Todo fim de semana tem uma armação estapafúrdia do presidente Jair Bolsonaro. A última foi esse passeio de moto convertido em manifestação pró-governo no Rio de Janeiro. É mais uma prova de que somos um país de babacas, submissos a um sujeito que vomita na nossa cara e ridiculariza nossos mortos. Na carreata de domingo, que começou na Barra da Tijuca, cada vez mais convertida no principal reduto de aloprados de direita do Brasil, e terminou no Aterro do Flamengo, com escalas pelas praias da Zona Sul, Bolsonaro vestia um casaco preto de couro com a inscrição “Cavaleiros de aço”. Sua marcha de insensatos pelas ruas da cidade incluía gente sem máscara, sem capacete e sem escrúpulos, que se juntou para enaltecer o ídolo, desrespeitando totalmente as restrições sanitárias, e voltar a pedir uma intervenção militar. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, militar da ativa, estava lá cometendo uma ilegalidade ao participar de um ato político.

É claro que como sempre acontece nas manifestações bolsonaristas, a maior parte do público era uma claque. Numa estimativa conservadora, metade dos participantes da carreata era militar da ativa e da reserva, futuros militares, policiais, ex-policiais e motoboys reacionários, alguns pilotando motos de baixa cilindrada para dar um toque popular ao evento. O que mais se viam era máquinas potentes como Harley-Davidson, BMW ou a Honda NC 750X do presidente, um brinquedo de R$ 40 mil. De um modo geral, carreatas são manifestações elitistas, que já excluem quem não tem carro ou moto, mas em se tratando de atos pró-Bolsonaro há também o componente do escárnio. Não se trata só de banir os pobres do caminho, indicando que só gente motorizada pode fazer política, mas de tripudiar com a pandemia e a miséria e criar um clima de polarização desnecessário. Além disso, Bolsonaro engana. Seu público é vitaminado artificialmente.

Com suas motos potentes, os seguidores de Bolsonaro seguem um caminho tortuoso que leva a lugar algum e tem como único objetivo fustigar a democracia. Como não tem um verdadeiro apoio popular, Bolsonaro tem que criar factóides políticos que mostrem seu prestígio junto a subgrupos sociais, como os motoqueiros, caminhoneiros, donos de churrascaria ou vendedores de pedras semipreciosas. É uma marcha insensata em direção a um projeto niilista que despreza a saúde pública, a vontade do cidadão comum, as regras de cidadania e faz chacota com as medidas de controle contra o coronavírus. Bolsonaro quer impressionar o sofrido brasileiro, oprimido por uma crise sem precedentes, com sua máquina possante, suas roupas de motoqueiro e seus seguidores mal-encarados, que mais parecem forças de segurança do que manifestantes espontâneos. O que o presidente faz todo fim de semana é encontrar um jeito para espezinhar os brasileiros, Para ele, andar de moto pelas ruas do Rio é só uma forma de dizer: “Não estou nem aí para vocês, quero que o povo se exploda”.