O aumento da riqueza global, principalmente nos mercados emergentes, trouxe um problema inédito para as marcas de relógios de luxo. Rolex, Patek Phillippe e Audemars Piguet encontram-se hoje em uma posição delicada: há mais pessoas querendo comprar e poucos produtos para vender, por causa de meses de interrupção na fabricação durante a pandemia. A Rolex, por exemplo, parou a fábrica por seis semanas e isso afetou a sua escala e adiou lançamentos. A Patek Phillippe reduziu sua produção em 30%. Dependendo do modelo, é preciso esperar até um ano para que a peça fique pronta, isso se ela for encomendada com muita antecedência, já que as edições lançadas possuem número limitado de unidades. Mesmo a atuação de revendedores não é suficiente para atender a demanda e quando os originais são oferecidos em marketplaces mundo afora, o preço chega a ser mais de dez vezes o seu valor em loja. Mas não faltam novos milionários para comprá-los.

“Quem quer ver as horas olha o celular, relógio é muito mais do que isso” D. C., empresário

A escassez de relógios de luxo preocupa consumidores e colecionadores. Um dos principais colecionadores do País, o empresário D.C, que prefere não se identificar, diz que no momento não está valendo a pena ir às compras por causa da atípica alta de preços e da dificuldade em encontrar os novos modelos. Para ele, o mercado ficou ainda mais exclusivo. Ele tem uma frase que define seu apreço por relógios de luxo: “Quem quer ver as horas, olha no celular, relógio é muito mais do isso”. Aos 67 anos, ele conta que começou a gostar de relógios por prescrição médica, ainda na década de 1990. Como seu trabalho é muito desgastante, ele precisava relaxar. E foi assim que começou a comprar relógios mecânicos em feiras, passou a desmontá-los e procurar peças com relojoeiros até que caiu no mundo das máquinas suíças. Colecionadores como D.C desprezam relógios digitais.

“Para mim, o detalhe das peças é o mais importante, a precisão, a máquina em si”, afirma. E quando o assunto é preço o céu é o limite, mas entre colecionadores, marcadores de horas cravejados de diamantes deixam de ser um relógio e tornam-se uma jóia, perdendo apelo tecnológico. “A Bvlgari vende relógios, mas não é uma relojoaria, o mesmo acontece com a Tiffany e com a Cartier. Já a Rolex só vende relógios”, explica com certo orgulho. Para ele, a Rolex não é só “status”, pois quando você aprende sobre precisão e manufatura, é impossível resistir ao prestígio dos relógios mais famosos do mundo. Aliás, as marcas que impulsionam a maior parte das coleções de alta qualidade são de empresas familiares que mantêm seus baixos números de produção, apesar da grande demanda, a fim de preservar sua qualidade e exclusividade históricas. Mas a pandemia complicou essa equação. De acordo com um relatório da Morgan Stanley, a Rolex vendeu 810 mil relógios em 2020, enquanto a Patek vendeu 53 mil, a Audemars, 40 mil e Richard Mille, a menor entre elas, vendeu 4,3 mil unidades.

Para se ter uma ideia de preço, um Rolex “comum” custa, no Brasil, a partir de R$ 34 mil. Mas os preços podem tranquilamente chegar à casa dos milhões — pois são verdadeiras obras de arte. Em 2017, o Rolex Daytona usado pelo ator norte americano Paul Newman foi vendido por US$ 17,8 milhões, um recorde para um relógio de pulso em leilão.