PROTEÇÃO Fármaco Paxlovid, da empresa Pfizer: redução de 89% no número de hospitalizações e mortes, segundo técnicos da farmacêutica (Crédito:Golib Golib Tolibov / Alamy)

Perspectiva 2022/ Saúde

Pergunte ao mais experiente analista esportivo qual será a seleção campeã do mundo em 2022 na Copa do Qatar. Por mais embasado que seja o prognóstico do especialista, ainda assim não deixa de ser um simples palpite. No campo da ciência as coisas se dão de forma diferente: não há especulações. Tendo como princípio metodologias de verificação e comprovação, cientistas, pesquisadores e médicos em geral começam a respirar aliviados e dizem que o novo ano se inicia alvissareiro. Ainda vemos diante de nós o poderoso inimigo tipificado como Sars-CoV-2, causador da pandemia da Covid-19. Mas, também a nossa frente, a ciência já afirma que existe a concreta possibilidade de produção de medicamentos que poderão atuar tanto na prevenção quanto no tratamento da infecção pelo coronavírus. A produção da comunidade científica vem sinalizando promissores caminhos. Nada disso, no entanto, é suficiente para alimentar a esperança de que tão cedo as máscaras não mais precisarão estar nos rostos. “Elas seguem obrigatórias”, afirma o químico Luiz Carlos Dias, integrante da equipe da Unicamp que atua somente no combate à Covid-19. E por quanto tempo ainda teremos de utilizá-las? Impossível saber. Ou seja: não vai dar para aposentar a máscara amanha ou depois de amanhã, mas isso não quer dizer que não haja remédios em um horizonte bastante visível.

A Pfizer BioNTecch, que já inovou com sua vacina de RNA mensageiro, apresentará um medicamento sob a forma de comprimidos. Ele se chamará Paxlovid e, segundo a fabricante, reduz em 89% o número de hospitalizações e óbitos. “Para a profilaxia, tudo ainda está sob investigação, mas com grandes chances de que logo a população terá como se proteger por meio de medicamentos”, diz Suzana Lobo, médica intensivista do Centro Integrado de Pesquisa do Hospital de Base e da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. “Em um primeiro momento, o importante são remédios para as pessoas que tenham contato com infectados”. Ela afirma que essa nova classe de fármacos, administrados por via oral, trará comodidade ao paciente. Outro exemplo nessa linha é o Molnupiravir, da farmacêutica Merck. O remédio tem produção mundial e chegará a mais de cem países em 2022.

CIÊNCIA A infectologista Raquel Stucchi está confiante: haverá produtos mais simples e eficazes (Crédito:Anna Carolina Negri)

Nesse contexto pode-se dizer que a assertividade da ciência envolve alta precisão na formulação de remédios e, para que os objetivos sejam alcançados, cientistas também estão trabalhando com os denominados anticorpos monoclonais. O produto da farmacêutica AstraZeneca, denominado Evusheld, enquadra-se nessa categoria. Ele atua pela combinação de réplicas de dois anticorpos obtidos do plasma de pacientes convalescentes da infecção, e tem de ser aplicado no músculo, como se fosse uma injeção comum. O Evusheld possui margem de eficácia de prevenção na casa dos 83% com baixo risco de efeitos colaterais. “A proteção dura por seis meses” diz Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e Consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Haverá ainda outras combinações medicamentosas contra o vírus, como os remédios classificados de biológicos. Essas drogas reduzem a progressão do coronavírus no organismo. A batalha contra a pandemia continuará em 2022, mas com um grande diferencial em relação aos dois últimos anos: agora haverá remédio tanto para prevenir e quanto para tratar a doença. O que ainda não está claro, nem para profissionais da área da saúde nem para as empresas farmacêuticas, é como e a que preço tais medicamentos poderão ser adquiridos pela população. Espera-se, porém, que o Ministério da Saúde deixe de lado a ideologia e o negacionismo bolsonarista e cumpra a sua obrigação de cuidar dos brasileiros.