No mesmo momento em que o meia Eriksen, jogador da Inter de Milão e camisa 10 da seleção da Dinamarca, caía no chão desmaiado, as mentes bolsonaristas já começavam a fervilhar e pensar num jeito de aproveitar o acontecimento a seu favor. Como relacionar o acidente de Eriksen com alguma ideia estapafúrdia? O que esse jogador da Dinamarca tem a ver com a gente? Há algum jeito de instrumentalizar o triste incidente? Como juntar alhos com bugalhos? Dá para imaginar aqueles poucos neurônios funcionando precariamente para fazer uma associação anticiência, antivacina ou simplesmente tola e lançá-la pelas redes sociais.

Quem promoveu a última formulação perversa foi o blogueiro Allan dos Santos, um dos baluartes do pensamento deturpado que assola o País. No seu Twitter ele disse que o médico-chefe e cardiologista da equipe italiana confirmou em uma rádio local que Eriksen havia recebido a vacina da Pfizer no dia 31 de maio. Mentira. Santos disse também que “há especulações de que ele teve coágulo sanguíneo ou miocardite, nada ainda confirmado em relação à vacina, mas o questionamento é grande”. Outra falácia. O diretor executivo da Inter de Milão, Giuseppe Marotta, disse que Eriksen nunca testou positivo para o coronavírus e não foi imunizado. Marotta descartou qualquer especulação sobre uma influência do vírus ou da vacina no mal súbito.

O que leva os bolsonaristas a criarem fake news com assuntos tão sérios é uma espécie de fraqueza intelectual somada com vontade destrutiva. Amparados em ideólogos birutas, eles estão sempre lutando contra a verdade e tentando encontrar um caminho maroto para propagar a desinformação e o ódio. Diante dos disparates de Santos, o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que irá pedir a quebra de seus sigilos telefônico, de dados, bancário e fiscal por causa da divulgação de notícias falsas. A vacina é a bola da vez dos negacionistas, mas eles não vão parar. Santos não desmentiu as informações mentirosas que propagou sobre Eriksen. Claro. Ele quer criar incerteza, deixar as pessoas com medo de tomar vacina e minar as esperanças mais profundas de acabar com a pandemia. Seu negócio é tumultuar.