A bancada republicana do Senado dos Estados Unidos rejeitou, nesta quinta-feira (23), pela segunda vez em 2024, uma ampla reforma migratória promovida pelo governo de Joe Biden, e uma das mais severas em décadas, por considerá-la uma “artimanha” democrata antes das eleições presidenciais de novembro.

As pesquisas mostram que a migração é uma prioridade para os eleitores, que vão votar em uma revanche entre Biden e seu rival republicano, o ex-presidente Donald Trump, no momento em que as travessias ilegais atingem as máximas históricas.

A reforma da lei de migração foi elaborada por ambos os partidos após meses de negociações, mas os republicanos a rejeitaram em fevereiro, após uma intervenção de última hora de Trump (2017-2021), que faz da fronteira uma questão central da sua campanha para tentar retornar à Casa Branca.

Os democratas levaram a reforma novamente nesta quinta-feira ao plenário, onde caiu no primeiro obstáculo: uma votação processual para iniciar o debate, na qual os congressistas do Partido Republicano a rejeitaram novamente.

Biden reagiu em um comunicado acusando os republicanos de colocarem a política partidária acima do país para se oporem à “mais dura aplicação da lei fronteiriça da história”, enquanto o secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, prometeu continuar aplicando a lei “com os recursos limitados” de que dispõe.

O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, havia ajudado nas negociações ao vincular um pacote de ajuda militar de 61 bilhões de dólares (R$ 313,7 bilhões) para a Ucrânia à aprovação da reforma migratória, o que chamou de um “grande êxito de qualquer ponto de vista objetivo”.

McConnell, no entanto, rejeitou o plano de discutir a reforma nesta semana, por considerar que sua discussão seria “uma artimanha” para impulsionar os democratas antes das eleições acirradas e desviar o foco do histórico de Biden em questões de fronteira, a qual registrou um recorde de entradas ilegais nos Estados Unidos desde o final do ano passado.

– Mais rígida –

A votação ocorreu no momento em que o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, tentava manter desesperadamente a maioria de 51-49 na Câmara Alta, mas mesmo assim enfrentava uma perspectiva difícil.

Os republicanos defenderão apenas 10 cadeiras em novembro, enquanto os democratas terão 23 em jogo.

Apesar do fracasso, Schumer cumpriu o objetivo de proteger os seus senadores mais vulneráveis – todos em distritos onde a imigração é uma questão importante – dos ataques de que os democratas são negligentes na segurança das fronteiras.

O projeto de lei, que exige a reforma do sistema de asilo e refúgio, pessoal adicional na fronteira sul e poderes de emergência para fechá-la quando as travessias excederem um determinado limite, representa a iniciativa anti-migratória mais rigorosa dos últimos anos.

No final, o texto sequer conseguiu obter maioria simples e muito menos os 60 votos necessários para superar as táticas de bloqueio na Câmara, já que vários democratas também se posicionaram contra.

A Câmara dos Representantes aprovou no ano passado uma “Lei para Resguardar a Fronteira” que, segundo os republicanos, acabaria com a crise através de medidas que incluem a retomada da construção do muro fronteiriço de Trump e a restauração da política do magnata que obriga os solicitantes de asilo a permanecerem no México.

O projeto de lei visa expulsar dos Estados Unidos, através da vigilância em massa, trabalhadores que não estiverem com a documentação regular, ao mesmo tempo em que torna mais difícil o pedido de asilo, corta serviços para imigrantes sem permissão e reduz a proteção para crianças migrantes.

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