Nirlando Beirão Fotos Cristiano Madureira Edição de Moda Samuel Cirnansck Beleza Duda Molinos/ Caíco de Queiroz Patricia Pillar. Patricia Pillar, ponto. Alguma coisa mais a dizer? Não é a primeira vez que, ao entrevistá-la, ela me desafia, me intriga e me desconcerta. Por mais gentil que Patricia seja, alegre, solar, falante, disponível, generosa, quase sempre extrovertida, ela me induz a um desconforto ambíguo, difícil de explicar, como se tudo o que aqui fosse dito a respeito de Patricia Pillar estivesse aquém da complexidade de sentimentos, emoções, ideias, dons, desejos, atitudes e convicções concentrados na criatura que, 49 anos atrás (11/1/1964), foi batizada em Brasília como Patricia Pillar. Ou então pode ser que a inibição venha ao vê-la tão ciosa de si mesma, de sua vida, de sua biografia, que escrever qualquer coisa a respeito dela seria como invadir, mesmo pedindo licença, um espaço íntimo cujo acesso ela resguarda ? não exatamente por pudor vitoriano digno de matrona de folhetim (como a falida Constância Assunção que ela encarna em Lado a Lado) ? com a chave de sua integridade. Só Patricia Pillar conseguiria ser 100 por cento fiel a Patricia Pillar. Moça de atitude, tem pânico de parecer artificial, fútil, fake ? uma perua. Claro que não é nada disso. Mas ainda que se aferre com unhas e dentes à defesa de sua própria imagem, dá para perscrutar, nessa Patricia que também sabe ser de uma languidez enigmática, a fresta de algum mistério que nem sequer ela própria talvez tenha percebido. De mais a mais, certezas também podem ter prazo de validade. ?Não sou arrogante, não sou rígida?, assegura. ?Eu me sinto bem defendendo o que penso, mas guardo espaço para mudar de opinião.?
Patricia é linda, loira, magra, diretora de cinema (é dela o documentário sobre o brega-cult Waldick Soriano), atriz de teatro premiada (?minha casa é o palco?), estrela da Globo, ganha um salário para lá de decente (?pela dedicação e exposição que cobra da gente, devia ser muito mais?), está de bem com a vida, venceu um câncer, viveu até dezembro de 2011 uma relação apaixonada de 12 anos com um homem que chegou perto de fazê-la primeira-dama da República (por mais que odeie essa expressão ?primeira-dama? e despreze o papel decorativo geralmente conferido à mulher do presidente). Está tudo certo, não está? ?Está?, ela aceita. ?Só não posso, a esta altura da vida, é me permitir certas ingenuidades.? Acreditar na felicidade será uma dessas ingenuidades? Não, a felicidade é possível e Patricia consegue trazê-la para o chão do dia a dia sem qualquer solenidade. ?Desprendimento, simplicidade, troca, contato, vento, música, amor…? ? eis a fórmula, se é que alguma fórmula é necessária.
?Você está namorando?? ? pergunto. ?Isso só diz respeito a mim? ? responde, sem hostilidade, ao contrário, com um daqueles sorrisos que iluminam o rosto dela. ?Você me respondeu? ? provoco. ?Não respondi nada? ? de novo, com um sorriso. ?Essa cara, essa expressão, não deixam dúvida? ? digo, mas logo me arrependo e me desculpo. ?Comentário machista, o meu, né? Como homem fizesse bem à pele de uma mulher.? Patricia releva a derrapada: ?Vai ver que faz, sim.? AMOR ETERNO ?Amo o Ciro para sempre?, diz Patricia. ?Ele foi um companheirão quando o câncer me fragilizou não só o corpo, mas também o espírito.? Os dois se falam com frequência e Patricia continua identificando em Ciro Gomes ? que no entanto parece desencantado com a política ? um ideal de Brasil justo, menos desigual, ?no quadro de uma visão moderna e sensível e de um jeito competente e realizador?.