Eles tiveram o castigo merecido. Roubaram achados arqueológicos de Pompeia e condenaram suas vidas ao permanente infortúnio. Uma matéria publicada em outubro pelo jornal italiano La Repubblica relata a devolução por três turistas canadenses, uma mulher e um casal, de objetos que haviam furtado quinze anos atrás: dois mosaicos, uma peça de cerâmica e pedaços de um ânfora. O material chegou em um pacote junto com duas cartas carregadas de arrependimento e foi deixado, anonimamente, sobre a mesa do dono de uma agência de viagens da região, que o entregou para um guarda responsável pela vigilância do parque histórico. Nas cartas, as pessoas contam que entraram em uma onda de azar depois que levaram as antiguidades para suas casas. Elas começaram a acreditar que aqueles que saqueiam Pompeia ou a vizinha Herculano, cidades destruídas pela erupção do vulcão Vesuvio, em 79 d.C, caem numa espécie de maldição. A tragédia teria matado entre 15 mil e 20 mil pessoas. Com a devolução do butim, os ladrões esperam ser perdoados.

SUVENIRES Há turistas que não se satisfazem com uma viagem se não voltarem com uma peça furtada para casa (Crédito:Divulgação)

A primeira carta é de uma mulher, identificada como Nicole, que lamenta profundamente ter cometido o furto. Ela conta que sua vida passou a ser marcada somente por eventos negativos depois que ficou com as peças. Decidiu mandar os objetos de volta à Itália para se livrar da maldição. “Peguei alguns pedaços de cerâmica quando visitei Pompéia em 2005. Era jovem e estúpida. Queria ter um pedaço da história que ninguém poderia ter. E não pensei ou percebi o que estava pegando”, disse, em tom confessional. “Peguei um pedaço da história que se cristalizou ao longo do tempo e tem enorme energia negativa. Pessoas morreram de forma horrível e peguei peças relacionadas a essa terra de destruição”. A mulher, de 36 anos, disse que teve câncer de mama duas vezes e da última vez passou por uma mastectomia dupla. Nicole afirmou também que ela e sua família começaram a ter problemas financeiros depois do roubo. “A mulher pediu perdão aos deuses e disse que pretende voltar, em algum momento, para a Itália, para se desculpar pessoalmente pelo seu ato.

 

Prática frequente

A outra carta do pacote, assinada pelo casal Alastain e Kimberly G, também do Canadá, contem outro pedido de desculpas. “Olá, eu devolvo essas pedras que minha esposa e eu pegamos enquanto visitávamos Pompéia e o Monte Vesúvio em 2005”, afirmou Alastain. “Nós as pegamos sem pensar na dor e no sofrimento que essas pobres almas experimentaram durante a erupção do vulcão e a terrível morte que tiveram. Pedimos desculpas pela escolha terrível. Que suas almas descansem em paz”, declarou Alastain. Não é a primeira vez que ladrões de antiguidades de Pompeia se arrependem e devolvem objetos roubados. Na verdade, cartas de desculpas dirigidas ao diretor de Bens Culturais da cidade romana são rotineiras, chegam de vários países e normalmente veem acompanhadas de pedaços de pedra ou de terra.

O diretor do parque arqueológico, Massimo Osanna, já pensou, inclusive, em fazer uma exposição só com peças roubadas nas escavações e devolvidas. “Há anos recebemos cartas de todos os cantos do globo e os turistas nos devolvem fragmentos de monumentos e colunas”, disse. “O problema é descobrir de qual decoração, casa ou fonte as peças foram roubadas”. Embora haja um controle permanente dos visitantes de Pompeia, os funcionários do parque não conseguem evitar todos os furtos, que são constantes. Há um tipo de turista que não se satisfaz com uma viagem se não voltar com algum “suvenir” para casa. Já houve até uma tentativa de vender um tijolo de Pompeia no eBay por US$ 100. Mas quem brinca com isso pode se dar mal. De uma hora para outra uma maldição pode cair sobre sua cabeça.