Pablo Picasso teve muitas mulheres em sua longa vida, mas a francesa Marie-Thérèse Walter ocupou a mente do mestre do cubismo por longos anos, pois além do romance tórrido, tiveram uma filha juntos, Maya, de quem Picasso era muito próximo. Presente até em obras como “Guernica”, representando diferentes papéis, o rosto de Marie-Thèrèse foi um trunfo na vida do pintor e rendeu diversos desenhos, pinturas e esculturas — muitos deles altamente sexuais como “Le rêve” ou “Nu au Plateau de Sculpteur”. Já a pintura “Femme au béret rouge-orange” ou “Mulher com um chapéu vermelho-alaranjado”, produzido em 1938, traz a memória do pintor à juventude da amada. Antes de ser adquirida no sábado, 23, por um comprador anônimo, a tela foi disputada a cada lance, passando em US$ 10 milhões o valor de venda estimado pela casa de leilões Sotheby ‘s. O martelo foi finalmente batido em US$ 40,5 milhões (R$ 223 milhões). A peça ganhou o status de a mais cara entre as onze obras do autor vendidas no evento luxuoso em homenagem aos 140 anos de Picasso.

PAIXÃO O quadro “Mulher com chapéu vermelho-alaranjado” (Crédito:Divulgação)

O frenesi pela pintura tem explicação. Colorida, mostra a juventude de Marie-Thérèse, uma estudante atlética, corada e prestes a chegar à maioridade: a imagem idealizada de Picasso em relação à amada que conheceu ao acaso. A história que deu origem a uma das fases mais produtivas do pintor espanhol começou em 1927, quando a loira de olhos azuis, traços perfeitos e meros 17 anos se aproximava do metrô, em Paris. A cena, contada por Marie diversas vezes, é a de que Picasso a teria notado através de uma das vidraças das Galerias Lafayette. “Mademoiselle, você tem um rosto interessante. Gostaria de pintar seu retrato”, disse o pintor quando ela saiu do local. Ele teria acrescentado: “Tenho certeza que faremos grandes coisas juntos. Sou Picasso”, apresentou-se apontando um grande livro sobre si mesmo, já que a menina não reconheceu o homem de 45 anos à sua frente. “Gostaria de vê-la novamente. Encontro você às 11 horas de segunda-feira na estação de metrô Saint-Lazare”, disse. E foi assim que a futura mãe de Maya encontrou o amor de sua vida e Picasso ressurgiu após o sucesso adquirido no começo do século. Para Isabel Silveira, professora de história da arte da Universidade Mackenzie, Picasso causa tanta emoção nas pessoas, mesmo naquelas que se dizem pouco interessadas por arte, pois viveu e produziu de forma intensa até os 91 anos. “Conhecer Picasso, sua vida pessoal e obra é uma maneira de enxergar flagrantes de sua humanidade que tanto nos comove”, diz. Apesar da vasta extensão de sua obra, ou seja, não é difícil encontrar um Picasso em museus ou em leilões mundo afora, o evento em Las Vegas chamou atenção pela origem e variedade dos objetos. A maioria ficou exposta por anos em um restaurante chamado “Picasso”, inspirado no artista e localizado no Hotel Bellagio. E agora ocuparão novos espaços.