Quando Jair Bolsonaro disse que o dinheiro depositado pelo comparsa Fabrício Queiroz na conta de sua mulher, Michelle, se destinava a pagar um empréstimo de R$ 40 mil, ele não contou nem sua primeira nem sua última mentira como presidente. Dezenas já haviam sido registradas antes, outras tantas vieram depois.

Mas aquela lorota, expelida por um Bolsonaro de feições perturbadas no dia 24 de abril, pouco depois da saída bombástica de Sérgio Moro de seu governo, é a que promete assombrá-lo daqui em diante.

O país descobriu hoje que a história dos quarenta mil reais era mentira.

A revista digital Crusoé teve acesso às movimentações financeiras de Fabrício Queiroz, no período em que ele era assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio de Janeiro.

Os dados, levantados pela equipe que investiga o suposto esquema de rachadinha implantado no gabinete do então deputado estadual, demonstram que Queiroz na verdade transferiu R$ 72 mil reais a Michelle, entre os anos de 2011 e 2016. Os depósitos foram feitos em 21 cheques.

O inquérito também reúne informações sobre a vida financeira de Márcia de Oliveira Aguiar, a mulher de Queiroz. E aqui há uma novidade. Ela também transferiu dinheiro a Michelle. Foram R$ 17 mil, em seis cheques, ao longo de 2011.

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Aguardemos as explicações do presidente. Se ele insistir na versão do empréstimo, então Queiroz e sua mulher pagaram juros dignos de cheque especial ao amigão do peito. Tomaram R$ 40 mil e devolveram R$ 89 mil.

Os depósitos mal explicados, feitos na conta da mulher de Bolsonaro, quebram a barreira que os apoiadores do presidente gostariam de manter entre ele e o esquema de desvio de dinheiro público que, segundo o Ministério Público, era capitaneado pelo seu filho.

Lembremos: segundo o MP, Flávio e Queiroz eram respectivamente o líder e operador financeiro de uma organização criminosa que operava na Alerj. Agora, aumentam os sinais de que Jair Bolsonaro e Michelle também podem ter se beneficiado das atividades da tal ORCRIM.

Acredito que esses eventos não vão abalar a fé dos bolsonaristas. Agora mesmo eles devem estar elaborando teorias para convencer a si próprios que nada disso importa.

Ou talvez eles nem precisem de convencimento. Já argumentei aqui que o bolsonarismo nunca foi anti-corrupção. Sua pauta é anti-sistema e hiper-conservadora.

Por isso não tem incomodado muito o namoro de Bolsonaro com o Centrão, esse mancebo de vida escandalosa, outrora tão criticado. Como disse a deputada Bia Kicis numa entrevista à Folha de S. Paulo, o que importa é aprovar as pautas que interessam aos fiéis. Derrubar árvores, armar pessoas e assim por diante, suponho.

Por isso podem passar batidos os indícios de que o clã Bolsonaro talvez já tenha se lambuzado na corrupção.

Mas para quem não é bolsonarista raiz, essas coisas importam. Se as pesquisas estiverem corretas, estamos falando de 85% do eleitorado.

Acima de tudo, a corrupção importa à Justiça, seja ela rastaquera ou bilionária. A investigação do MP sobre Flávio já havia associado no nome Bolsonaro a uma organização criminosa. A mentira do presidente o enreda mais ainda da história toda.

 

 



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