloquo” do Olavo de Carvalho, que ora incentiva manifestações golpistas, ora incentiva invasões a hospitais, ora incentiva o povo a sair às ruas e se expor à gripezinha que já matou, em pouco mais de três meses, quase 50 mil brasileiros, ou ora assume ares de médico da família e receita cloroquina aos doentes de Covid-19.

Como nas telonas, Bolsonaro ganhou uma companheira cruel. Em vez de apenas falar, a “noiva” parte para a ação real e toca o terror. Trata-se da tal Sara Winter, nome de guerra da arruaceira profissional. Nossa Tiffany bananeira já foi de tudo um pouco: de atriz pornô a militante feminista, passando por antibolsonarista fanática, até se descobrir líder de vinte e poucos gatos pingados que se intitulam “300 do Brasil”. Hoje Winter é uma bolsonarista de carteirinha, à espera do noivo amado no altar da infâmia.

Seu último ato foi o ataque com fogos de artifício, sábado passado, ao prédio do STF. Enquanto nesta segunda-feira (15), imprensa, Poder Legislativo, Poder Executivo e entidades organizadas repudiavam o atentado à democracia e ao Estado de Direito, o Chucky do Planalto fazia cara de paisagem e mantinha-se calado; talvez triste pela prisão temporária da Tiffany golpista.

O filme estrelado pela dupla fez tanto sucesso que se tornou uma franquia milionária do cinema mundial. Para o bem do Brasil, espero que a versão tupiniquim não tenha um novo episódio. Quiçá, seja (legal e democraticamente) interrompida antes do fim, para que nossos Chucky e Tiffany encontrem merecido repouso, ao lado dos bonecos originais, nas páginas bizarras da história.