“Nós, mães de soldados, não dormimos há dois anos”, disse Ayelet-Hashakhar Saidof, advogada de 48 anos que fundou o movimento “Mães no Front” em Israel para “defender nossos filhos”.
Presente semanalmente no Parlamento e nas ruas de Israel, Saidof, que tem um de seus três filhos no Exército, explica por que criou esse movimento, que, segundo ela, reúne 70 mil mães de recrutas e reservistas.
Seu principal objetivo: garantir que todos cumpram o serviço militar, conforme exigido pela lei israelense, embora milhares de judeus ultraortodoxos se beneficiem de isenções.
O tratamento especial gera ressentimento na sociedade israelense, especialmente no contexto da guerra contra o Hamas em Gaza, que eclodiu com o ataque do movimento islamista em 7 de outubro de 2023.
“Vemos jovens de 20 anos, completamente perdidos, destruídos, exaustos, que retornarão com feridas psicológicas que a sociedade não saberá como tratar, como bombas-relógio em nossas ruas, propensos à violência, a acessos de raiva e explosões de fúria”, lamentou.
– “Não temos medo de nada” –
Segundo o Exército, 23 soldados israelenses morreram no último mês na guerra, cada vez mais questionada pela sociedade israelense.
O número total de mortos desde o início da ofensiva em 27 de outubro de 2023 é de 450 soldados.
“Todos que morreram nos últimos quatro meses foram vítimas de bombas no caminho ou de acidentes operacionais. Ninguém caiu em combate”, lamentou.
Uma das faixas do movimento apresenta seu lema mais recente: “Os soldados estão caindo, e o governo está de pé”.
“Mães no Front” não é o único grupo de mães que pede o fim da guerra, nem está relacionado a uma corrente política, afirmou.
“Não temos medo de nada, nem dos generais, nem dos rabinos, nem dos políticos”, afirmou.
– “Guerras inúteis” –
Naquela manhã, apenas quatro mulheres se reuniram em frente à casa do chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir. Mas a mensagem era clara: devem proteger melhor seus filhos.
“Estamos aqui para pedir que preservem a vida de nossos filhos, que confiamos a vocês, para que assumam sua responsabilidade”, declara Rotem Sivan-Hoffman, médica e mãe de dois soldados. Ela é uma das líderes do movimento Ima Era (Mãe Desperta). Seu lema: “Não tivemos filhos para guerras inúteis”.
“Há vários meses, sentimos que esta guerra deveria ter terminado (…) Nada foi feito para encerrá-la, devolver os reféns, retirar o Exército de Gaza ou alcançar acordos”, denuncia.
Ao seu lado, Orit Wolkin, também com um filho na linha de frente, não escondia sua preocupação. “Nos momentos em que ele volta do combate, que aguardo com expectativa, fico feliz. Mas meu coração não se alegra por completo porque sei que partirá novamente”, diz.
Alguns partem para sempre. No funeral de Yuli Faktor, um soldado de 19 anos morto em Gaza com dois companheiros, sua mãe fala em russo diante do caixão, coberto com a bandeira israelense.
“Quero te segurar em meus braços, sinto sua falta. Por favor, me perdoe. Cuide de nós onde quer que esteja”, lamenta entre soluços.