#À moda das redes

#À moda das redes

Por João Luiz Vieira e Simone Blanes / FOTOS Cristiano Madureira Direção de Arte Estúdio Árvore / Edição de moda Luiz Henrique Costa Styling Sator Endo/ Glloss mgt / Beleza Raul Melo / Capa MGT Michelle chamou Mariana, que chamou Talytha, que chamou Patrícia, que chamou Guilherme, que chamou Bruna, que chamou Paula, que formaram um bloco uniforme de milhões de pessoas nas ruas. Como onda, manifestar virou tendência. A rua está na moda. E a moda nunca esteve tanto nas ruas. De posse de seus cartazes e palavras de ordem, as modelos Michelli Provensi, Talytha Pugliesi e Mariana Weickert ajudaram a florescer nas ruas a primavera brasileira em pleno junho invernal. Dias depois, dentro de um estúdio, vestiram-se à moda das redes para recriar, junto com outras 40 pessoas que também foram às ruas, a emoção que viveram na pele e no asfalto. #À moda das redes ?Você é uma modelo. Foi se manifestar com um monte de fotógrafos nas ruas e não passou nem um rímel??, assim a irmã da modelo Talytha Pugliesi a provocou. ?Não passei?, respondeu ela, com ares libertários. ?Estava de óculos de grau, com a minha placa e ponto.? Talytha foi à manifestação que pedia a saída do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos deputados. ?Sou contra a homofobia. Tenho amigos gays. Minha irmã é gay. Fiz questão de ir.? Os pais ficaram preocupados com a militância repentina. ?Sou magra, frágil, e esse era o medo da minha família. Mas a causa era nobre. Não dava para perder. Nem pensei em vaidade.? #À moda das redes Talytha vive pelas redes sociais. A mesma rede que embalou milhões de internautas e tirou o País do sofá. Como? A resposta estava no bolso. Ou na bolsa. Bastava ligar o celular. Os gritos, a fúria, o empurrão que faltava estavam lá. A começar pelo terceiro ?país? do mundo em população chamado Facebook, com 1,1 bilhão de usuários ? 73 milhões deles no Brasil. O balanço, o chacoalhar das redes também a tiraram da zona de conforto para marchar. ?Essa coisa me deu muita esperança?, empolga-se Talytha. ?Para os filhos e netos que talvez eu tenha. Para os meus sobrinhos.? Modelo que morou 12 anos em Paris, onde acompanhou inúmeras manifestações, Talytha, 31 anos, se emocionou ao ver pela tevê o que acontecia no País. ?Na França, eles têm o hábito de sair às ruas. Aqui nunca entendi o porquê de haver tanta coisa errada e ninguém fazer nada.? #À moda das redes A modelo Michelli Provensi lhe faz coro. Na segunda manifestação em que esteve presente, não levou vinagre, como era recomendado. Convocou pelas redes e carregou com ela uns 30 amigos. ?Como estava do lado de Alex Atala, lembrei que chef sempre tem vinagre (se precisasse se defender de gás lacrimogêneo)?, brinca. ?Mais do que levar pessoas para a rua, queria que soubessem o que estava acontecendo e entendessem aquilo.? A modelo catarinense de 28 anos, artista e usuária de transporte público, decidiu ir para as ruas por morar perto da Praça Roosevelt, no centro de São Paulo. ?Vi o que aconteceu naquela quinta-feira 13 de junho, quando a polícia atirou e jogou gás nas pessoas?, ela relata. ?Estava acompanhando tudo pelo Facebook, mas até ali estava com medo. Depois daquele dia, fui a todas as manifestações seguintes.? A faceta revolucionária de Mariana Weickert, apresentadora de tevê de 31 anos, também brotou naqueles dias. De seu Twitter, descobriu e ficou tão assombrada quanto o País com as proporções do movimento. ?Nas ruas, achei as pessoas corajosas por levarem crianças. Até então ninguém sabia se aquela manifestação seria pacífica?, diz. Não só decidiu ir à manifestação no Largo da Batata, em 17 de junho, a maior de todas que ocorreu em São Paulo no início daquele mês, como levou a equipe do seu programa A Liga, da Band. Para ela, seja qual for a explicação para a força que o movimento popular ganhou, uma coisa é certa: ?aquilo estava na garganta de todos?. E foi assim que essa moda sem caras pintadas pegou, com Patrícia, que chamou Guilherme, que chamou Bruna, que chamou Paula, que, juntos e por trás de todas as redes, começaram uma revolução que leva as cores da moda para mudar o País.