Fuad Noman (PSD) irá às urnas neste domingo, 27, em busca de um feito que apenas um candidato conseguiu em Belo Horizonte: vencer a eleição depois de chegar ao segundo turno em desvantagem.

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A missão

No primeiro turno, Bruno Engler (PL) recebeu 34,38% dos votos válidos, contra 26,47% do atual prefeito. Em desvantagem superior a 99 mil votos, Fuad aposta em uma campanha focada nas realizações locais e em acenos ao centro, com o objetivo claro de se opor ao bolsonarismo mais claro do oponente.

Embora tenha a seu desfavor a estatística local e das capitais, de um modo geral — em 16% das disputas que foram ao segundo turno, houve uma virada –, o incumbente liderou a maior parte das pesquisas na nova etapa da corrida.

Desde que as eleições municipais podem ter segundo turno (1992), a capital mineira teve três definições em primeiro turno, quatro disputas em que o mesmo candidato liderou nas duas votações e uma em que houve virada.

O histórico

1992: Patrus Ananias (PT) venceu os dois turnos;

1996: Célio de Castro (PSB) venceu os dois turnos;

2000: Célio de Castro (PSB) venceu os dois turnos;

2004: Fernando Pimentel (PT) foi reeleito em primeiro turno;

2008: Márcio Lacerda (PSB) venceu os dois turnos;

2012: Márcio Lacerda (PSB) venceu os dois turnos;

2016: Alexandre Kalil (PHS) virou a disputa;

2020: Alexandre Kalil (PSD) foi reeleito em primeiro turno.

A virada de Kalil

Fuad busca reproduzir o feito de um velho conhecido. O atual prefeito foi secretário municipal da Fazenda durante o primeiro mandato de Kalil e, em 2020, concorreu como companheiro de chapa do chefe.

Vice-prefeito até março de 2022, assumiu a cadeira quando o titular renunciou para se candidatar ao governo do estado — acabou derrotado por Romeu Zema (Novo). Desde então, trocou secretários e deu novo rumo à gestão.

Na campanha deste ano, o ex-prefeito desembarcou do PSD, apoiou a candidatura fracassada de Mauro Tramonte (Republicanos) e fez duras críticas ao sucessor. A ruptura foi brusca, mas é justamente o perfil alheio às posturas políticas tradicionais que ajuda a explicar a virada conquistada por Kalil em 2016.

Empresário do ramo de engenharia, ele era conhecido na cidade por ter presidido o Atlético Mineiro — sob seu comando, a equipe teve sua principal conquista histórica, a Copa Libertadores de 2013. Kalil deixou a presidência do clube em 2014 e chegou a se filiar ao PSB com o objetivo de ser candidato a deputado federal naquele ano, mas não seguiu adiante. Em 2016, abrigou-se no pequeno e já extinto PHS e, sem grandes apoios, se lançou à prefeitura baseado no discurso “outsider”, de um postulante sem padrinhos ou grupos políticos.

Kalil não tinha trajetória política. E, na época, a Operação Lava Jato já havia levado à prisão ex-ministros, ex-parlamentares, doleiros e diretores de estatais e comprovado o envolvimento dos principais grupos da política nacional em esquemas de corrupção, o que municiou o sentimento antipolítica na população que ia às urnas — ainda no primeiro turno, eleições como as de João Doria (PSDB) deixaram a tendência clara.

Em Belo Horizonte, o ex-presidente do Galo não tardou a figurar bem nas pesquisas e avançou ao segundo turno com 26,56% dos votos, contra 33,40% de João Leite (PSDB). O adversário era deputado estadual há duas décadas e tinha o apoio do ex-governador Aécio Neves (PSDB), um dos principais caciques da política mineira.

No embate direto, Kalil se dissociou ainda mais da política tradicional, prometeu “enxugar a máquina” e endureceu seus discursos. Na noite de 30 de outubro de 2016, foi eleito com 52,98% dos votos válidos, contra 47,02% do tucano. Aquela foi a única virada entre turnos nas capitais naquele ano.